Saúde: Carne vermelha e cancro_LusoJornal·Saúde·18 Agosto, 2025 Nos últimos anos, o consumo de carne – especialmente carnes processadas e carnes vermelhas – tem estado no centro de muitos debates sobre saúde. . Carnes vermelhas e carnes processadas: qual a diferença? Carnes vermelhas: incluem todo o músculo de mamíferos como vaca, porco, cordeiro, cabra, veado ou cavalo. Carnes processadas: são carnes submetidas a processos de transformação como salgar, curar, fumar, fermentar ou outros que potenciem o sabor ou aumentar o tempo de conservação. Exemplos: fiambre, salame, bacon, chouriço, salsichas, patés, entre outros produtos de charcutaria. . O que diz a ciência sobre carne e risco de cancro? A Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), da Organização Mundial de Saúde, classifica: As carnes processadas como carcinogénico do Grupo 1 – há evidência suficiente de que causam cancro em humanos. As carnes vermelhas como carcinogénico do Grupo 2A – há evidência limitada de que podem causar cancro. Vários estudos indicam que uma percentagem significativa dos casos de cancro colorretal pode estar associada ao consumo destes tipos de carne. . De que forma aumentam o risco? Alguns mecanismos associados ao risco incluem: Aditivos químicos como nitritos e nitratos, usados na conservação de carnes processadas, podem reagir e formar compostos cancerígenos no organismo após a ingestão. Métodos de confeção a altas temperaturas, como grelhar ou cozinhar diretamente sobre chamas, promovem a formação de aminas heterocíclicas (AH) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) – substâncias associadas ao desenvolvimento de cancro colorretal em estudos experimentais. . Quais são as recomendações para um consumo seguro? A World Cancer Research Fund recomenda a limitação do consumo destes alimentos entre as duas 10 principais recomendações para a prevenção de cancro: – Consumir quantidades moderadas de carne vermelha até 3 porções por semana, o que corresponde a 350-500 g de carne cozinhada (ou 700-750 g em cru). – Evitar ou limitar ao máximo o consumo de carnes processadas. . Como reduzir o consumo de carne vermelha e processada? Aqui ficam algumas sugestões práticas: – Substitua carnes vermelhas por frango, peru, pescado ou ovo. – Inclua “dias sem carne” ao longo da semana. Experimente proteínas vegetais como feijão, lentilhas, grão-de-bico, tofu ou tempeh. – Reduza as porções habituais: por exemplo, opte por uma fatia de fiambre em vez de duas, ou escolha peças de carne de menor dimensão. – Use especiarias, ervas e plantas aromáticas como pimentão doce (colorau), alho ou cebola como alternativa ao chouriço para dar sabor aos pratos. – Dê destaque aos hortícolas, leguminosas e cereais integrais, tornando-os o centro da refeição. – Inove nos grelhados de verão: cogumelos, pimentos e tomate grelhados são alternativas saborosas ao bacon e às salsichas. – Evite produtos com os termos “curado”, “salgado”, “fumado”, “com nitritos” ou “nitratos” – são indicadores de uma carne processada. . Conclusão: carne causa cancro? A evidência sobre a relação entre o consumo frequente de carnes vermelhas ou processadas e o desenvolvimento de cancro colorretal é sólida. No entanto, não significa que a carne precise ser completamente eliminada da alimentação. A chave está na moderação e na realização de escolhas informadas. Como parte de uma alimentação saudável, equilibrada e variada, dê preferência a alimentos de origem vegetal: fruta, hortícolas, cereais integrais e leguminosas devem ocupar um lugar central na sua alimentação – e são protetores do risco de cancro. . Dra. Patrícia Almeida Oliveira Nutricionista Coordenadora do Serviço Nutrição do Hospital Cruz Vermelha