EHPAD: Manuel Nabais diz que muitos idosos nos lares “faleceram de isolamento e de tristeza”

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]

 

Manuel Nabais Ramos é Diretor Geral de uma rede de Lares de terceira idade na Nouvelle Aquitaine, com sede em Pessac (33), e considera que, com a pandemia de Covid-19 “vamos ter que aprender a viver de maneira diferente” disse ao LusoJornal. “Temos que ser muito vigilantes a nível de máscaras, a nível de medicamentos, temos de começar já a preparar-nos para a hipótese de virmos a ter uma outra pandemia”.

“Penso que devemos repensar as coisas de forma diferente, devemos pensar como vamos construir os lares de idosos medicalizados de amanhã, temos que imaginar tudo. Este é o trabalho dos arquitetos, dos sociólogos e o nosso trabalho de cada um, pensar diferentemente para que, se infelizmente outra pandemia surgir, os nossos idosos não fiquem confinados num quarto porque isso é uma tristeza. Há um ano que vejo isso nos nossos estabelecimentos. É muito difícil do ponto de vista humano e nós não podemos continuar a tratar os nossos idosos desta mesma maneira, é difícil para eles, é difícil para as famílias, para os funcionários e para toda a gente. A nossa responsabilidade agora é de imaginar como devem ser os estabelecimentos de amanhã”.

Originário de Sabugal, Manuel Nabais é o Diretor Geral da Association des Foyers d’Agés (AFA), uma associação sem fins lucrativos, com 34 anos de existência, com 9 estabelecimentos na região de Bordeaux até aos Pyrénées, acolhendo 650 idosos e com 850 colaboradores, desde quadros dirigentes, administrativos, médicos, psicólogos, enfermeiros, cozinheiros, animadores, jardineiros,…

“É uma associação privada, sem fins lucrativos e com habilitação a 100% para apoio social, isto é, mesmo os idosos mais carenciados são também acolhidos”.

Para além dos idosos que acolhe nos seus 9 Lares, a AFA acolhe também idosos que vão dormir a casa e apenas passam o dia nos Centros. “Por vezes as famílias trazem-nos ou nós também temos veículos próprios e vamos buscá-los para passarem o dia nos nossos Centros, a ouvir música, a desenhar, a fazer animações, a fazerem ginástica, por vezes ginástica aquática… é uma forma de os acompanhar, para progressivamente eles integrarem também os nossos estabelecimentos” diz Manuel Nabais numa entrevista-vídeo ao LusoJornal.

 

Confinamento foi “dramático”

Quando, em março de 2020, o Governo francês decidiu fechar os Lares às famílias, tudo teve de ser feito em menos de 24 horas. “Foi difícil” confirma Manuel Nabais. “Eu nunca pensei que houvesse uma mobilização assim tão importante, para pôr tudo em ordem imediatamente. Tivemos que fechar os estabelecimentos, mas também era necessário ver como é que se devia gerir o bem-estar dos residentes, como é que os podíamos proteger… foram noites sem dormir, foi um momento extremamente complicado”.

De uma maneira geral, as famílias aceitaram a decisão, e sabiam que era também para o bem dos idosos. Mas, “há sempre 2 ou 3 famílias por cada estabelecimento que não querem compreender a situação, que não apoiam os funcionários, apesar destes fazerem um trabalho admirável. Faz parte da vida”.

Ainda agora, as famílias não podem passar muito tempo nos Lares. “Muitos só podem ver o pai e a mãe uma vez por semana, e por vezes só 20 ou 30 minutos, são momentos de vida extremamente difíceis, nós conseguimos fazer ligações por vídeo é mantemos sempre uma ligação entre os residentes e as famílias”.

“Os residentes sentiram-se muito abatidos durante este período. Isto é um drama, é um verdadeiro drama” confessa ao LusoJornal. “Nós temos que fazer com que não volte a acontecer esta situação. Os residentes ficaram durante semanas e por vezes meses fechados nos quartos, muitos faleceram de isolamento e de tristeza”.

Apesar de todas as precauções, em cerca de metade dos Lares geridos pela AFA houve casos de Covid-19. Atualmente só 30% dos funcionários aceitaram fazer as vacinas – “nós não os podemos obrigá-los, porque é a liberdade de cada um” diz o Diretor Geral da instituição – mas os residentes, quase 80% já foram vacinados ou estão em vias de o ser. Apenas ficam de fora os utentes que sofrem de polipatologias e não podem receber vacinas.

 

Portugal tem condições para ver novos projetos

Manuel Nabais tem uma formação eclética. Fez uma tese de doutoramento em História contemporânea no Instituto de estudos políticos de Bordeaux, depois fez uma segunda tese de doutoramento em Direito público sobre a figura do Governador Civil – “uma figura que não existia em França” – com a particularidade do orientador da tese ter sido o então professor Marcelo Rebelo de Sousa. Tem aliás um livro sobre este assunto editado pelas Editions L’Harmattan.

Há 8 anos que trabalha na AFA e é o Diretor Geral da estrutura há mais de 4 anos.

Por enquanto diz que não pensa regressar a Portugal, porque está a ocupar-se de novos projetos para a AFA, como por exemplo a destruição e construção de um novo Lar junto a Bordeaux.

Mas considera que em Portugal há condições para desenvolver Lares específicos para idosos com a doença de Alzheimer. Tem estado atento a projetos que foram desenvolvidos na Holanda e também na região de Dax, a sul de Bordeaux, “onde se construiu uma aldeia exclusivamente reservada a doentes de Alzheimer”. “Eu penso que em Portugal temos aldeias que estão desertas e temos lá oportunidades de construir pequenas unidades de Alzheimer” diz ao LusoJornal. “Esta é uma reflexão pessoal” e deixa este “apelo” aos Presidentes das Câmaras Municipais e aos Poderes públicos portugueses.

 

Veja a entrevista AQUI.

 

[pro_ad_display_adzone id=”41079″]