Saúde: O que é a neurocosmética?


A Neurocosmética é uma área inovadora, que resulta da convergência de conhecimentos sobre o funcionamento da pele e sua interação com o sistema nervoso, para desenvolver produtos cosméticos com efeitos que vão mais além. Atuando não só́ diretamente na pele mas também ao nível de vários neurotransmissores, os chamados “neurocosméticos” permitem modular funções cutâneas e processos psicofisiológicos para melhorar o stress emocional, o humor e a sensação de bem-estar, promovendo saúde, beleza e equilíbrio.

Esta nova geração de produtos tópicos de cuidados integrativos pode vir a transformar alguns conceitos e abordagens clínicas, dado que o bem-estar emocional deve ser valorizado como parte integrante da saúde da pele, e vice-versa.

A pele desempenha uma importante função de barreira, mas a sua complexidade estrutural confere-lhe muitas outras funções cruciais, incluindo a de comunicação. De facto, a pele é um órgão neurossensorial diferenciado, ricamente inervado e imunologicamente ativo, capaz de produzir e responder a neuromediadores como a serotonina, dopamina, β-endorfinas e substância P.

A neurobiologia periférica regula a sensibilidade cutânea e as respostas imunológicas, e contribui para a forma como a pele “perceciona” e “exprime” estados psicológicos e emocionais. A essa rede de comunicação bidirecional chamamos “eixo pele-cérebro” ou sistema neuro-imuno-cutâneo.

Perturbações deste equilíbrio por estímulos emocionais de stress, ansiedade ou tristeza podem afetar negativamente a saúde da pele, desencadeando respostas que contribuem o desenvolvimento ou agravamento de algumas doenças e para o envelhecimento cutâneo. Por outro lado, estímulos positivos de tranquilidade e bem-estar podem melhorar a qualidade e aparência da pele. Compreendemos, assim, que as complexas interações entre a pele e o sistema nervoso são importantes para a saúde e beleza.

Potenciais benefícios

Apesar de ser uma área recente, a investigação cientifica sobre neurocosméticos aponta para potenciais benefícios destes produtos. Existem diversos ingredientes ativos, que diferem relativamente aos seus mecanismos de ação e eventual relevância psicodermatológica. A aplicação tópica de determinadas moléculas que mimetizam a ação de antagonistas da acetilcolina (ex: Acetil hexapeptídeo-8 ou Argireline) ou que estimulam a produção de β-endorfina, demonstraram reduzir a reatividade cutânea e a tensão muscular relacionadas com o stress, contribuindo para melhorias visíveis e uma sensação de tranquilidade.

Agentes com propriedades antioxidantes (ex: Melatonina) ou anti-inflamatórias (ex: Agonistas dos recetores canabinóides) parecem ser também promissores no alívio do prurido, dor e inflamação e na modulação da perceção do humor. E produtos tópicos dirigidos ao microbioma cutâneo podem ser interessantes na abordagem da sensibilidade cutânea e crises despoletadas pelo stress.

A Neurocosmética está ainda numa fase precoce de desenvolvimento e há́, por isso, ainda muitas questões por responder sobre os efeitos e aplicabilidade prática dos neurocosméticos. Ainda não se sabe, por exemplo, qual a duração das alterações induzidas por produtos neuromoduladores aplicados sobre a pele.

Por outro lado, a individualidade biológica poderá́ determinar respostas variáveis de pessoa para pessoa. É também importante aprofundar a investigação médico-científica para clarificar o perfil de segurança e eventuais efeitos adversos destes produtos.

Ao experimentar produtos que se apresentam como neurocosméticos, é importante manter uma postura informada e crítica. O consumidor deve verificar a composição do produto e ações dos seus ingredientes, preferindo produtos de marcas confiáveis e com suporte de estudos clínicos.

É importante lembrar que os produtos cosméticos devem servir para complementar – mas não substituir – cuidados dermatológicos ou tratamentos indicados por médicos.

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Dra. Margarida Moura Valejo Coelho

Médica dermatologista

Sociedade Portuguesa de Medicina Estética