Saúde: Amor à primeira vista


Será que a primeira impressão, baseada na imagem, influencia sempre as relações pessoais/amorosas? Esta é uma dúvida muito comum.

Fomos perguntar a uma psicóloga.

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Sim, a primeira impressão, especialmente baseada na imagem, tem um impacto real nas relações amorosas. O nosso cérebro avalia rapidamente sinais visuais como o rosto, sorriso ou postura numa tentativa inconsciente de perceber compatibilidade e segurança.

Quando a imagem do outro nos surpreende negativamente, sobretudo em aspetos muito visíveis (como o sorriso) pode surgir um bloqueio emocional forte.

No entanto, a atração física inicial não define tudo. Muitas relações fortes começam sem um “clique” imediato. Com o tempo, a conexão emocional, a personalidade e a empatia podem tornar-se mais importantes do que a aparência.

Claro que o primeiro contacto envolve muito mais do que a aparência física. Postura, tom de voz, olhar e linguagem corporal influenciam fortemente a forma como percebemos alguém.

O cérebro capta esses sinais em segundos para avaliar simpatia, confiança e interesse. Assim, mesmo que a aparência agrade, uma postura fechada ou um tom frio pode gerar distância – e o oposto também é verdade.

Essa primeira perceção pode ser alterada ao longo do tempo, à medida que conhecemos melhor a pessoa, através da convivência, da empatia e da partilha emocional, o nosso cérebro vai atualizando essa impressão inicial. Muitas vezes, a personalidade, o humor, a atenção e a ligação emocional acabam por superar o impacto da aparência ou da primeira impressão. Ou seja, aquilo que sentimos no início não é definitivo, as relações têm espaço para crescer, surpreender e mudar.

Muitos questionam se sem a tal química é possível um relacionamento avançar?

Sim, é possível. A chamada “química” aquela atração imediata, ajuda a criar ligação rápida, mas não é condição obrigatória para que um relacionamento cresça. Muitas relações fortes começam de forma morna e vão ganhando profundidade com o tempo, à medida que surge confiança, admiração, cumplicidade e intimidade emocional.

Os padrões culturais e sociais influenciam o valor da primeira impressão ao definirem o que é visto como atrativo ou adequado. Em algumas culturas valoriza-se mais a aparência, noutras o comportamento ou a forma de comunicar. A pressão social e os meios de comunicação reforçam esses critérios, tornando o julgamento inicial mais imediato e condicionado pelo contexto.

Do ponto de vista psicológico, o chamado “amor à primeira vista” é uma experiência emocional real, mas não é ainda amor no sentido profundo.

Trata-se de uma atração intensa e imediata, baseada em sinais visuais, comportamentais ou projeções internas. O cérebro reage com uma descarga de dopamina, criando sensação de encantamento.

No entanto, o amor verdadeiro constrói-se com o tempo, na convivência, intimidade e compromisso. Ou seja, o “amor à primeira vista” pode ser o início de algo significativo, mas não é, por si só, amor duradouro.

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Dra. Carolina de Freitas Nunes

Psicóloga

Diretora da CogniLab, em Cascais