Strasbourg: Rui Barata diz que “a ligação humana é fundamental para que as secções do PSD no estrangeiro funcionem”

Rui Barata é o atual Presidente da Secção do Partido Social Democrata (PSD) em Strasbourg. Com um percurso marcado pelo associativismo e pelo contacto direto com a Comunidade portuguesa na região, o dirigente recorda como nasceu a sua ligação à política, explica porque escolheu o PSD e analisa o papel de figuras como Carlos Gonçalves na mobilização das Comunidades portuguesas no estrangeiro.

Rui Barata também é Conselheiro das Comunidades Portuguesas.

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Qual foi o seu percurso até à Secção do PSD em Strasbourg e como entrou na política?

A minha ligação à política já vem de há alguns anos, começou no movimento associativo aqui em Strasbourg, nomeadamente com os programas de rádio. Foi assim que eu conheci a Comunidade portuguesa aqui em Strasbourg. Aliás, antes disso pertencia à Amicale lusófona da Universidade de Strasbourg que se chamava “Chama”, em 2009/2010. E daí fizemos os nossos primeiros programas de rádio em parceria com a associação cultural portuguesa de Strasbourg. E foi daí que nasceu o bichinho da política. A gente não fazia política, mas nós informávamos as pessoas sobre os seus direitos e deveres e a importância de participar na vida democrática, mas como é óbvio, na associação cultural ou na associação lusófona de estudantes o foco não era a política.

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Então como deu esse passo?

Em 2015, quando me candidatei a Conselheiro das Comunidades Portuguesas, foi nessas eleições que comecei a representar a Comunidade portuguesa da área consular de Strasbourg. Isto há quase dez anos, dia por dia. Embora não fizesse essa campanha por um partido político, porque na altura não estava, nem tinha qualquer cargo no Partido Social Democrata, foi aí que comecei a ligação mais próxima com a política tanto local, aqui na região de Strasbourg, como as suas ligações com a Comunidade portuguesa e com Portugal.

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Quando é que aderiu ao PSD e porquê essa escolha?

Há dez anos atrás – e infelizmente a situação não mudou assim tanto quanto isso – nós tínhamos dois grandes partidos que eram o Partido Social Democrata e o Partido Socialista que tinham minimamente uma estrutura organizada no estrangeiro. Quando digo estrutura organizada é porque eram os únicos partidos que tinham estruturas locais fora das fronteiras portuguesas. Depois, como é óbvio, pelas minhas ligações, os meus ideais e os meus valores rapidamente me aproximei dos ideais do centro-direita. E nesse caso foi por aí que começou a minha ligação ao PSD. Também porque os Deputados que na altura representavam os Portugueses do estrangeiro, o Deputado que tinha uma maior presença e um conhecimento do território e que residia no estrangeiro era o Deputado Carlos Gonçalves. Era aquele que estava mais próximo da Comunidade e que por acaso era e é o Deputado do PSD. Ou seja, houve aqui um conjunto de fatores que me vincularam e me aproximaram do Partido Social Democrata em 2017/2018. Comecei como militante, a tentar divulgar as ações do partido localmente e depois então fui Vice-Presidente e depois Presidente da Secção desde 2022.

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Acha que nas últimas eleições, a eleição de Carlos Gonçalves veio animar as Secções do PSD nas Comunidades?

É verdade que o Carlos Gonçalves – e com o apoio de José Cesário – foi um dos grandes impulsionadores das Secções aqui no estrangeiro e também na ajuda das suas criações e no facto que essas Secções perdurassem no tempo, porque não é fácil. E é óbvio que as Secções reconhecem isso mesmo e esse historial de Carlos Gonçalves. É verdade que houve algumas eleições onde Carlos Gonçalves não foi opção para representar o nosso partido no círculo eleitoral da Europa. Eu lembro-me na altura de Rui Rio, onde Carlos Gonçalves foi posto de parte. E também nas últimas eleições aqui com o Luís Montenegro em que Carlos Gonçalves também não foi a escolha. É óbvio que se torna difícil para nós apoiar candidatos com quem não nos revemos e com quem não temos um feeling, uma aproximação e um conhecimento humano próximo. E é verdade – e foi o que aconteceu – quando as escolhas são feitas em Lisboa, acaba por ser aqui um entrave para que as Secções locais se mobilizem no terreno para apoiar os nossos candidatos. Nestas últimas eleições, Carlos Gonçalves não foi a escolha número 1 do nosso partido, mas, contudo, foi o número dois, sabendo nós que o número 1 tinha sido Ministro, havia fortes hipóteses que se esta lista fosse eleita – e foi – que José Manuel Fernandes voltaria a ocupar um cargo governativo, deixando assim vaga para o número 2, neste caso o Carlos Gonçalves. É óbvio que nós, nas Secções locais, que são Secções pequenas, sentimos que a ligação humana é muito importante para que no terreno as coisas possam funcionar e que possamos todos juntos trabalhar no sentido de obter bons resultados para o Partido.

