Um jardim de Paris vai ter o nome de Mário SoaresCarlos Pereira·Comunidade·10 Dezembro, 2025 A próxima reunião do Conselho de Paris, que vai ter lugar entre os dias 16 e 19 de dezembro, tem agendadas duas propostas de homenagem a Mário Soares: um dos jardins de Paris vai ter o nome do antigo Presidente da República portuguesa e uma placa vai ser colocada na rua onde viveu. A informação foi divulgada ontem pelo Conselheiro de Paris – antigo Maire Adjoint – Hermano Sanches Ruivo e já consta da ordem do dia da próxima sessão do Conselho de Paris. Este órgão municipal reúne-se “entre 4 e 10 vezes por ano” e a sessão da próxima semana é a última de 2025. É nesta instância que os Deputados municipais debatem, chumbam, alteram ou aprovam, numa maratona de quatro dias, as centenas de propostas que são submetidas. Um jardim no bairro Belleville O futuro Jardim Mário Soares situa-se no 20° bairro de Paris, no 50 rue Pixérécourt e a proposta vai ser defendida no Conselho de Paris pelos Maires-Adjoints Laurence Patrice, com o pelouro da Memória e dos antigos combatentes, Arnaud Ngatcha, com o pelouro da Europa, das Relações internacionais e da francofonia, e Christophe Najdovski, com o pelouro da vegetalização dos espaços públicos, espaços verdes e biodiversidade. “Propõe-se prestar homenagem a Mário Soares, figura maior da democracia portuguesa e da construção europeia” lê-se no texto que vai ser submetido a votação. “Mário Soares, nascido em Lisboa em 1924, envolve-se desde os tempos de estudante na luta contra a ditadura portuguesa. Tornando-se advogado em 1957, defende numerosos presos políticos e sofre perseguições, encarceramentos e o exílio para São Tomé em 1968. Em 1970, obrigado ao exílio, instala-se em Paris, onde leciona em Vincennes e depois em Rennes, criando vínculos sólidos com os meios intelectuais e políticos franceses. Durante este exílio, a Ação Socialista Portuguesa, fundada em 1964, transforma-se em 1973 no Partido Socialista Português”. “Em 1974, após a Revolução dos Cravos, regressa a Portugal e torna-se Ministro dos Negócios Estrangeiros, desempenhando um papel essencial na descolonização e no reconhecimento internacional do novo regime. Contribui para a vitória do Partido Socialista nas primeiras eleições democráticas que têm lugar em 1976. Primeiro-Ministro por duas vezes, entre 1976 e 1978 e depois entre 1983 e 1985, conduz o país no caminho da modernização e inicia as negociações para a adesão à Comunidade Económica Europeia, concretizada em 1986. Nesse mesmo ano, é eleito Presidente da República, cargo que ocupa até 1996. Primeiro Chefe de Estado civil em Portugal após 60 anos, instaura e encarna a estabilidade democrática” lê-se ainda no texto. Os autarcas de Paris lembram ainda que “a sua passagem por Paris foi determinante: aí encontrou refúgio, inspiração e apoio, consolidando relações duradouras entre a França e Portugal. Mário Soares permanece uma figura emblemática da transição democrática portuguesa e um artífice da integração europeia. Faleceu em janeiro de 2017, em Lisboa”. O jardim escolhido para esta homenagem foi inaugurado em 1984, ainda sem nome, e cobre cerca de 1.500 metros quadrados. Possui zonas de jogos plenamente integradas na vida do bairro, bem como canteiros de flores e roseiras arbustivas. Uma placa na rua Garibaldi A proposta de uma placa comemorativa em homenagem a Mário Soares num edifício do 17 boulevard Garibaldi, em Paris 15, vai ser apresentada pela Maire Adjointe Laurence Patrice. O edifício é de construção recente, mas era neste número 17 que Mário Soares viveu quando esteve exilado na capital francesa. “Para honrar a sua memória e saudar a amizade que une o povo português à França – e, mais particularmente, a Paris” o Executivo parisiense propõe a colocação da placa com os dizeres: “Mário Soares 1924-2017 Homme d’État Portugais, vécut ici de 1970 à 1974. Éminent acteur de la Révolution des œillets, il a œuvré toute sa vie pour défendre la démocratie dans son pays”. Laurence Patrice lembra que Mário Soares foi um “estadista e figura histórica da oposição às ditaduras portuguesas de António Salazar e Marcelo Caetano”. “De 1970 a 1974, Mário Soares exila-se em Paris, de onde continua a trabalhar para o regresso da democracia ao seu país. Troca ideias com numerosos representantes políticos internacionais, entre os quais François Mitterrand. Durante a sua estadia em Paris, vive nomeadamente no 15º bairro, num estúdio situado no nº 17 do boulevard Garibaldi” e é por isso que ali vai ser colocada a placa, mesmo se o edifício em questão deu lugar a um outro mais recente. “Ao longo de todos os seus mandatos, Mário Soares manteve sempre boas relações com a França – em particular com François Mitterrand, então Presidente da República. Por essa razão, tornou-se membro do Alto Conselho da Francofonia e recebeu várias distinções francesas, entre as quais a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito e a Légion d’Honneur” lembra ainda o documento que vai ser proposta ao voto do Conselho de Paris. Hermano Sanches Ruivo diz-se “feliz” Enquanto Conselheiro de Paris, Hermano Sanches Ruivo diz ter uma “particular satisfação em participar na apresentação e na votação de duas deliberações que prestam homenagem a Mário Soares, figura maior da democracia portuguesa e da construção europeia” e explica que com estas duas iniciativas, a autarquia “deseja inscrever ainda mais o nome de Mário Soares na História de Paris”. O antigo Maire Adjoint de Anne Hidalgo considera “feliz que estas homenagens sejam apresentadas e votadas no mesmo momento em que o Conselho de Paris terá de votar a deliberação 2025 DAC 495 relativa à afixação de uma placa comemorativa em homenagem a François Mitterrand no 22 rue de Bièvre” no 5° bairro da capital, onde morou o antigo Chefe de Estado francês. “Eles eram amigos e trabalharam tanto para a construção europeia como para o reforço dos laços entre a França e Portugal”. António Tabucchi também vai ser homenageado Curiosamente, também o escritor italiano António Tabucchi vai ser homenageado com uma “allée” no Parc Montsouris, no 14° bairro de Paris. Antonio Tabucchi (1943-2012) foi um escritor, tradutor e professor italiano, considerado um dos grandes nomes da literatura europeia contemporânea. Nasceu em Vecchiano, perto de Pisa, mas faleceu em Lisboa, cidade que se tornou sua segunda pátria. Durante os tempos em que estudou em Paris, António Tabucchi leu uma tradução francesa do poema “Tabacaria” de Fernando Pessoa e ficou fascinado. Isso levou-o a aprender português e dedicar-se à obra de Fernando Pessoa, que traduziu integralmente para o italiano junto com sua esposa, a lusitanista Marie-José de Lancastre.