Saúde : Ficar em casa ou trabalhar fora


O termo “stay-at-home mom” está na moda e refere-se a uma mãe que opta por ficar em casa a cuidar dos seus filhos a tempo inteiro, em oposição de trabalhar fora de casa de forma remunerada. A escolha de ser mãe a tempo inteiro pode ser influenciada por uma variedade de fatores, como preferências individuais, valores familiares, necessidades das próprias crianças bem como de circunstâncias financeiras. Enquanto algumas mães optam por permanecer em casa durante os primeiros anos de vida dos filhos, outras podem fazê-lo por um período mais longo, dependendo das necessidades da família.

O papel de uma “stay-at-home mom” envolve uma ampla gama de responsabilidades, incluindo cuidados com os filhos, gestão da casa e apoio emocional à família. Estas mães frequentemente desempenham um papel central na vida familiar, fornecendo suporte emocional e orientação aos filhos, além da gestão das tarefas diárias necessárias de manutenção da casa.

Experiência única

Para muitas mulheres, a maternidade é uma experiência única que desperta um desejo marcado de estar presente nos primeiros anos de vida dos seus filhos.

A decisão de ser mãe a tempo inteiro é normalmente tomada ao longo de um tempo e com várias considerações e etapas. Há casais que discutem este tema antes do nascimento dos filhos, outros que decidem apenas na altura que a licença de maternidade está a decorrer ou finalizar. Esta decisão, muitas vezes, é multifacetada e pode ser influenciada por uma variedade de fatores psicológicos, sociais e económicos.

O maior receio para a maioria das mulheres que optam por ficar em casa com os filhos é a perda de rendimentos do seu trabalho, logo a sua autonomia financeira. Outras razões é o isolamento social. O papel de cuidadora a tempo inteiro pode ser solitário, especialmente se a mãe não tiver uma rede de suporte social robusta ou oportunidades frequentes para interagir com outras pessoas fora do ambiente doméstico.

A decisão de se tornar uma mãe em casa pode eventualmente afetar a relação com os filhos, especialmente se a mãe não tiver 100 por cento de certeza. Pode refletir-se na disponibilidade emocional da própria, na consistência da rotina, no bem-estar emocional da mãe e na comunicação com os filhos. É fundamental que a mãe priorize seu próprio bem-estar emocional e procure apoio para cuidar adequadamente de seus filhos, mesmo que não esteja completamente certa da decisão tomada.

Nas últimas décadas, houve mudanças significativas no contexto socioeconómico e cultural que impactaram a decisão da mulher de se tornar uma “stay-at-home mom”. Antigamente, era mais comum que as mulheres deixassem o mercado de trabalho para cuidar dos filhos a tempo inteiro. Hoje, as mulheres têm mais oportunidades profissionais e têm mais pressão para equilibrar trabalho e família. Além disso, o apoio institucional e político, bem como o acesso à informação e apoio, mudaram a perceção sobre as opções disponíveis para as mulheres.

Parece haver uma tendência de diminuição no número de mulheres que decidem ser mães a tempo inteiro em Portugal, comparativamente há 20 ou 30 anos. Esta mudança está alinhada com as transformações sociais e culturais que promovem uma maior igualdade de género e partilha de responsabilidades entre pais e mães.

Mães felizes

Determinar uma percentagem média de sucesso para as mães que optam por serem mães a tempo inteiro é complexo, pois o conceito de “sucesso” varia de pessoa para pessoa. O que pode ser considerado um sucesso para uma mãe pode não ser o mesmo para outra. Algumas mães sentem-se realizadas e felizes ao cuidar dos filhos em tempo inteiro, enquanto outras preferem equilibrar trabalho e a maternidade. O sucesso na maternidade é subjetivo e individual.

A “stay-at-home mom syndrome” não é uma condição médica formal, mas descreve os desafios emocionais vividos por mães que cuidam dos filhos a tempo inteiro. Inclui sentimentos de isolamento, stress e perda de identidade profissional. Embora não seja uma síndrome reconhecida, destaca os desafios enfrentados pelas mães e a importância do apoio emocional para lidar com eles. Embora não haja estatísticas específicas sobre a prevalência desta síndrome, a depressão pós-parto e os desafios da maternidade são bastante comuns. Estima-se que cerca de 15% a 20% das mulheres possam sofrer depressão pós-parto durante algum momento após o nascimento de um filho.

Os prós e os contras

Como psicóloga, posso destacar alguns prós e contras de ser uma “stay-at-home mom”.

Prós:

Uma das principais vantagens é o maior envolvimento na criação dos filhos. Ao estar em casa em tempo inteiro, a mãe tem a oportunidade de participar ativamente do desenvolvimento e educação das crianças. Além disso, a flexibilidade de horário é um benefício significativo, permitindo que a mãe se adapte à rotina de acordo com as necessidades individuais da família. Isto pode reduzir o stress relacionado com o trabalho, proporcionando um ambiente mais tranquilo em casa. Outro aspeto positivo é a possibilidade de construir laços emocionais mais fortes com os filhos, estando mais presente para apoiá-los emocionalmente.

Contras:

No entanto, ser uma “stay-at-home mom” também apresenta alguns desafios. O isolamento social é uma preocupação comum, pois as mães podem sentir falta da interação com os colegas de trabalho e amigos. Além disso, a falta de envolvimento em atividades profissionais pode levar à perda de identidade e autoestima para algumas mulheres. A dependência financeira do parceiro também pode ser um ponto negativo, causando sentimentos de vulnerabilidade e falta de autonomia. Outro aspeto a observar é a falta de reconhecimento pelo trabalho doméstico e cuidado dos filhos, que nem sempre é valorizado pela sociedade.

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Dra. Carolina de Freitas Nunes

Psicóloga

Diretora da Cognilab

LusoJornal