Boa Notícia: Não é um concurso de popularidade

O Evangelho deste domingo é o final de um longo episódio que iniciou há 5 semanas atrás com a multiplicação dos pães e dos peixes, prosseguiu com o “discurso do pão da vida” e hoje conclui-se com a(s) resposta(s) dos discípulos à proposta de Jesus.

Para os “discípulos” de que se fala na primeira parte do nosso texto, a proposta de Jesus é inadmissível, excessiva para a força humana. Eles não estão dispostos a renunciar aos seus próprios projetos de ambição e de realização humana, a embarcar com Jesus no caminho do amor e da entrega, a fazer da própria vida um serviço e uma partilha com os irmãos. Esse caminho parece-lhes, além de demasiado exigente, um caminho ilógico. Confrontados com a radicalidade do caminho do Reino, eles não estão dispostos a arriscar. Esses discípulos que raciocinam segundo a “lógica do mundo” seguem Jesus pelas razões erradas (a glória, o poder, a fácil satisfação das necessidades materiais mais básicas). A sua adesão a Jesus é apenas exterior e superficial.

Confirmada a deserção desses “discípulos”, Jesus pede ao grupo mais restrito dos “Doze” que façam a sua escolha: «Também vós quereis ir embora?». Repare-se que Jesus não suaviza as suas exigências, nem atenua a dureza das suas palavras… Ele está disposto a correr o risco de ficar sem discípulos, mas não está disposto a prescindir da radicalidade do seu projeto. Não é uma questão de teimosia ou de não querer dar o braço a torcer; mas Jesus sabe que o caminho que Ele propõe – o caminho do amor, do serviço, da partilha, da entrega – é o único caminho por onde é possível chegar à vida plena… Por isso, Ele não pode mudar uma vírgula ao seu discurso e à sua proposta. Resta agora aos “discípulos” aceitá-la ou rejeitá-la.

Muitas vezes sentimos na Igreja uma grande preocupação à volta dos números: «Quantos somos? Quantos participaram? Quantos se inscreveram?…» Nesta página do Evangelho, Jesus não parece estar tão preocupado com o número de discípulos que continuarão a segui-l’O, quanto com o manter a verdade e a coerência do seu projeto. Ele não faz cedências fáceis para ter êxito e para captar a benevolência e os aplausos das multidões, pois o Reino de Deus não é um concurso de popularidade…

Muitas vezes tentamos “suavizar” as exigências do Evangelho, a fim de que ele seja mais facilmente aceite pelos homens do nosso tempo… Temos de ter cuidado para não desvirtuarmos a proposta de Jesus e para não despojarmos o Evangelho daquilo que ele tem de verdadeiramente transformador. O que deve preocupar-nos não é tanto o número de pessoas que vão à Igreja; mas é, sobretudo, o grau de radicalidade com que vivemos e testemunhamos no mundo a proposta de Jesus.