Lusa | André Kosters

Tiago Rodrigues diz que língua portuguesa vai ser convidada em Avignon

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O encenador português Tiago Rodrigues, Diretor do Festival de Avignon, garantiu esta semana que a língua portuguesa vai ser umas das línguas convidadas para o evento francês durante o seu mandato.

Sobre o trabalho à frente do festival, que mobiliza anualmente milhares de espectadores e que atribui a Avignon uma dimensão de “centro nevrálgico do teatro mundial”, Tiago Rodrigues disse que a língua portuguesa será uma das convidadas durante o seu mandato, que vai começar com o inglês, como já revelou antes à imprensa francesa.

“Tendo um Diretor português, não posso ser provinciano ao ponto de omitir a possibilidade ao público mundial de contactar com a língua portuguesa. Não há ainda ano marcado, mas haverá língua portuguesa”, disse, numa entrevista promovida pelo Clube de Jornalistas, em parceria com a agência Lusa e a Escola Superior de Comunicação Social, no âmbito dos 50 anos das comemorações do 25 de Abril e dos 40 anos do clube.

Na entrevista, Tiago Rodrigues considerou que “o teatro é uma bolsa de resistência e de pensamento”.

“O questionamento do que somos enquanto nação e país raramente é apoiado pelas políticas culturais; e esta noção de que os teatros escapam aos radares é uma bolsa de resistência e pensamento. Hoje mais indispensável do que alguma vez foi”, disse Tiago Rodrigues.

Tiago Rodrigues, encenador e dramaturgo, e que assumiu este mês de setembro a Direção do festival de teatro de Avignon, explicou que o que lhe interessa no teatro e na criação teatral é “uma dimensão de intervenção”.

“É um teatro do questionamento, da pergunta e não da resposta, e a grande questão é sempre trabalhar para aprender a formular a pergunta. Eu não julgo que o teatro seja ação política. O teatro, quando muito, é uma antecâmara que leva à rua. É na rua que acontece a ação política”, sublinhou.

Tiago Rodrigues, que foi nomeado Diretor daquele festival no verão de 2021, recordou que estava em viagem, dentro do carro, rumo a Avignon, no dia em que começou a invasão militar da Rússia na Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano. “Há essa coincidência que na altura foi difícil de decifrar. Foi interessante que senti que estava a mudar de vida de uma forma determinante num momento em que a vida mudava para muita gente no mundo e na Ucrânia. O meu primeiro gesto, chegando a França como ainda futuro Diretor, foi pôr-me em contacto com Diretores franceses”, para acolher e apoiar artistas ucranianos, recordou Tiago Rodrigues.

Recordando o seu percurso e aquele que terá sido o ‘clique’ que o levou a ser o homem do teatro que é hoje, Tiago Rodrigues apontou o Parque Mayer e os vinis de Raul Solnado.

“Quando era miúdo ia ao Parque Mayer, aquilo era incrível, era incrível. Para mim, o teatro era, e em grande medida talvez ainda seja, o Parque Mayer: o bulício, a festa, as farturas, a conversa. Claro que, como criança, não vivi o parque Mayer das reuniões conspirativas nos bastidores, mas era um Parque Mayer onde ainda transpirava essa história anterior ao 25 abril de 1974”, contou.

A “segunda coisa” que o marcou na infância foram “os ‘singles’ em vinil do Raul Solnado: ‘Meu capitão fiz um prisioneiro. Onde é que ele está? Não quis vir’”, lembrou, acrescentando que esses vinis da guerra e muitos outros eram coisas que ouvia repetidamente.

Mais tarde, no liceu da Amadora juntou-se a um grupo de teatro dirigido por um professor de sociologia, “um professor estoico”, daqueles que “passa no corredor, vê um miúdo com ar estranho e convida-o a fazer uma audição”.

Juntavam-se ao sábado de manhã para fazer teatro e isso confirmou que era “um sítio onde podia ser feliz”, embora, à altura, não soubesse que ia ser a sua profissão, o que descobriu mais tarde quando já trabalhava com os Artistas Unidos e Jorge Silva Melo. “Durante muito tempo tive a certeza que o teatro não era muito feliz comigo, ou que não tinha grande apetência para o teatro, mas eu era tão feliz com o teatro, que queria lá saber se os outros achavam que eu não era grande coisa, que queria era fazer aquilo, e ainda é isso que eu faço, quero lá saber se não é grande coisa, a mim dá-me tanto gozo”.

 

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