Sylvie Santos uma vida portuguesa sem esquecer a França

Filha de pais montemorenses, Sylvie Santos nasceu em Villeneuve-Saint-Georges (91), viveu em Yerres, e regressou a Portugal ainda muito jovem, mas mesmo assim, a França continua bastante presente na sua memória.

Atualmente é candidata Independente, embora pelo Partido Socialista, às eleições autárquicas em Montemor-o-Novo.

 

No dia de hoje sente-se mais francesa ou portuguesa?

Os anos que vivi na França foram escassos, e a minha convivência com a sociedade francesa não foi suficiente para que hoje me possa sentir cidadã gaulesa. Não tenho a nacionalidade francesa, nem eu nem a minha irmã, podíamos ter optado por ela aos 18 anos, mas viemos tão pequenas que não pensámos nisso.

 

Que percurso escolar fez na região parisiense?

Nunca fui escolarizada no país onde nasci. Os meus pais emigraram em 1961 e regressaram em 1976. Antes pensaram, se as filhas iriam para a escola em França ou para Portugal. Na altura a minha irmã mais velha estava quase a entrar para a escola primária, e optaram por regressar à terra. A questão dos meus pais foi sempre regressar o mais depressa possível a Montemor-o-Novo.

 

Depois de 15 anos na França, a adaptação dos seus pais foi fácil?

Quando abalou de Portugal, a minha mãe ainda não tinha 18 anos, acabou por ter um tipo de alimentação não tão alentejana quanto isso e continuou mesmo em Portugal a fazer uma cozinha francesa. Quando íamos fazer as nossas compras a Badajoz, na vizinha Espanha, os meus pais compravam sempre produtos franceses aos quais estavam habituados, que na altura ainda não se encontravam em Portugal. Depois do regresso houve um pequeno período de adaptação, mas as raízes estavam cá e não foi muito difícil. O gosto a que estávamos habituados a determinados produtos ficou, ainda hoje nas festas do Natal, começamos sempre por os patés e o foie gras. Também houve palavras que ficaram e ainda hoje as aplicamos sem reparar que são palavras estrangeiras.

 

E para si, como correu a sua adaptação e escolarização em Portugal?

Não foi nada complicada. Estava familiarizada com a terra, sabia falar português. Comecei na escola primária até ao secundário em Montemor, seguiu-se a Universidade de Beja e por fim acabei por tirar um curso superior especializado, em desenvolvimento pessoal e social, na Universidade de Évora.

 

Nunca pensou em ser professora de francês?

Foi uma opção à qual nunca pensei. Optei pelo curso de educação especial. A parte social, a parte da deficiência, foi uma área que sempre gostei, que sempre me interessou, esteve sempre nos meus genes. Nestes últimos anos estive ligada a vários agrupamentos escolares, Alcácer do Sal e Arraiolos. Atualmente sou efetiva no agrupamento de Vendas Novas mas no próximo ano letivo vou ficar em Montemor-o-Novo, no departamento de educação especial e apoio educativo, aquele a que pertenço.

 

Depois da vida profissional estabilizada, veio o interesse pela política?

Esta nova fase política é mais recente, já estive ligada ao Movimento Cívico pró Montemor nas Eleições Autárquicas de 2013, sempre houve em mim o bichinho de tentar fazer alguma coisa. Não entro na política enquanto militante de Partido algum, entro como Independente, é sobretudo uma opção ligada às 10 pessoas, vindas de várias áreas profissionais e estudantes, que compõem esta equipa do Partido Socialista. Foi o convite do Olímpio Galvão, cabeça de lista, que me interessou, pensei bem e aceitei, porque a ideia era ter uma candidatura livre, aberta, ouvir os cidadãos, estarmos de acordo ou não, mais aceitarmos as críticas e podermos fazer a diferença, trazer a mudança a uma cidade que é dirigida pelo mesmo partido há 40 anos. Fui incentivada pela minha família, aceitei este desafio achando que a minha experiência em termos de ligação à educação, pudesse ser útil.

 

Além do ensino, da implicação na vida social e política em Portugal, o facto de ter nascido em França criou em si algumas afinidades com o país?

De uma certa maneira sim. Ainda percebo bem a língua embora me custe a falar, por vezes quando oiço falar francês, até me apetece falar também. O meu pai sempre foi muito agarrado à terra, a minha mãe tinha um espírito mais aventureiro um grande sentido de emancipação. O facto da minha mãe ter falecido muito cedo, fez com que se perdessem muitas vivências com a cultura francesa. Na minha memória de França, o que eu tenho é sobretudo as lembranças das visitas que fazíamos a casa dos meus tios, as escolas das minhas primas, os supermercados que me pareciam enormes. Enquanto muitas pessoas iam para a praia, nós íamos para a região parisiense passar férias. Entretanto o restante da minha família também regressou definitivamente ao Alentejo, continuamos a ter muitas visitas de casais franceses ou lusodescendentes, mas a minhas viagens à França foram interrompidas.

 

Pensa um dia regressar ao país onde nasceu?

O facto de ter nascido em França marcou a minha existência, mas nunca tive essa intenção. No entanto há situações que me surpreendem. Quando há jogos de futebol entre a França e Portugal, o meu marido brinca sempre comigo, se estou a favor do país onde nasci ou do país onde fiz a minha vida, claro, estou sempre a favor de Portugal, mas se tiver de torcer em segundo lugar por um pais, é pela França. Muitas vezes digo à minha filha, em termos de escolha, se algum dia tiveres de ir trabalhar para algum lado, vai para a França. Por enquanto não senti nenhuma tendência particular pela vida francesa, vou seguindo, mas não tenho muitas afinidades, só uma afeição em relação ao país em si. A última vez que lá estive foi há 2 anos, fui visitar Paris e a Eurodisney com a família, não tive a oportunidade de ir até à cidade onde nasci. Estou a planear, com o meu pai e a minha irmã, de fazer uma viagem à França, não de avião, mas de automóvel, para ver se ainda reconhecemos as estradas por onde passámos e os sítios onde vivemos. Acredito que tudo esteja muito diferente, mas é um projeto que queremos tornar realidade.

 

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LusoJornal