Saúde: Relacionamentos abusivos ou tóxicos

[pro_ad_display_adzone id=”37510″]

Uma relação tóxica pode ser definida como um relacionamento caracterizado pela presença de manipulação, abuso emocional e um ciclo contínuo de exaustão emocional. Penso que é importante destacar que qualquer pessoa pode encontrar-se num “relacionamento tóxico”. Geralmente, essas relações são conduzidas por um dos parceiros que apresenta traços marcadamente narcísicos, falta de empatia e, em alguns casos, psicopatia.

A manipulação é a principal estratégia utilizada para controlar e dominar o outro, enquanto o abuso emocional causa danos psicológicos significativos na pessoa vítima de manipulação. O ciclo de exaustão emocional perpetua essa dinâmica prejudicial, deixando a pessoa presa num padrão de comportamento abusivo. Nesse sentido, reconhecer os sinais de uma relação tóxica é o primeiro passo para buscar apoio e buscar um ambiente saudável e equilibrado.

Reconhecer que se está num relacionamento abusivo pode ser um processo difícil, mas é essencial para evitar danos ainda maiores. Muitas vezes, os sinais de alerta podem confundir-se com demonstrações de afeto, o que torna ainda mais complicado admitir que estamos sendo abusados por alguém que amamos. Importa compreender que um relacionamento abusivo não se desenvolve repentinamente, mas sim gradualmente, à medida que ocorrem episódios de manipulação, controle e ciúme excessivo, mas que geralmente são justificados pelo manipulador como expressões de amor. Por trás dessas atitudes manipuladoras, existe um jogo psicológico por parte do abusador. É fundamental estar atento a esses padrões e apoiar-se numa rede de apoio em que possa confiar. Por exemplo buscar apoio de amigos, familiares ou profissionais capacitados para ajudar na identificação e no enfrentamento dessa situação prejudicial.

Em relacionamentos tóxicos, é importante compreender que a violência física não é o único indicador de abuso, normalmente está presente outro tipo de violência: a violência psicológica desempenha um papel significativo nesse tipo de relacionamento.

A manipulação ocorre de forma insidiosa, onde o abusador utiliza estratégias para minar a autoestima da vítima, fazendo-a sentir-se culpada, isolada e desvalorizada. Esse abuso emocional pode causar danos profundos ao estado emocional da pessoa, muitas vezes até mais do que a violência física. É fundamental reconhecer que o abuso psicológico é uma forma de violência igualmente devastadora e buscar apoio psicológico e orientação para sair dessa situação prejudicial.

Existe pistas que nos orientam, mas sobretudo há fases na dinâmica abusiva que nos indicam se efetivamente estamos neste tipo de relação. Em psicologia consegue-se identificar três fases num relacionamento abusivo:

A idealização, desvalorização e descarte. Na idealização, o abusador coloca a vítima num pedestal, demonstrando amor intenso. A pessoa é um autêntico camaleão e mimetiza a pessoa ao pormenor, ele demonstra um afeto intenso e constante, sendo exatamente o que a pessoa deseja e precisa. No entanto, esse comportamento é apenas uma representação criada pelo abusador, um “avatar” ilusório. A vítima acostuma-se com essa idealização, ao “encantamento de sereia”, e se torna dependente emocionalmente.

Na desvalorização, é a fase em que o abusador destrói esse pedestal através de manipulação, críticas e controle. Pode acontecer de forma brusca e repentina, com o abusador desaparecendo sem explicações, ou de maneira lenta e cruel, minando a autoestima da vítima, desdenhando dos seus sonhos e conquistas, sistematicamente apontando defeitos e levantando suspeitas infundadas. Os momentos de afeto são alternados com momentos de desvalorização, mantendo dessa forma o controle sobre a vítima.

Finalmente, na fase do descarte, o abusar revela-se sem máscaras e despacha literalmente a vítima. Percebendo que não há mais benefícios a oferecer, ele descarta a vítima de maneira impiedosa e sem qualquer remorso, visto que não existe empatia pela parte dele. Paradoxalmente, após o descarte, o abusador pode tentar voltar por diversos motivos, como manter o controle, magoar a vítima atual ou perceber que a pessoa foi capaz de seguir em frente sem ele. É importante destacar que esse padrão de comportamento é recorrente e que a vítima precisa urgentemente buscar apoio para romper esse ciclo prejudicial.

Tenho para mim de que é realmente crucial reconhecer essas fases para romper o ciclo prejudicial e poder sair desta relação abusiva.

Pessoas manipuladoras ou narcisistas perversas geralmente apresentam problemas de personalidade, mas que para elas consideram nada relevantes. Elas são camaleónicas e muito habilidosas em se camuflar e se adaptar aos diferentes disfarces, especialmente na fase da idealização, onde parecem realmente fascinantes. No entanto, o seu comportamento é uma máscara que esconde segundas intenções. Infelizmente, as suas vítimas não conseguem distinguir entre amizade, respeito e amor genuíno, considerando traços de controle, manipulação e submissão como normais na relação. Essa falta de discernimento pode resultar de um ambiente abusivo durante a infância e de uma vinculação insegura ansiosa, levando a padrões de autodestruição e atração por relacionamentos tóxicos. Padrões esses, que podem ser transmitidos transgeracionalmente. É essencial trabalhar em modelos internos distorcidos e resolver traumas não resolvidos para romper com esses padrões inconscientes. É aqui a psicoterapia é de grande ajuda.

