LusoJornal / Cristina Branco

Reunião do Bloco de Esquerda Europa em Paris: Cristina Semblano não quer ser Cabeça de lista nas Legislativas

O Bloco de Esquerda França organizou em Gentilly, na região parisiense, uma reunião europeia com os diferentes representantes do partido na Europa. Provenientes do Luxemburgo, da Suíça, da Alemanha, da França, bem como do Reino Unido apesar do futuro ‘Brexit’, as duas dezenas de participantes estiveram durante toda uma tarde a debater e a abordar temas diversos. As problemáticas encontradas em Portugal foram abordadas, no entanto cada representante também fez um balanço «interno» sobre o país de residência.

Este encontro também ajudou para falar das eleições Europeias que estão à porta e das eleições Legislativas portuguesas que estão cada vez mais próximas, sendo que nesta última eleição o Bloco de Esquerda vai concorrer novamente com uma lista para o círculo eleitoral da Europa.

Para o LusoJornal, Cristina Semblano, do atual Secretariado França e Europa do BE e também membro da Mesa Nacional do Partido, assumiu que não deseja voltar a ser Cabeça de lista pela emigração da Europa e começou por abordar o papel do Bloco de Esquerda em França, organizador do evento, e a importância da reunião do Núcleo Europa do Partido.

 

O que representa esta reunião?

Cristina Semblano: O intuito da reunião era juntar os militantes do Bloco de Esquerda espalhados pelos diferentes países da Europa com vista a fazer o balanço da atual legislatura, o balanço global como o balanço em matéria de emigração, ou seja das diversas conquistas que foram alcançadas para a emigração (de que se destacam o recenseamento automático e o voto gratuito), por um lado; por outro lado, tratava-se de uma oportunidade para os participantes dos diversos países de falar das problemáticas que encontram nos respetivos países, não só em relação aos emigrantes portugueses mas também em relação aos países onde vivem e às lutas que lá se travam. Este encontro vai deste modo permitir estreitar os laços daqueles que integram o Bloco de Esquerda pela Europa fora, e consolidar a atividade do Partido neste continente.

 

O BE França tem sido uma presença assídua junto da Comunidade portuguesa?

O Bloco de Esquerda implantou-se em França quase desde a criação do Partido. É normal que ele seja essa presença assídua junto da emigração portuguesa, já que o BE faz política para as pessoas e, neste caso para os emigrantes que acompanha nas suas lutas e na tentativa de encontrar soluções aos seus problemas. Estivemos na luta com os emigrantes contra o fecho dos Consulados, estivemos ao lado deles, e continuamos ao lado dos emigrantes lesados do BES, fomos presença ativa e solidária na greve de dois meses e meio da Caixa Geral de Depósitos para lutar contra a sua privatização em França que estava prevista no plano de restruturação acordado entre as autoridades portuguesas e Bruxelas. Acho que a política é isto, estarmos junto das pessoas, e não fazermos política por lugares. Somos militantes, temos o nosso trabalho, as nossas vidas pessoais, e damos tempo dessa nossa vida pessoal, familiar, dos nossos lazeres, para militar. Militamos pelas pessoas e não por lugares. A emigração é o parente pobre da política portuguesa, os emigrantes foram sempre abandonados e esquecidos. Isso aplica-se a todos os quadrantes da política portuguesa de uma forma geral. Os emigrantes têm de lutar contra isso porque somos Portugueses como os outros Portugueses. A maior parte dos Portugueses foram obrigados a emigrar por razões socioeconómicas, à procura de melhores condições de vida. Na década de 60, durante a Troika, Portugal sempre tem vindo a expulsar do país, os seus filhos. Temos de afirmar que somos Portugueses e que queremos ser tratados como tal. Temos de levar os problemas dos Portugueses ao nosso Partido para que sejam debatidos na Assembleia da República, e/ou deem lugar a interpelações junto do Governo. Mas, como vivemos aqui, somos também parte integrante nas lutas que se desenvolvem cá fora. Neste momento temos o Movimento dos Coletes Amarelos em França, que é a expressão de um profundo mal-estar social e nós não podemos viver num país sem ser uma voz ativa nas lutas que aí se travam. O que é verdade para a França, é-o também para os outros países onde vivem e trabalham Portugueses.

 

Nas próximas Legislativas, haverá uma lista para o círculo europeu, a Cristina vai ser Cabeça de lista?

