Saúde: Verão e doenças reumáticas


Falamos habitualmente dos benefícios do sol e de algumas das suas propriedades que procuramos ao longo do ano.

E o frio e a humidade fazem “mal ao reumático”?

A estas questões costumo responder que o calor dilata os corpos, e que no nosso tempo de escola construíamos um medidor da humidade do ar com um cabelo; era o higrómetro de cabelo que fazia mover o ponteiro com as modificações da humidade do ar.

Mas não se encontraram diferenças significativas em pessoas que trabalham em lugares húmidos, a que popularmente se atribuí a causa das “doenças reumáticas”, caso da apanha do arroz e do trabalho dos mineiros.

Este princípio da física é bem conhecido de muitos que fizeram fraturas, ou que têm cicatrizes na pele; “o tempo vai mudar” dizem, quando “sentem” as características modificações no seu corpo.

A explicação parece estar mais na mudança da pressão atmosférica do que na humidade, mas o certo é que estas e outras constatações, que associam as modificações climáticas ao aparecimento ou agravamento de algumas doenças fizeram nascer a biometeorologia, uma ciência que estuda e encontrou associações de doenças com modificações atmosféricas.

Alguns destes fenómenos são já conhecidos cientificamente, como os que ocorrem com a radiação ultravioleta (UV) nos doentes com Lupus, uma das doenças reumáticas sistémicas, em que a exposição solar pode desencadear uma crise e até causar graves problemas de saúde.

Neste caso, até a exposição à luz UV das discotecas (a conhecida luz negra estroboscópica) pode causar a conhecida “febre de sábado à noite” dos reumatologistas, assim chamada por poder ocorrer nos doentes com Lupus após exposição prolongada aos UV nas discotecas.

Após exposição prolongada à “luz negra”, estes doentes podem ter uma recaída com formas que podem ser muito graves e pôr mesmo em risco a vida dos doentes!

Mas estes UV’s, que como vimos podem ser fatais para doentes com Lupus, causar “escaldões na praia”, provocar cancro da pele e afetar os olhos, podem também ter efeitos positivos: eles ajudam a pele a produzir vitamina D, tão importante para o crescimento ósseo e no tratamento da osteoporose, pois promovem a absorção do cálcio alimentar no nosso intestino e têm demonstrado uma diminuição do risco de quedas nos idosos.

A exposição solar tem também efeitos terapêuticos benéficos em doenças de pele como a psoríase.

As variações cíclicas que ocorrem em algumas doenças são multifatoriais. Sabemos que as variações climáticas influenciam o psiquismo e que este pode condicionar irritabilidade, agressividade ou depressão como a que ocorre com a privação prolongada da luz solar.

Outra fonte de radiação da luz solar é a Infravermelha (IV) de maior comprimento de onda que as UV, que transmitem sensação de calor na pele e em profundidade variável. Como agente térmico é utilizado para alívio da Dor e da Rigidez e como relaxante muscular, aumentando a mobilidade articular e favorecendo a regeneração das lesões de tecidos moles, como a pele.

Pode causar vermelhidão, e queimaduras de gravidade variável com a exposição sendo também causa de lesões nos olhos.

Alguns estudos evidenciaram uma relação entre os ventos quentes do norte de África e uma maior ocorrência de tromboflebites nos países da Europa meridional e central. Presume-se que isto possa ocorrer pelas modificações reológicas do sangue, ligadas à sua viscosidade que se alteraria em função do calor e pressão atmosférica.

No caso da praia, podemos para além do sol, aproveitar os exercícios dentro de água, como nadar, caminhar, que contribui para o fortalecimento muscular e equilíbrio e até o efeito massagem das ondas para a circulação em geral e as varizes das pernas em particular.

Mas cuidado, na praia, com os dias cobertos, nublados ou sem sol visível! Os IV são filtrados pelas nuvens, deixando nós de ter a sensação de calor que nos alerta para uma exposição excessiva, mas os UV NÃO! pelo que podemos apanhar um “escaldão” com graves queimaduras da pele.

Também um alerta para quem está debaixo de um chapéu de praia e se julga protegido, particularmente crianças muito pequenas; a radiação reflete-se em parte na areia branca e pode, portanto, provocar queimaduras em peles sensíveis após muito tempo de permanência.

No entanto para a exposição solar, não é necessário ir à praia!

Para aqueles que vivem longe da costa, ou sem condições para a ela aceder, deixo uma sugestão: em calção ou biquíni, a exposição diária durante 15 minutos do corpo é suficiente para repor os seus níveis de vitamina D…

Pode fazê-lo à janela, na sua varanda ou terraço se os tiver.

Os doentes com algumas doenças especificas como a Porfíria cutânea ou o Lupus (LES) podem, como já falámos, desencadear formas agudas com agravamento da pele e de órgãos que podem ser fatais. Devem, por isso, abster-se da exposição direta da pele aos UV, usando cremes Ecran Total com SPF 100.

Na artrose, algumas formas de calor parecem ser úteis pelo alívio da dor, redução das contraturas musculares e melhoria da mobilidade articular.

E aqui entra o calor do sol, da areia quente da praia, que em casa substituímos pelo chuveiro massagem, pelas compressas quentes ou pelos banhos de parafina.

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Dr. António Vilar

Reumatologista

Presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia

LusoJornal