Salva portuguesa do século XVI premiada na Bienal de Paris

Uma salva portuguesa de cobre esmaltado e dourado do século XVI com armas reais, apresentada pela Galeria São Roque, ganhou o prémio de “Objeto de Exceção” da Bienal de Paris, uma das mais conhecidas feiras de antiquários do mundo.

O ‘Prix de La Commission Biennale de Paris 2018 de l’Objet d’Exception’ foi recebido com “um grande orgulho e uma grande vitória”, disse à Lusa Mário Roque, Diretor da São Roque Antiguidades e Galeria de Arte, de Lisboa, a única galeria portuguesa presente na bienal parisiense. “Tem sido um sucesso e foi um sucesso de tal maneira que obtivemos o prémio da melhor peça da bienal deste ano. É uma salva do século XVI em esmalte com as armas reais portuguesas. Nunca na história da arte portuguesa houve uma peça nossa e que tenha a ver com a nossa história que vá para uma feira internacional e que tenha sido premiada. Eu acho que para a arte portuguesa é uma grande vitória”, afirmou.

Esta é a segunda vez que a galeria São Roque participa na Bienal de Paris, que decorreu no Grand Palais até 16 de setembro.

No ‘stand’ da galeria, entre as cerca de 70 peças de arte portuguesa dos séculos XVI e XVII ligada à expansão marítima estão, por exemplo, um cofre indo-português de Guzerate, em madrepérola, tartaruga e montagens de prata, uma caixa de marfim e prata sino-portuguesa e uma caixa do Pegu com um verso da carta de Ceuta de Camões, todas do século XVI.

No ano passado, a galeria lisboeta já tinha apresentado cerca de 70 peças e este ano decidiu fazer a mesma aposta face ao “sucesso e entusiasmo” da edição anterior em que foi considerada “dos melhores ‘stands’ pela comunicação social” e despertou o interesse para “uma arte que é talvez um bocadinho desconhecida” em França.

Este ano, a arte da expansão portuguesa começa a ser mais conhecida, uma “vitória” para Mário Roque que destaca que a sua participação não tem um objetivo “só comercial” porque a aposta é “divulgar a arte portuguesa”.

“Tem sido uma grande vitória e um grande orgulho para nós. É que os franceses, pela primeira vez, começam a reconhecer a arte portuguesa”, acrescentou, sublinhando que a contribuir para esse reconhecimento esteve o catálogo que editou, no ano passado, para a bienal, com quase 400 páginas sobre a história da arte portuguesa do século XV ao século XVIII, ilustrado com obras que estiveram em exposição.

Este ano, a galeria voltou a editar um catálogo com cerca de 100 peças – 70 das quais em exposição – e que foi intitulado “Portugal, O Primeiro Império Global”, no qual é ilustrada a história das Descobertas e se argumenta que Portugal “foi o primeiro império a fazer a globalização do mundo todo”.

Mário Roque editou, ainda, o livro “Lisboa na Origem da Chinoiserie. A Faiança Portuguesa do Século XVII”, sobre a coleção de faianças da sua galeria, porque estas peças portuguesas “foram as primeiras ‘chinoiseries’ na Europa”, algo que “até em Portugal a maior parte das pessoas não sabe”.

“As ‘chinoiserie’s são os objetos que são feitos na Europa com motivos chineses. Nós tínhamos o gosto por tudo o que vinha do Oriente e os nossos oleiros começaram a fazer, baseados nos desenhos chineses, as suas peças. O sucesso foi tanto que começaram a exportar para toda a Europa. A maior parte dessas faianças chegavam a Hamburgo e depois eram distribuídas pela Europa”, contou o galerista.

O galerista acrescentou que tem batalhado por este reconhecimento, para o qual diz ter contribuído a exposição que fez, há dois anos, na Galeria Mendes, em Paris, intitulada “Un siècle en blanc et bleu – Les arts du feu dans le Portugal du XVIIe siècle”.

Em março, a galeria vai apresentar “sete a oito peças” de faiança portuguesa numa exposição sobre porcelana chinesa dessa época no Musée Guimet, em Paris.

Os catálogos “Portugal, O Primeiro Império Global” e “Lisboa na Origem da Chinoiserie. A Faiança Portuguesa do Século XVII” foram apresentados na Embaixada de Portugal, em Paris, na quinta-feira da semana passada.

 

 

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