Lusa / Inácio Rosa

“Uma Vida Desenhada”: Exposição do “parisiense” Manuel Cargaleiro em Castelo Branco

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Nesta semana em que se assinala (mais uma vez sem especiais festejos devido à situação sanitária) o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas poder falar de um artista português que vive em França e tem nome internacional, é uma solução possível. Se a exposição tem lugar em Portugal, a verdade é que a nossa Embaixada em Paris exibe neste momento, como sabem e podem visitar, uma monumental obra sua. Mas esta crónica é também convite para um programa cultural nas vossas férias de verão.

Acaba de ser inaugurada, no Museu Manuel Cargaleiro de Castelo Branco, a exposição “Uma Vida Desenhada” (*) com cerca de 200 desenhos do artista, na maioria inéditos. Sendo natural da região (Vila Velha de Ródão) e sem nunca ter deixado de estabelecer fortes relações com Portugal, onde tem numerosos trabalhos em Museus e espaços urbanos, Mestre Cargaleiro vive em Paris desde 1957 e, com os seus 94 anos de idade, é o decano dos artistas portugueses.

A exposição foi pensada para revelar uma zona menos conhecida do seu trabalho e escolhida a partir de um fundo dos cerca de dois mil originais que fazem parte da Fundação que leva o seu nome. No conjunto o Museu possui centenas de outras obras (suas, de outros artistas seus contemporâneos ou de cerâmica e azulejaria cobrindo um período que vai da presença muçulmana na Península Ibérica aos dias de hoje).

A vasta escolha de desenhos permite estabelecer uma viagem fascinante e muito diversificada entre os anos de 1950 do século passado, quando a sua autoria se começou a afirmar, e a década de vinte deste século. São setenta anos de inesgotável vontade criativa, intensa e sempre rica nas suas propostas temáticas e formais, de abertura a novos caminhos, de afirmação de uma poética de alegria e partilha.

Através dos seus desenhos o Mestre lança pontes de interpretação para todas as dimensões da sua obra (dos seus trabalhos cerâmicos e azulejaria à pintura) e a exposição prepara-nos para entender melhor a génese formal e temática do restante trabalho, os diálogos que estabelece quer com a tradição dos saberes artesanais que tanto aprecia quer com história da arte do seu tempo – amigo que foi dos grandes artistas da Segunda Escola de Paris, notoriamente de Vieira da Silva.

A ligação íntima que estabelece com a natureza transmite-a Cargaleiro na captação da riqueza da luz, através da cor ou de integração dos ritmos e dinâmicas dos elementos naturais, numa tensão e diálogo permanentes entre a irrupção livre do vegetal e a disciplina do gesto geométrico, entre a sugestão figurativa e a aproximação não-figurativa, entre a mancha solta e a sua organização em padrões.

São estes alguns dos fios de sensibilidade e racionalidade que a exposição pretende tornar evidentes organizando longas séries de desenhos, estabelecendo aproximações formais e temáticas entre diferentes tempos, sublinhando as coerências e continuidades, as aberturas, desvios e retomas que ligam todo o conjunto.

E é esta lição de alegria e viver que vos espera em Castelo Branco.

Boas escolhas culturais e até para a semana

 

(*) Declaração de interesses: o autor desta crónica é o Comissário da exposição que aqui se apresenta.

 

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão às 02h30, 05h45, 06h45, 10h30, 13h15, 16h15 e 20h00.

 

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