Sérgio Gave Fraga

Sérgio Gave Fraga publica livro autobiográfico

Advogado trabalha entre Paris e Arcos de Valdevez

O advogado Sérgio Gave Fraga apresentou na semana passada, na FNAC de Braga, o livro autobiográfico “Sim, tu és capaz”, com edição de autor, e na qual percorre a incrível aventura de uma criança que nasce de uma relação da mãe com um cunhado, que é praticamente abandonado ainda bebé e que viveu sosinho em Paris, com apenas 16 anos, até se licenciar em Direito aos 46 anos, ser Candidato a Presidente da República e agora acabar de anunciar a sua candidatura a Presidente da Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez.

Sérgio Gave Fraga nasceu a 8 de maio de 1966, em Cabreiro, Arcos de Valdevez, filho da “Rosa da Coimbra” como era conhecida a mãe. Uma mãe que já tinha 6 filhos e que depois aproveitou a ausência do marido, emigrado em França nos anos 60, para se deitar com o cunhado, com quem teve mais três filhos. Sérgio – o pequeno “Fernandinho”, como lhe chamavam – foi o último dos 9 filhos da mãe. “Sou um filho indesejado, fruto de uma relação extraconjugal, criado sem amor nem carinho” escreve o autor do livro. “Ainda bebé, fui abandonado, deixado aos cuidados de uma senhora que diziam ser minha avó, mas era apenas a mãe da minha ‘mãe’”. Está dado o tom!

A população denunciou os maus tratos da avó e Sérgio Gave Fraga foi parar a um orfanato. “Com três anos, fui ‘condenado a uma pena de prisão efetiva’, de doze anos, por um crime que não havia cometido. Fui condenado sem direito a defesa e à liberdade condicional ou liberdade provisória” escreve no livro. E só saiu do orfanato porque a mãe, entretanto também emigrante em França, o foi buscar doze anos mais tarde. “Apanhámos o comboio na Estação de Santa Apolónia, em Lisboa, com destino à Gare d’Austerlitz, em Paris. Não posso sequer esquecer esta longa e interminável viagem. Levava na bagagem muita esperança e muitos sonhos. Chegados a Paris, um taxista levou-nos a minha futura casa. Aos quinze anos, ia, finalmente, viver uma história que nunca começara”. Mas compreendeu depressa que “alcançar o carinho e o amor de mãe não passava de uma ilusão”. Na opinião do autor, a mãe trouxe-o para Paris, para receber o abono de família por ser filho de menor idade.

Tentou suicidar-se, foi impedido de namorar com uma rapariga muçulmana e acabou por sair de casa. De Brunoy (91), levou a mobilete e uma mochila. Tinha 16 anos e dormiu na rua, nas entradas dos prédios de Paris e por baixo das pontes. Até que decidiu levantar a cabeça, arregaçar as mangas e tentar encontrar destino. Foi modelo, ator de cinema e até cantor. Trabalhou em restaurantes de prestígio e chegou a ser Diretor do restaurante “Le Grenier sur L’eau” em Paris.

Casou e mudou-se para Portugal para que a mulher tirasse o curso de enfermeira. Entretanto vendeu apartamentos. “Depois de ter enfrentado e ultrapassado ao longo da minha infância, adolescência e início de vida adulta vários obstáculos, derrubado várias barreiras e ganho várias batalhas, a vida, finalmente, corria-me bem”.

Depois da mulher estar licenciada, decidiu também ele estudar e, depois de ter chegado ao 12° ano, inscreveu-se no ensino superior. O sonho de ser cantor fez com que se inscrevesse num curso superior de canto, mas saiu da secretaria, pensou duas vezes, e voltou a entrar para se matricular em… Direito.

Hoje é advogado, com escritórios em Arcos de Valdevez, em Braga e em Paris. Viaja entre os dois países como sempre fez desde os 15 anos.

“Quando as pessoas lerem o meu livro, vão deixar de se queixar tanto. Vão ver por tudo o que eu passei e vão dizer que este homem transmite força e motivação” confiou numa entrevista ao LusoJornal. “Porque editei este livro? Para dizer às pessoas que, se eu fui capaz, eles também serão capazes”.

Depois do sonho de ser cantor, surgiu o sonho de ser… Presidente da República. Foi Pré-Candidato em 2016, mas acabou por não conseguir as 7.500 assinaturas de que necessitava. “Queria ser a voz dos emigrantes e dos mais frágeis. Queria dar-lhes visibilidade” conta ao LusoJornal. “Não foi desta, mas serei candidato em 2021” prometeu.

Entretanto Sérgio Gave Fraga anunciou na semana passada ser candidato independente a Presidente da Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez, “sem qualquer Partido político, completamente livre e independente” diz nas redes sociais.

O livro é ao mesmo tempo uma terapia, um programa eleitoral e uma transmissão de “positividade” aos leitores.

Mas ainda é mais do que isso: é também um ato de solidariedade, já que o autor é Presidente da associação Palco d’Abrigo, uma associação de apoio à criança e ao jovem!

LusoJornal