Saúde: Alergia aos Ácaros_LusoJornal·Saúde·12 Abril, 2023 [pro_ad_display_adzone id=”37510″] Os ácaros são animais microscópicos, ou seja, não são visíveis ao olho humano, são artrópodes e pertencem à família dos aracnídeos. São muito diversos e existem de forma abundante na natureza e de forma universal nas nossas habitações. Foram identificadas cerca de 50.000 espécies de ácaros, mas estima-se que existam muitas mais. Alimentam-se principalmente de detritos de pele humana e dos animais domésticos e outros produtos orgânicos, por este motivo são mais frequentemente encontrados nos colchões, almofadas, cobertores e cobertas de cama, mantas, o que explica que os sintomas de alergia agravem à noite, mas também em alcatifas, sofás, tapetes ou cortinas espessas. Os ácaros de armazenamento são encontrados mais frequentemente em despensas/cozinha, arrecadações ou armazéns. Vivem apenas algumas semanas, mas reproduzem-se rapidamente em condições favoráveis de calor e humidade. Embora os ácaros estejam presentes durante todo o ano, existem em maior quantidade durante o fim do verão e outono, ou seja, ambientes aquecidos e menos arejados. A baixa altitude e proximidade a zonas marítimas e/ou fluviais são fatores que também resultam em concentrações mais elevadas, e ainda maiores se houver presença de fungos. Deixam de ter condições de viabilidade quando o ar é demasiado seco ou a temperatura elevada (60º). Porque causam alergia? A alergia é uma reação exagerada do sistema imunitário a uma substância que designamos alergénio (ácaros, pólenes, pelos de animais alimentos…). Os alergénios dos ácaros encontram-se nos resíduos fecais dos mesmos e nas partículas do seu exosqueleto. A alergia é provocada pelo contacto do alergénio com as vias respiratórias, olhos, pele, mucosas do tubo digestivo. Quais os sintomas de alergia aos ácaros? A alergia a ácaros pode aparecer em qualquer idade e a sua duração é variável. Habitualmente os sintomas são sobretudo do foro respiratório, são piores durante o outono, mas vão se instalando progressivamente durante todo o ano. Os sintomas mais frequentes podem ser simultâneos ou sucessivamente: Conjuntivite alérgica – comichão, ardor, lacrimejo, olhos vermelhos Rinite alérgica – corrimento nasal, espirros constantes e consecutivos, comichão no nariz, obstrução nasal Asma Brônquica alérgica – episódios de falta de ar, pieira/chiadeira no peito, tosse ou sensação de aperto no peito, que pioram muitas vezes de noite com o exercício físico ou riso à gargalhada Dermatite atópica – lesões avermelhadas sobretudo na zona das pregas do cotovelo e atrás dos joelhos, pele seca que origina muita comichão. Quais as complicações? A alergia aos ácaros aumenta a possibilidade de desenvolver alergia a mariscos, através de um fenómeno designado por reatividade cruzada, uma vez que partilham um alergénio – a proteína tropomiosina. A alergia aos ácaros pode causar as doenças previamente mencionadas e contribuir para a gravidade e não controlo das mesmas. O risco é maior nos indivíduos com história familiar de alergia, história pessoal de dermatite na infância e passa mais tempo em ambiente fechados. Muito raramente os ácaros podem causar anafilaxia, pela contaminação de alimentos utilizados na confeção de doces ou bolos, como farinhas. Como se diagnostica? Como em qualquer outra situação é através da entrevista médica, durante a consulta, interrogando sobre os sintomas, a sua história clinica, as suas condições de vida (ambiente, hábitos), e através do exame médico, que este analisa e determina a possibilidade de se tratar de uma doença alérgica e decide quais os exames a efetuar. Os exames complementares de diagnóstico mais utilizados são: – Teste Cutâneo por Picada (Prick Test): realizado por especialista, é simples, rápido (resultado em cerca de 15 minutos), barato e eficaz na deteção daquilo que causa alergia. – Análises de sangue: ajudam a identificar e confirmar o diagnóstico. São também muito importantes nos doentes que não têm indicação para realizar os testes cutâneos, como doentes com doenças crónicas da pele ou sob efeito de fármacos anti-histamínicos. Como prevenir ou eliminar os ácaros? Não é possível eliminar de forma permanente os ácaros. Contudo, é possível diminuir a quantidade/concentração a que estamos expostos. É recomendado seguir algumas medidas de evicção que têm por objetivo impedir a proliferação dos ácaros, contribuindo para a melhoria dos sintomas de alergia e melhores resultados do tratamento recomendado. Estas medidas devem ser mantidas de forma rigorosa e contínua e sempre que possível utilizadas em conjunto, pois o seu abandono gradual ou descuidado pode causar um agravamento dos sintomas. Medidas de evicção: Controlo da ventilação, temperatura e humidade interior Controlar a humidade relativa do ar da casa, de modo a que a mesma se mantenha abaixo dos 50%. Os aparelhos de ar condicionado são a forma mais eficaz, mas deverá