Saúde: Verão em Segurança: como proteger a pele, evitar picadas e prevenir a insolação


Com o calor, os dias longos e as férias, chega também o tempo das esplanadas, dos passeios ao ar livre, dos mergulhos e do contacto com a natureza. Mas o verão não traz apenas bons momentos. O sol, o calor excessivo e os insetos podem representar riscos reais para a saúde. A boa notícia é que, com pequenos gestos no dia a dia, é possível desfrutar desta estação em segurança.

Um simples passeio no campo pode ser suficiente para entrar em contacto com insetos capazes de causar problemas de saúde. Em Portugal, são frequentes as picadas de mosquitos, vespas, abelhas, carraças, pulgas, aranhas e lagartas do pinheiro.

A maioria das picadas provoca apenas em vermelhidão, comichão ou ligeiro inchaço. No entanto, em situações mais sensíveis ou em pessoas com alergias conhecidas, podem desencadear reações mais graves. Além disso, alguns destes insetos são transmissores de doenças, como é o caso das carraças, que podem transmitir a febre escaro-nodular ou a doença de Lyme.

A prevenção continua a ser a melhor proteção. Usar roupa clara e fresca, que cubra a maior parte do corpo, evitar perfumes doces ou roupas muito coloridas, e inspecionar a pele ao regressar de locais com vegetação densa são medidas simples e eficazes.

A aplicação de repelentes é altamente recomendada. Substâncias como o DEET, a icaridina ou o IR3535 demonstraram elevada eficácia e segurança, mesmo em crianças, desde que usados corretamente e de acordo com as instruções do fabricante.

Os repelentes devem ser aplicados apenas nas áreas expostas da pele, evitando o contacto com os olhos, boca ou feridas, e devem ser reaplicados com regularidade, sobretudo em dias de calor intenso ou após atividades aquáticas.

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Se ocorrer uma picada, o tratamento vai depender da reação. Nos casos mais ligeiros, é geralmente suficiente lavar bem a zona com água e sabão, aplicar gelo ou uma compressa fria para reduzir o inchaço e, se necessário, usar um anti-histamínico oral ou um creme calmante.

Em situações mais graves, como dificuldade em respirar, inchaço generalizado ou sensação de desmaio, deve ser contactado o 112 de imediato.

Quem sofre de alergias graves deve seguir o plano médico previamente estabelecido, podendo incluir a administração de adrenalina e contactar de imediato a linha de emergência.

No caso das carraças, a sua remoção deve ser feita o mais cedo possível, idealmente por um profissional de saúde. Se tal não for possível, deve usar-se uma pinça fina, agarrando o inseto junto à pele e puxando com firmeza, mas com suavidade. Após a remoção, é importante lavar e desinfetar a zona, guardar o inseto num recipiente limpo e entregá-lo num Centro de saúde para identificação. Nos dias seguintes, deve vigiar-se o aparecimento de sintomas como febre, dor de cabeça, manchas na pele, entre outros.

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Outro risco típico do verão é o sol. A exposição solar sem proteção está associada a um aumento do risco de cancro da pele, envelhecimento precoce, manchas e queimaduras, pelo que considero fundamental reforçar a importância da fotoproteção, quer a nível estético, quer a nível da prevenção de doenças.

Evitar a exposição direta ao sol entre as 11h00 e as 17h00, procurar zonas de sombra, usar chapéus de abas largas, óculos escuros com proteção UV e roupa leve, mas opaca são gestos simples que fazem grande diferença.

O uso de protetor solar deve integrar a rotina diária, mesmo em dias nublados. Os filtros solares dividem-se em físicos, que refletem a radiação, e químicos, que a absorvem, apresentando texturas diferentes. O fator de proteção solar, ou FPS, indica proteção contra os raios UVB. Um protetor com FPS 30 bloqueia cerca de 96% da radiação, enquanto o FPS 50 oferece uma proteção próxima dos 98%. Para a maioria das pessoas, o FPS 30 é suficiente, mas em crianças, idosos, pessoas de pele clara ou com historial de problemas cutâneos, o FPS 50+ é preferível. É igualmente importante verificar se o protetor oferece proteção contra os raios UVA e contra a luz visível, especialmente relevante para quem tem manchas como o melasma.

A sensibilidade ao sol varia consoante o tipo de pele. Os fotótipos cutâneos vão do tipo I, que corresponde a peles muito claras que queimam sempre e não bronzeiam, ao tipo VI, que inclui peles muito escuras, mais resistentes. Quanto mais claro for o tom de pele, maiores os cuidados a ter com a exposição solar.

Quando a exposição solar é excessiva, podem surgir queimaduras. A vermelhidão, o ardor e a sensação de calor na pele são sinais de alerta. Nestas situações, deve interromper-se imediatamente a exposição, aplicar produtos hidratantes e calmantes e garantir uma boa ingestão de líquidos. Em casos mais intensos, com bolhas ou dor acentuada, é importante manter a pele protegida, não rebentar as bolhas e, se necessário, tomar um analgésico como o paracetamol. Quando surgem sintomas como febre, arrepios ou mal-estar geral, deve ser procurado apoio médico com urgência.

A exposição solar sem proteção, de forma repetida, deixa marcas visíveis e invisíveis. Manchas, rugas, perda de elasticidade e lesões cutâneas pré-malignas são algumas das consequências mais frequentes. O risco de desenvolver melanoma ou outros tipos de cancros de pele aumenta significativamente quando há episódios repetidos de queimadura solar, sobretudo durante a infância e adolescência.

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Por fim, importa referir a insolação, também conhecida como golpe de calor. Esta situação ocorre quando o organismo não consegue regular a temperatura corporal após exposição prolongada ao calor, sobretudo em situações de desidratação ou esforço físico. Os primeiros sinais podem passar despercebidos: cansaço, sede intensa, dor de cabeça, tonturas ou náuseas. Mas, se não forem tomadas medidas rapidamente, o quadro pode evoluir para pele seca e quente, aceleração dos batimentos cardíacos, confusão, perda de consciência ou convulsões. A temperatura corporal pode ultrapassar os 40ºC, tornando-se uma emergência médica. A melhor forma de evitar a insolação passa por manter uma boa hidratação, usar roupa leve, evitar atividades físicas nas horas de maior calor e procurar locais frescos. Perante os primeiros sintomas, deve parar-se a atividade, procurar sombra ou um ambiente fresco, beber líquidos em abundância e aplicar compressas húmidas e frias na testa, pescoço e axilas. Se os sintomas forem graves, deve contactar-se de imediato o 112.

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O verão é uma das épocas mais aguardadas do ano e pode ser vivido em pleno com pequenos cuidados diários. Informar-se, proteger-se e agir atempadamente são atitudes simples que fazem toda a diferença. Aproveite o sol e a natureza, mas com responsabilidade.

Em caso de dúvida, fale com o seu médico ou, perante uma situação urgente, contacte de imediato a linha de emergência 112.

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5 Gestos essenciais para um verão seguro

1. Use protetor solar FPS 30+ todos os dias, mesmo com céu nublado.

2. Evite a exposição solar entre as 11h00 e as 17h00.

3. Vista roupa leve, opaca e clara e aplique repelente em zonas expostas.

4. Beba água regularmente, mesmo sem sede.

5. Procure sombra e locais frescos nas horas mais quentes.

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Dr. Tiago Castro da Cunha

Especialista em Medicina Geral e Familiar