Retrospetiva à obra da cineasta francesa Ariel de Bigault começou ontem na Cinemateca Portuguesa

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Entre os dias 19 e 24 de setembro, a Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, dedica uma retrospetiva à obra da cineasta francesa Ariel de Bigault. Profunda conhecedora da história e da cultura portuguesas, Ariel de Bigault tem levado a cabo uma das mais consistentes e empenhadas indagações cinematográficas sobre a história que liga Portugal ao resto do mundo lusófono.

A realizadora filmou quase todos os seus filmes em países de língua portuguesa. Este ciclo apresentado pela Cinemateca Portuguesa mostra quase todas as suas obras, no Brasil, Portugal, Cabo Verde e Angola, a maioria das quais se concentra nas dinâmicas culturais e sociais entre as margens e o centro destes países.

Exemplo disso é o seu mais recente filme “Fantasmas do Império” (2020, 111 min), que foi projetado ontem, narrativa que se propõe despertar velhos fantasmas do passado colonialista no coração do imaginário coletivo português a partir das imagens do cinema feito em Portugal.

Este foi o filme escolhido para a abertura do ciclo intitulado “Margens Atlânticas”, integrado no programa da Temporada França Portugal 2022 e que conta com a presença da realizadora em todas as sessões.

Esta noite, na Sala Luís de Pina, vão ser apresentados os filmes “Cariocas, les musiciens de la ville” (1987, 58 min) e “Paulo Moura, une infinie musique” (1987, 56 min). Dois filmes realizados no Brasil numa produção multinacional chefiada por Ariel de Bigault, intitulada Éclats Noirs du Samba”, numa época em que os documentários sobre músicos ainda não estavam na moda, tão-pouco sobre artistas afro-brasileiros.

Na quarta-feira 21 de setembro, também na Sala Luís de Pina, vão ser projetados os filmes “Gilberto Gil, La Passion Sereine” (1987, 57 min) e “Zézé Motta, La Femme Enchantée” (1987, 56 min). Dois filmes realizados no Brasil, com a participação de Grande Otelo. Zézé Motta, a inesquecível “Chica da Silva”, é uma das mais audaciosas atrizes e cantoras brasileiras, contando com Gilberto Gil e Chico Buarque no seu reportório musical. Ariel de Bigault transforma-a num ícone feminista contra o racismo: o que se espera da mulher negra no Brasil contemporâneo e como é ela representada, na música, no cinema e nas novelas?”.

Na quinta-feira vão ser projetados os filmes “Eduardo e Fernando” (1981, 45 min) e “Estão a ver-nos?” (1982, 60 min), obras raríssimas, filmadas em 16 mm, documentários produzidos com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, que incidem no mundo da infância: “Eduardo e Fernando” documenta as brincadeiras e o mundo de duas crianças com síndrome de Down, ao passo que “Estão a ver-nos?” mostra os sonhos de uma criança cega, que tem expetativas e que deseja brincar como qualquer outra criança.

Finalmente, na sexta-feira 23 de setembro, vão ser projetados os filmes “Si Manera” (1990, 4 min), “Fea” (1990, 4 min), “Madredeus, La Sirène du Tage” (2005, 15 min), “Tito Paris” (2022, 12 min) e “Canta Angola” (2000, 59 min). Verdadeira cicerone da música cabo-verdiana e angolana sobretudo em França, Ariel de Bigault documenta em “Canta Angola” a paisagem musical de Angola, através de alguns dos seus artistas mais talentosos, tais como Carlos Burity, Moisés Kalafa, Loures Van Dunem, Paulo Flores e Carlitos Vieira Dias. A música como arma contra a destruição da guerra, a violência e a pobreza reinantes. Face a tudo isto, os angolanos cantam e dançam – festejam, apesar de tudo, e Ariel de Bigault testemunha o seu exemplo. A ligação à música africana está também patente nesta sessão em videoclipes realizados pela cineasta francesa com artistas ligados à cultura negra: a banda cabo-verdiana Finaçon, o músico cabo-verdiano Tito Paris e a banda portuguesa Madredeus.

Aquando da passagem de “Fantasmas do Império”, em 2020, na Cinemateca Portuguesa, Ariel de Bigault explicitou deste modo o que constitui para si o espaço do documentário: “O filme é um espaço de encontro e de diálogo de obras, de pessoas, de criadores. Todos os meus filmes são muito diferentes na forma, mas não têm comentário, porque é o meu olhar, não é um ponto de vista. O meu olhar abrange vários olhares. (…) Através desses diálogos, o espetador pode criar o seu ponto de vista”.

No último dia da retrospetiva, às 18h00, na esplanada da Cinemateca, a realizadora participa no debate “Das Margens para o Foco”, uma conversa com Ariel de Bigault, Ângelo Torres e outros participantes sobre a presença e a visibilidade – no teatro, televisão e no cinema em Portugal – dos atores, guionistas, encenadores e realizadores originários das ex-colónias portuguesas.

 

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LusoJornal