A representação dos Portugueses é muito pequena fora de Portugal, é por isso que os Partidos não se focam da forma que seria desejável na emigração. Nos Partidos há uma lógica política e uma lógica eleitoral. Na lógica eleitoral há dois Deputados pelo círculo da Europa e dois pelo resto do mundo. É evidente que os esforços sejam direcionados para a eleição de Deputados em Portugal e não pelo resto do mundo. Em relação às listas, vamos abordar o assunto de forma democrática, propondo uma lista (ou listas) à votação. O certo é que no Bloco de Esquerda há uma paridade de 50% a respeitar e não de 40% como o exige a Lei; isso torna-se por vezes complicado numa lista onde há apenas dois titulares e dois suplentes. A lista vai ser divulgada mais tarde, mas posso anunciar, desde já, que não desejo, não quero, ser Cabeça de lista. Sacrifiquei muito da minha vida pessoal, familiar, de lazer, ao Bloco de Esquerda desde 2000. Por outro lado, acho que é necessário haver uma renovação, primeiro a nível de género, porque tenho sido sistematicamente candidata desde os anos 2000. Não é obrigatório ser sempre uma mulher à frente, também pode ser um homem, e também é necessário haver uma renovação ao nível da idade. Os jovens devem passar para a frente; não me vou retirar de forma alguma do Bloco, continuarei ativa em França e na Europa, continuarei na Mesa Nacional para onde fui de novo eleita na última Convenção do Bloco de Esquerda, mas não me candidato para ser novamente Cabeça de lista pelo círculo da Europa pelo BE, isso está fora de questão.

 

Luís Fazenda,orgulhoso com a evolução do Bloco de Esquerda

 

A reunião do Núcleo Europa do Bloco de Esquerda contou com a presença de Pedro Filipe Soares, líder da bancada parlamentar, e de Luís Fazenda, cofundador do Bloco de Esquerda e ex-Deputado.

Para o LusoJornal, Luís Fazenda, agora com 61 anos, abordou a aliança com a ‘France Insoumise’, mas começou por falar do orgulho que sente pela evolução do Partido.

 

Como cofundador do partido, qual é a sua opinião sobre a evolução que teve ao longo dos anos?

Sinto-me entusiasmado. Tivemos um percurso de crescimento, nem sempre linear, mas de crescimento e de alargamento na sociedade portuguesa. Somos o terceiro Partido e isso ao fim de 20 anos. Significa que é uma marca cultural, uma marca geracional, que abriu novos caminhos na Esquerda portuguesa. Tem capacidade de progressão, tem capacidade de conquistar mais apoio, confiança, inteligência na sociedade portuguesa para dar a volta a um sistema que nós consideramos que está bloqueado, atrasado, estrangulado economicamente, e móvel do ponto de vista social, e em precarização contínua dos vínculos laborais, das condições sociais. Como tal, o Bloco de Esquerda é esse símbolo, essa ponta de lança para uma alteração mais profunda na sociedade portuguesa.

 

O Bloco de Esquerda também tem sido um Partido com mulheres a dar a cara…

O Bloco de Esquerda é um partido feminista desde a sua criação. Tem atualmente um conjunto de mulheres que lhe dão uma identidade muito forte na liderança do Partido. Mas nós privilegiamos o equilíbrio de género. A Coordenadora é uma mulher, o Líder parlamentar é um homem. Vamos encontrando aqui formas de equilibrar as várias representações sociais e de género no Partido.

 

França é um ponto estratégico para o BE?

A França e a Europa estiveram presente na iniciativa em Paris, onde está afixado o núcleo Europa do Bloco de Esquerda. É um lugar fácil de encontro para todos aqueles que vêm de vários lados. Nós privilegiamos sempre o encontro em Paris.

 

O BE alargou as afinidades com a França através uma aliança com o partido francês ‘France Insoumise’, é importante esse tipo de alianças? Os Partidos são iguais, têm as mesmas ideias?

Temos um conjunto de acordos com vários Partidos europeus, de vários países da Europa. Em França é com a ‘France Insoumise’, aliás o Jean-Luc Mélenchon esteve em Lisboa. Há essa colaboração. São Partidos diferentes, com histórias diferentes, os programas são parecidos, próximos, mas conseguimos fazer uma luta em conjunto. O Bloco de Esquerda é mais antigo e é relativamente diferente da ‘France Insoumise’, mas há experiências muito diversas em vários países europeus. O que é importante é juntar as várias experiências de cada Partido e dos vários países europeus.

 

 

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