Saúde: Vacinação: uma nova forma de Prevenção Cardiovascular


A Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) publicou um novo e inovador Documento de Consenso Clínico que reconhece a vacinação como um novo pilar da prevenção cardiovascular, a par do controlo da tensão arterial, dos lípidos e da diabetes.

Este documento, que conta entre os autores alguns dos mais destacados cientistas europeus e dos EU na área da prevenção cardiovascular, contou com a contribuição da Associação Europeia de Cardiologia Preventiva, a Associação para Cuidados Cardiovasculares Agudos e a Associação de Insuficiência Cardíaca da ESC.

Os dados recentes demonstram que infeções comuns, como a gripe, a COVID-19 e a pneumonia, aumentam substancialmente o risco de eventos cardiovasculares major (MACE), incluindo enfarte do miocárdio, insuficiência cardíaca, arritmias e morte súbita. Durante uma infeção aguda, os mecanismos inflamatórios e pró-trombóticos podem desestabilizar a placa aterosclerótica e comprometer a função cardíaca – mecanismos observados em doenças como a gripe, a infeção pneumocócica, o vírus sincicial respiratório (RSV) e o SARS-CoV-2.

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Benefícios da Vacinação

– A vacinação contra a gripe reduz o risco de contrair a infeção em 60%; os indivíduos vacinados têm uma redução de eventos cardiovasculares importantes de pelo menos 30%.

– Nos indivíduos que sofreram enfarte do miocárdio e foram vacinados contra a gripe durante a hospitalização, a redução da mortalidade CV é de 40.

– A vacinação antipneumocócica previne até 70% das formas invasivas da doença e reduz eventos cardiovasculares em idosos.

– As vacinas contra a COVID-19 reduzem a gravidade da doença, as hospitalizações, a mortalidade e o risco de síndrome pós-COVID (redução de cerca de 43%).

– As vacinas contra o herpes zoster e o papilomavírus humano (HPV) podem reduzir em mais de 50% os eventos cardiovasculares e normalizar o risco aterosclerótico.

– A vacinação é segura e benéfica para grupos vulneráveis, incluindo doentes com insuficiência cardíaca, síndromes coronários crónicos, cardiopatias congénitas, transplantados cardíacos e grávidas.

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Riscos e Segurança

As reações adversas graves às vacinas são extremamente raras (<10 por 100.000). As reações locais ou sistémicas ligeiras são frequentes e benignas. A miocardite após a vacinação contra a COVID-19 ocorre sobretudo em homens jovens, mas é seis vezes menos frequente do que a miocardite causada pela própria infeção, e tende a resolver-se espontaneamente. A monitorização cuidadosa e o tratamento segundo as orientações habituais são recomendados.

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Recomendações

1. Vacinação anual contra a gripe para todos os adultos com doença cardiovascular, de preferência durante a hospitalização por síndromes coronários agudos ou insuficiência cardíaca. Recomendação adicional de vacinação de todos os adultos > 65 anos.

2. Vacinação antipneumocócica para indivíduos com 65 ou mais anos, ou com doenças cardiovasculares crónicas (exceto apenas HTA).

3. Vacinação e reforços contra a COVID-19 de acordo com as orientações nacionais, com prioridade para idosos e doentes cardíacos de risco elevado.

4. Vacinação contra o herpes zoster e o HPV como complemento à prevenção cardiovascular.

5. Implementação de programas de vacinação integrados em unidades hospitalares e de cardiologia.

6. Ações educativas e de comunicação para combater a desinformação e reforçar a importância da vacinação na proteção cardiovascular.

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Conclusão

A vacinação deve ser vista como o quarto pilar da prevenção cardiovascular. A ESC apela a decisores, clínicos e cidadãos para que reconheçam a imunização como uma intervenção segura, custo-efetiva e essencial na redução do peso global das doenças cardiovasculares.

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Professor Doutor Victor Gil

Cardiologista

Sociedade Portuguesa de Cardiologia