ser efetuada uma limpeza regular dos filtros. Os desumidificadores podem ser úteis em algumas situações. Evitar aquecimento excessivo da casa ou a utilização de ventoinhas que promovem um movimento nocivo de partículas no ar ambiente. Arejar as camas e os quartos durante a manhã, sobretudo quando o tempo está frio e seco, todos os dias durante 15 minutos. É fundamental o arejamento da casa com exposição ao sol, tantas vezes quanto possível, pois as radiações ultravioletas e a diminuição da humidade reduzem a sobrevivência dos ácaros. Mudar e vigiar as roupas de cama: O colchão é a principal fonte de ácaros do pó da casa (10 milhões de ácaros vivem no colchão), a sua aspiração frequente (pelo menos 2x semana) deve ser uma medida de rotina. Evitar os colchões com material de enchimento natural. Preferir edredões e almofadas de fibras sintéticas que devem ser substituídos periodicamente (3 em 3 anos). Evitar cobertores, mantas e lençóis / fronhas de flanela ou polares. Optar por lençóis / fronhas de tecido de algodão que tal como os edredons devem ser lavados regularmente e à temperatura de 60ºC. Mudar regularmente os lençóis. Utilizar coberturas específicas antialérgicas para colchão e almofada. Limpar as superfícies e os objetos de “risco”: Optar por superfícies facilmente laváveis, mobiliário simples e reduzido ao indispensável. Remover objetos como brinquedos e peluches, livros, televisores, computadores, entre outros do quarto de dormir. Como alternativa poderá colocar as roupas de lã, cobertores ou peluches durante 24 horas no congelador ou arca frigorífica e de seguida lavar com água corrente ou na máquina de lavar. Não guardar roupa húmida no armário e mantê-lo fechado. Não utilizar diretamente a roupa que esteve guardada muito tempo. Utilizar máscara durante as limpezas. O pó deve ser limpo com pano húmido e sem varrer. É essencial a aspiração frequente da casa (pelo menos 2 vezes por semana), particularmente do quarto e colchão. De preferência com aspirador provido de filtro HEPA (High Efficiency Particulate Arrestance) os quais têm demonstrado redução da concentração de ácaros, fungos e alergénios de animais domésticos. Na sua ausência deve ser utilizada a esfregona. Remover animais domésticos ou confiná-los a áreas restritas da habitação. Nunca permitir a sua presença no quarto. Reduzir o armazenamento prolongado em despensas, arrecadações, sótãos ou arrumos de alimentos como cereais, frutas, batatas e outros vegetais. Evitar a utilização de irritantes inalados como sprays, produtos de limpeza muito clorados, amoniacais ou com fortes odores, aerossóis e fumo de tabaco. Evitar certos materiais: Evitar alcatifas e tapeçarias. Estas retêm inúmeros alergénios tais como ácaros, fungos, partículas alergénicas de animais e vegetais e a sua superfície inferior condiciona aumento da humidade, favorecendo condições de excelência ao crescimento de ácaros. Preferir pavimento lavável como mosaico, em madeira ou linóleo que permita redução da carga alergénica. Aspirar preferencialmente as carpetes, na sua impossibilidade, bater as carpetes e tapetes ao ar livre. Evitar sofás de tecido e superfícies estofadas. Evitar o papel de parede e cortinas, preferir paredes lisas e pintadas Agentes Químicos – Acaricidas Os acaricidas podem ser uma medida complementar de controlo ambiental, mas não substituem a aspiração regular. Devem ser utilizados depois da aspiração completa e deve ser repetida a aspiração depois da utilização do acaricida. Como tratar? A doença alérgica é crónica e não tem cura. O tratamento farmacológico não se destina a tratar a causa da alergia, mas sim a tratar/aliviar os sinais e sintomas das doenças por ela causadas – rinite, conjuntivite, tosse, asma, etc. Os fármacos mais utilizados são os anti-histamínicos, conhecidos como “anti-alérgicos”, os sprays nasais para o tratamento da rinite, os inaladores para o tratamento da asma. Existe uma opção terapêutica que se destina à alergia, designada – dessensibilização com imunoterapia específica com alergénios (vulgarmente conhecida como “vacina das alergias”), que tem por finalidade reabituar progressivamente o organismo ao alergénio responsável pela doença alérgica, administrando doses crescentes a intervalos aproximados, na fase de iniciação e depois a intervalos regulares na fase de manutenção, diminuindo a sintomatologia que o doente apresenta perante o contacto com o responsável da alergia. Esta terapêutica é habitualmente bem tolerada e pode alterar o curso natural da doença prevenindo a evolução da rinite para a Asma. Tem ainda outros benefícios: suprime ou diminui consideravelmente os sintomas a longo prazo com consequente diminuição do consumo de medicamentos e aumento da qualidade de vida; diminui o aparecimento de novas sensibilizações (novas alergias). Tem uma duração de 3 a 5 anos. Dra. Ana Castro Neves Imunoalergologista Clínica Lusíadas Oriente [pro_ad_display_adzone id=”46664″]