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Como é organizada a Secção do PSD em Strasbourg e quantos membros tem?

Nesta secção local, já nos anos 90 havia uma forte vontade de criar uma estrutura, nomeadamente com o trabalho do Senhor Joaquim Santos, que foi um dos grandes impulsionadores da sua fundação. Atualmente, a organização é composta por mim como Presidente, pela Vice-Presidente Isabel Cardoso e pela Presidente da Assembleia, Dolores Cardoso. É uma estrutura eleita de dois em dois anos. Em termos de militância, temos de distinguir os que alguma vez se inscreveram no partido – cerca de 50 em toda a região Este da França, dos militantes ativos com quotas em dia, que não chegam a duas dezenas. A nível geográfico, a maior representação está no departamento 67, mas também temos membros nos departamentos 68, 54, 57 e até mesmo 88. No fundo, os departamentos próximos de Strasbourg são aqueles onde a nossa presença é mais forte.

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E existem jovens implicados na Secção?

É um tema interessante. Há uns cinco ou seis anos notámos que os jovens estavam a afastar-se da política, havia um certo desinteresse. O próprio José Cesário, quando visitou a nossa Secção, alertou para isso e definiu como prioridade nacional trazer os jovens para a política, torná-la mais apelativa. É verdade que a média etária dos nossos militantes é mais avançada, mas temos visto jovens a contactar-nos, alguns até com formação académica relevante, que percebem a política como uma forma de intervir na vida pública. Ainda não tivemos quem queira assumir cargos dentro da Secção, mas existe essa curiosidade, até mesmo de jovens filhos de portugueses que já não falam a língua, mas que veem no PSD uma ligação às suas raízes. O que temos tentado fazer é diversificar a comunicação: usar canais digitais, como grupos de WhatsApp, apostar numa comunicação mais direta e próxima. Mas ainda há um longo caminho a percorrer para que a política e as nossas Secções se tornem realmente atrativas para os jovens.

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Considera que o PSD também precisa de se modernizar internamente, nomeadamente através da possibilidade de eleições pela internet, sobretudo para facilitar a participação dos militantes no estrangeiro?

Eu queria só deixar aqui duas ideias. Nós, na nossa Secção do PSD em Strasbourg, a nível interno do Partido, achamos que é importante continuar a batalhar para permitir as eleições pela internet dentro do PSD. É uma nota que considero essencial deixar. As Secções do estrangeiro têm vindo a lutar há anos por essa possibilidade, para que um dia isso seja realidade. É interessante ver, por exemplo, que até nas eleições internas do Presidente do Benfica – e digo isto mesmo não sendo benfiquista, mas acompanhando o futebol – já está em debate a hipótese de se votar pela internet. Acho que é fundamental que a sociedade portuguesa comece finalmente a abrir os olhos para essa possibilidade. E isso tem de começar pelos partidos políticos, pelas associações, pelos clubes. Gostemos ou não, o futebol tem um peso enorme em Portugal, tal como a religião. Por isso, futebol, partidos e associações devem dar o exemplo. No fundo, o nosso objetivo é que os milhões de portugueses no estrangeiro possam um dia votar pela internet. Mas isso só será possível a partir do momento em que essa prática for democratizada em Portugal. É por isso que temos de continuar a lutar, dentro da estrutura do PSD, por esse princípio básico: garantir que todos os militantes, onde quer que estejam, possam participar nas eleições internas também através da internet.

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O que pensa da escolha de Emídio Sousa para o cargo de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas? E qual balanço faz destes primeiros meses de mandato?

Não quero adiantar grandes comentários, porque acabam por ser escolhas políticas. É óbvio que ficámos surpreendidos – acho que essa é a palavra certa – com a não recondução de José Cesário. Ele conhece profundamente a máquina diplomática, o Ministério dos Negócios Estrangeiros. É, provavelmente, uma das poucas pessoas que a conhece por dentro, e isso é extremamente importante. Infelizmente, ainda não tive oportunidade de me cruzar pessoalmente com o novo Secretário de Estado em Strasbourg. Houve um primeiro contacto formal, mas ainda não trocámos impressões, nem a nível da Secção do PSD, nem enquanto Conselheiro das Comunidades Portuguesas. O que posso dizer é que desejo sucesso ao Dr. Emídio Sousa. É importante que saiba que estamos disponíveis para apoiar, dialogar e trazer ideias e iniciativas. Mas também é justo reconhecer o trabalho do José Cesário, que deixou um legado inestimável. Agora, como Deputado na Assembleia da República, ele continua a ser uma mais-valia para os Portugueses no estrangeiro, e esperamos que possa continuar a representar-nos com a mesma dedicação de sempre.