Quando se percebe que está a viver um relacionamento tóxico, é importante não ter receio de buscar ajuda. Analisemos a diferença, num relacionamento saudável, o amor é caracterizado por entrega, paixão, desejo, admiração e cuidado mútuo, sem perder a pessoa própria identidade e sem medo. Nos relacionamentos tóxicos, a dinâmica é diferente predomina o medo da perda, a emergem emoções como inadequação e culpa. Nesse contexto, é crucial procurar apoio psicológico para promover a resiliência, fortalecer a força interior e desenvolver a capacidade de adaptação diante de situações adversas. A ajuda profissional pode fornecer orientação, suporte emocional e estratégias para sair dessa situação prejudicial e buscar relacionamentos saudáveis no futuro.

A sociedade desempenha um papel significativo ao impor normas culturais que podem influenciar os relacionamentos tóxicos, a maioria das vezes as normas e peso cultural das sociedades é mais um empecilho de que uma ajuda. Embora a consciencialização sobre os perigos desses relacionamentos esteja a aumentarr, é necessário promover uma compreensão maior e aceitação da importância do apego seguro. Além disso, é fundamental fornecer apoio para aqueles que enfrentam as consequências de estilos de apego tóxico transmitidos ao longo das gerações. Para o melhor, mas também para o pior, vivemos numa sociedade líquida, como descrito por Zygmunt Bauman, onde as relações são fugazes e efêmeras. Nessa sociedade, muitas vezes se considera racional não se comprometer com nada, pois nada é feito para durar. É essencial questionar essas normas e buscar construir relacionamentos saudáveis e significativos no meio dessa realidade fluida.

As redes sociais podem criar equívocos e contribuir para um sentimento de vazio existencial. Para muitas pessoas, as redes sociais podem se tornar um escape para uma geração imediatista que enfrenta dificuldades em encontrar um propósito em lidar com as suas dores e angústias existenciais. Existe uma pressão social para estar sempre conectado, compartilhar momentos felizes e evitar demonstrar tristeza ou solidão. Isso pode levar à sensação de que ficar triste ou passar algum tempo sozinho é considerado uma doença ou algo negativo.

Para ajudar pessoas que são vítimas ou foram vítimas de narcisistas perversos, a psicoterapia desempenha um papel fundamental. A abordagem psicodinâmica, como a hipnoterapia de regressão, pode ser uma ferramenta eficaz para trabalhar traumas e padrões inconscientes que levam a buscar gratificação nos relacionamentos tóxicos. Quando há questões não resolvidas no histórico da pessoa, ela pode repetir padrões de sofrimento na tentativa de resolver lacunas do seu passado, nomeadamente, as vinculações inseguras. O autoconhecimento é essencial para desenvolver habilidades que promovam relacionamentos afetivos e escolhas mais saudáveis. É aqui que a hipnose tem tudo a ganhar e nada a perder. A hipnoterapia ajuda a identificar emoções, apontar falhas e compreender as escolhas amorosas, estabelecendo limites saudáveis e promovendo o desenvolvimento de relacionamentos mais saudáveis. É importante reconhecer que o parceiro abusivo não irá mudar e o contato zero é aconselhado para evitar danos emocionais contínuos.

Existem diferentes abordagens para resolver as sequelas de um relacionamento abusivo. A terapia cognitivo-comportamental (TCC), pode ser eficaz ao ajudar a identificar e desafiar pensamentos e comportamentos negativos associados ao relacionamento abusivo. A psicologia positiva pode ser aplicada para cultivar emoções positivas, resiliência e uma visão mais positiva e compassiva de si mesmo.

Mas para mim a hipnoterapia de regressão é imbatível já que trabalha a causa e não propriamente o sintoma. Atente-se que a hipnoterapia trabalha com os modelos internos das pessoas e como eles influenciam suas interações sociais e relacionamentos. Ela pode ajudar a explorar e compreender esses modelos internos, promovendo mudanças para um apego mais seguro e relacionamentos mais saudáveis.

A hipnoterapia também pode ser útil ao abordar esses modelos internos e permitir transformações positivas, permitindo em poucas sessões que os indivíduos redescubram a alegria, o propósito e a conexão nas suas vidas.

Em última análise, a escolha da abordagem terapêutica dependerá das necessidades individuais e preferências da pessoa na sua busca de encontro com as feridas psicológicas e que devem ser compreendidas e saradas, psicologicamente falando.

Dr. Alberto Lopes

Neuropsicólogo/hipnoterapeuta

Clínica Dr. Alberto Lopes – Psicologia & Hipnose Clínica

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]

LusoJornal