Saúde: Insuficiência venosa crónica – a doença de Trump_LusoJornal·Saúde·4 Agosto, 2025 O Presidente americano, Donald Trump, acaba de ser diagnosticado com doença venosa crónica. Em Portugal, cerca de 35% dos adultos serão afetados por alguma das formas da doença. A insuficiência venosa crónica ou a doença venosa crónica, é uma condição em que as válvulas de determinadas veias dos membros inferiores deixam de funcionar, e a normal drenagem de sangue deixa de por elas se processar. Mais importante: começa a ocorrer refluxo venoso (descida do sangue em sentido contrário) e pressurização anómala do território afetado. Que alterações podem surgir? Desde logo a presença de vasos anómalos. Estes podem ser simples telangiectasias – comummente designados por “raios” ou “derrames” ou veias reticulares – um pouco mais espessas. Estas veias apresentam colorações variadas, que incluem tons azulados, esverdeados ou vinosos e podem encontrar-se praticamente em qualquer área dos membros inferiores. As faces laterais das coxas, as zonas mediais e posteriores dos joelhos e os tornozelos são regiões anatómicas frequentemente atingidas. Para além destes vasos de calibre diminuto e intermédio, as varizes propriamente ditas podem também tornar-se evidentes sob a forma de veias volumosas e tortuosas que provocam saliências cutâneas francamente inestéticas. É também possível que os membros inferiores se apresentem disformes graças ao edema (geralmente de predomínio vespertino) que por vezes acompanha estas situações. Com o passar do tempo, e à medida que o quadro se vai agravando, a pele pode acabar por ficar alterada, por vezes definitivamente. A maior parte das vezes é junto dos tornozelos que se notam estes estigmas (pele descamativa, manchada – escurecida ou com aspeto esbranquiçado, atrófica e fragilizada, podendo acabar por ulcerar). O auto-agravamento inexorável que as varizes acabam por se registar, podendo provocar sintomas de intensidade crescente: prurido, cansaço, sensação de peso, dificuldade em encontrar uma posição confortável durante o descanso noturno (“pernas inquietas”), calor e hipersensibilidade são algumas das queixas mais frequentemente ouvidas. Quando acaba por ocorrer a ulceração, a qualidade de vida fica comprometida de modo muito sério, com necessidade de cuidados de penso frequentes e desconfortáveis e complicações infeciosas que se podem repetir. Além deste agravamento progressivo, o risco de episódios de trombose venosa está aumentado em quem tem varizes (sobretudo de trombose venosa superficial, mas que pode evoluir para trombose venosa profunda e originar embolia pulmonar). A doença tem tratamento. Hábitos de vida, fármacos e uso de meias de compressão elástica devem ser considerados. A cirurgia está indicada em muitos casos. Primeiro passo para quem pensa poder ter doença venosa crónica: ser avaliado por um especialista em consulta de Cirurgia Vascular. Há muito a fazer: mantermo-nos atentos aos nossos hábitos posturais (o tempo que permanecemos relativamente imóveis, sentados ou de pé), adotar um estilo de vida ativo, preferencialmente com prática de exercício físico que envolva os membros inferiores. Estar atento, prevenindo o excesso de peso. Mediante os sintomas e as características dos doentes podemos ponderar o uso de medicamentos e meias elásticas. Dispomos hoje em dia de inúmeras técnicas (endolaser, radiofrequência, injeção de espuma ou cola, por exemplo) que permitem o tratamento cirúrgico de modo pouquíssimo invasivo, com resultados duradouros e esteticamente muito satisfatórios. . Professor Doutor Sérgio Sampaio Cirurgião vascular Allure Clinic