Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas inquieto com palavras de Marcelo

O Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas (SPCL) considerou na semana passada “inquietantes” as palavras do Presidente da República numa visita ao Instituto Camões, que deixaram transparecer “estrangeiros primeiro, portugueses depois”.

Relativamente ao ensino da língua e cultura portuguesas para as crianças e jovens portugueses nas Comunidades, “previsto na Constituição como dever do Estado Português, o Presidente utilizou apenas termos de tipo paliativo, mencionando ‘nostalgias’, ‘traumas’ e ‘saudades’ e a necessidade de ‘explicar muito bem’ a transição do Português Língua Materna para um dito Português língua universal”, diz o Sindicato num comunicado divulgado.

Na quarta-feira o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que é cada vez mais importante o ensino do português “nos confins do universo” e apontou como desafio tornar a língua universal, ao falar no Camões – Instituto da Cooperação e da Língua I.P, em Lisboa, numa iniciativa designada “Camões dá que falar”.

Instado a dar a sua opinião sobre as pretensões de Comunidades portuguesas no estrangeiro que reclamam que o ensino do português como língua materna deve prevalecer sobre o ensino do português como segunda língua, Marcelo Rebelo de Sousa disse que deve haver um equilíbrio. “O desafio que temos cada vez mais no mundo é o desafio da língua portuguesa como língua universal. A dupla dimensão da língua materna vista tradicionalmente e a língua universal nos Portugueses vivendo num contexto completamente diferente tem de ser cultivada com extremo cuidado”, disse.

Em face de “nostalgias, traumas, saudades” manifestadas por Portugueses que vivem no estrangeiro, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que “a transição tem de ser muito bem explicada para poder ser bem assumida”.

A Direção do SPCL considera as afirmações “inquietantes”, até porque numa audiência com Marcelo Rebelo de Sousa em setembro, julgou que “podia haver melhores tempos para o sistema, professores e alunos”.

O sindicato expos na altura “o tratamento inaceitável e discriminatório que o Instituto Camões tem dado aos filhos dos trabalhadores portugueses no estrangeiro, exigindo-lhes pagamento da vergonhosa Propina, insistindo também que o Português só pode ser ensinado aos lusodescendentes como língua estrangeira, pois só assim se dignifica a nossa língua, recusando a vertente de língua materna ou identitária”, segundo o comunicado.

“Tendo tido agora conhecimento das informações atuais, constatamos que, apesar de os Portugueses do estrangeiro serem designados como Portugueses de pleno direito, inclusive com direito a voto e intervenção na vida política portuguesa, tal não passa de teoria, pois que na prática os estrangeiros e o Português língua estrangeira têm primazia”, diz o Sindicato.

No comunicado, acrescenta que, afinal, um português com o “saudável desejo de ter um ensino gratuito e de qualidade da língua e cultura de origem para os seus filhos é apenas nostálgico com saudades do passado em que esse ensino existia, padecendo ainda de um possível trauma”.

Na audiência a 05 de setembro com Marcelo Rebelo de Sousa o Sindicato pediu apoio ao Presidente para professores e alunos do ensino de português no estrangeiro.

À Lusa, no final da reunião, a Secretária-geral do SPCL, Teresa Duarte Soares, referiu que a “discriminação e ‘status’ de inferioridade” de professores e alunos portugueses no estrangeiro foram os principais tópicos abordados no encontro.

A sindicalista assinalou que os professores têm “uma prioridade inferior nos concursos em Portugal” e que os alunos pagam “uma taxa de frequência, que vai contra os princípios constitucionais”, e manuais, além de terem “péssimas condições de ensino”.

 

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LusoJornal