Saúde : O risco de inalar o fumo dos incêndios


Os Incêndios Florestais apresentam três fatores principais que se repercutem sobre a saúde das populações: as caraterísticas dos fumos, o efeito das partículas e de muitas outras substâncias presentes.

Os fumos aqui presentes dependem essencialmente da combustão de madeiras e vegetais; a biomassa e dessa forma os gases como o monóxido de carbono, o dióxido de carbono, o formaldeído e muitos outros produtos químicos orgânicos como os hidrocarbonetos têm uma ação direta sobre as pessoas expostas. Ao nível ocular, cardiovascular e acima de tudo respiratório são as manifestações de saúde que de imediato se fazem sentir. Assistimos acima de tudo no doente crónico com patologia respiratória a uma exacerbação dos seus sintomas e temos os doentes com asma e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOPC) com mais queixas, mais recurso a terapêutica e até idas ao serviço de urgência.

As manifestações de saúde pelo efeito das partículas e das toxinas contidas nos fumos dependem também da sua dimensão, pois partículas maiores (acima dos 10 micra) têm uma ação direta ocular e nas vias aéreas superiores (nariz e garganta) e partículas de menor dimensão têm um atingimento do pulmão e dos seus brônquios com sintomas como a tosse, aumento das secreções e até dificuldade respiratória.

Pessoas saudáveis procuram muitas vezes atendimento médico nesta circunstância e o doente crónico leva-o até a um serviço de urgência com uma exacerbação da sua doença de base.

A intoxicação pelo monóxido de carbono é uma exposição mais grave e aguda e que pode levar à morte com sintomas iniciais de dores de cabeça, falta de ar, sintomas digestivos e neurológicos que pode ter um desfecho fatal; uma atenção especial aos profissionais que estão envolvidos no combate aos incêndios.

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Como minimizar/acautelar os riscos

A medida de proteção respiratória é essencial, mas acima de tudo devem atender às instruções das autoridades e sem instruções em contrário devem permanecer no interior da habitação, mantendo portas, janelas e tampas de lareiras fechadas e se necessário tapar frinchas existentes com panos molhados. Utilize sistemas de purificação de ar, se os tiver e se tem ar condicionado, deve acionar a opção de recirculação de ar. O uso de máscaras com as caraterísticas que abaixo são descritas e permanecer em casa. Não fume, não acenda velas nem qualquer aparelho que funcione a gás ou a lenha e evite tudo que possa aumentar a poluição do ar dentro de casa. Se tem de atravessar de carro uma zona de fumo, mantenha as janelas e os ventiladores fechados e se o carro tem ar condicionado, ligue-o em recirculação. Perante uma atmosfera com fumo, respire devagar, controle-se e não entre em pânico e nunca pratique atividades desportivas nestas circunstâncias.

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Como ajudar alguém numa situação de inalação de fumos

De forma preventiva, as crianças, idosos e doentes crónicos devem de imediato serem afastados da exposição e em particular o doente com doença crónica e estar otimizado na sua terapêutica habitual não a esquecendo e até reforçando o conceito de SOS.  Afastamento do local de risco e da exposição ambiental e também o uso de máscaras com caraterísticas específicas, idealmente as FFP2 e/ou FFP2 com válvula unidirecional, note que estas máscaras apenas protegem da inalação de partículas, não tendo qualquer eficácia quanto à inalação de gases tóxicos, nomeadamente o monóxido de carbono e o uso prolongado destas máscaras também pode aumentar o esforço respiratório. A hidratação é necessária, mas atenção ao estado de consciência pelo risco de aspiração e sempre o afastamento da zona de perigo para um ambiente ventilado e sem fumos.

Não abordo aqui as condições clínicas de intoxicação aguda e queimaduras pois necessitam de uma intervenção de emergência médica e siga sempre as instruções das autoridades.

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Dr. Luís Rocha

Pneumologista

Direção da Sociedade Portuguesa de Pneumologia

Direção da Fundação Portuguesa de Pneumologia

Pneumologista IPO do Porto