Home Cultura Éditions Chandeigne publica Frei Gaspar da Cruz e Miguel Torga – Da Ásia portuguesa de Quinhentos à ruralidade do Estado NovoNuno Gomes Garcia·8 Junho, 2022Cultura [pro_ad_display_adzone id=”37509″] A Éditions Chandeigne lançou, na passada sexta-feira, dois clássicos portugueses de grande relevância, embora de épocas totalmente distintas: “Merveilles de la Chine”, de Gaspar da Cruz, e “Bestiaire”, de Miguel Torga. Frei Gaspar da Cruz, missionário dominicano português do século XVI, não chegou a ver publicada a sua obra “Tratado das Cousas da China”, pois morreu em Setúbal em 1570, depois de ter regressado alguns meses antes a Lisboa, então a braços com uma das epidemias de peste que rotineiramente devastavam as grandes cidades europeias. Nascido na década de 1520, em Évora, Frei Gaspar passou vários anos em Malaca, Goa, Camboja e China e aproveitou esta sua experiência para escrever este “Tratado” que consiste no primeiro texto impresso dedicado às “cousas da China” publicado na Europa. Um “tratado” que se baseia mais no conhecimento resultante da leitura de fontes do que do conhecimento direto, visto que Frei Gaspar passou apenas algumas semanas em Cantão. Tempo suficiente, contudo, para se impressionar com a “multidão de gente, em grandeza de reino, em excelência de polícia e governo, e em abundância de possessões e riquezas” que a China, a mais antiga civilização a manter uma certa coesão cultural e territorial até aos nossos dias, revelava por esses anos. Com o título “Merveilles de la Chine”, este “tratado” reflete de modo exemplar a curiosidade humanista de Quinhentos que atravessou o meio intelectual da época e que abriu a Europa à China. Uma relação que descambou em opressão colonial depois das duas Guerras do Ópio, em meados do século XIX, e que obrigou a civilização chinesa a arrastar-se na lama até ao despertar atual. Certas projeções que o “Império do Meio” está prestes a tornar-se a primeira potência mundial, pondo ponto final à anomalia do domínio ocidental na Ásia iniciada pelos conquistadores portugueses há quinhentos anos. Já o “Bestiaire” de Miguel Torga foi publicado em Portugal em 1940 com o título “Bichos” e tornou-se, desde então, num dos clássicos da literatura portuguesa. São quatorze contos, portanto, que têm como personagens principais animais que travam combates contra a natureza, os humanos e até contra Deus. Torga, bem ao seu estilo, mistura mitos da ruralidade com mitos religiosos, usando para isso o espaço montanhoso do nordeste português. [pro_ad_display_adzone id=”46664″]