Embaixador Jorge Torres Pereira presidiu às comemorações da Batalha de La Lys

[pro_ad_display_adzone id=”37510″]

 

 

O Embaixador de Portugal em França, Jorge Torres Pereira, presidiu às comemorações dos 104 anos da Batalha de La Lys que começaram ontem, dia 2 de abril, em Richebourg e em La Couture. Como o Governo tomou posse há poucos dias, não houve tempo de programar a presença de membros do Governo, como costuma ser habitual.

No entanto, a representação militar foi bastante importante, chefiada pelo próprio Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Portugal, Almirante António Silva Ribeiro. Também esteve presente o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de França, General Thierry Burkhard, o Chefe do Estado-Maior do Exército Português, General José Nunes da Fonseca, e o Chefe do Estado-Maior do Exército Francês, General Pierre Schill.

“Anualmente fazemos esta cerimónia de evocação dos militares portugueses que em 1918, no dia 9 de abril, se bateram pelo valor fundamental da nossa sociedade que é a paz. É evidente que a paz é um bem muito frágil e precisa de ser cultivada e é por isso que nós todos os anos fazemos esta cerimónia” disse ao LusoJornal o Almirante António Silva Ribeiro. “Este ano adquire um significado suplementar na medida em que há guerra na Europa e mais do que nunca nós precisamos de mostrar às novas gerações quão importante é a via pacífica da resolução dos conflitos para que se evitem os horrores da guerra”.

O Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Portugal discursou no Cemitério Militar Português de Richebourg, onde estão sepultados 1.831 soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP) que participou na I Guerra mundial, no norte da França.

A cerimónia começou com o hino dos dois países, a intervenção do Maire de Richebourg – que terminou o discurso em português – e do Presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-General Chito Rodrigues.

A evocação religiosa foi feita pelo Bispo das Forças Armadas, D. Rui Valério.

Estava também presente o Cônsul-Geral de Portugal em Paris, Carlos Oliveira, a Coordenadora do Ensino Português em França, Adelaide Cristóvão, os Cônsules Honorários de Portugal em Lille, Bruno Cavaco, e em Gand, Bruno Joos de Ter Beerst, o historiador Georges Viaud, o escritor Manuel do Nascimento, assim como várias personalidades francesas e representantes associativos. Estava também presente uma delegação de militares das Forças Armadas Portuguesas junto da NATO e da União Europeia na Bélgica, assim como jovens das Academias Militares.

Desta vez o Cemitério Militar Português apresentou cara nova, depois de obras de manutenção. Foi feita uma rampa de acesso para pessoas com mobilidade reduzida, foi colocada uma caixa com o livro que contém a lista dos soldados sepultados no cemitério, foram colocadas duas novas lápides em substituição de lápides partidas pelas raízes de uma árvore, foi colocada uma nova placa de orientação e informação na entrada do cemitério e sobretudo foi renovada toda a área relvada.

“O Cemitério tem sido uma preocupação permanente da Liga dos Combatentes. Por vezes, os nossos desejos estão muito condicionados por alguns apoios financeiros que nós temos que obter, porque a Liga dos Combatentes, como sabe, vive de apoios e das quotas dos sócios” explicou ao LusoJornal o Presidente da Liga dos Combatentes.

Também o Talhão Português no Cemitério de Boulogne sofreu intervenção “depois de muitos anos de insistência. O Momento estava praticamente a cair. Hoje está um monumento digno e hoje, é um Cemitério com 44 campas que honra as Forças Armadas Portuguesas, honra a Liga dos Combatentes e Honra Portugal, porque honrando os nossos mortos, estamos a honrar a Pátria” completou Chito Rodrigues.

 

Embaixador quer que o esforço dos soldados não tenha sido “em vão”

A segunda parte da cerimónia teve lugar junto ao Monumento de homenagem ao soldado português, em La Couture, onde se ouviram as intervenções do Maire de La Couture, da Sous-Préfète de Béthune e do Embaixador português.

Jorge Torres Pereira disse que noutras ocasiões, as comemorações da Batalha de La Lys serviam para honrar aqueles que fizeram “o sacrifício máximo” na participação do CEP na I Guerra mundial. “Era uma evocação feliz porque as lições de La Lys tinham sido, de certa forma, compreendidas e tínhamos tido paz. Este ano, a situação é diferente, e eu tive a ocasião de referir que há coisas que nos pareciam impossíveis, como o reaparecimento de armas químicas, como uma guerra aberta na Europa depois de uma invasão expansionista de uma máquina militar, a lembrar-nos o que aconteceu em ocasiões anteriores, assim como a própria possibilidade de um afrontamento direto das grandes potências nucleares” referiu Jorge Torres Pereira ao LusoJornal. “Eu penso que seria uma espécie de ‘ter sido em vão’, o sacrifício dos soldados portugueses em La Lys, se nós nos precipitássemos precisamente para uma guerra e para uma catástrofe. Nós temos que repetir que, o importante aqui é não repetirmos o que fizemos pelo passado. Urge acabar com esta guerra”.

Presente nas cerimónias estava um dos netos do Soldado Milhões, o soldado raso mais condecorado de sempre, e que participou na I Guerra mundial. “Sinto um grande orgulho em estar aqui a representar a minha família, sendo neto de Aníbal Augusto Milhais, o Soldado Milhões, que esteve neste preciso sítio durante a Guerra, em condições extremamente difíceis e que partilhou com todos aqueles que, como ele, vieram para estas terras defender os ideais da paz, da liberdade, da democracia”.

Eduardo Pinheiro disse ao LusoJornal que “felizmente o meu avô conseguiu regressar, mas muitos deles, que acabamos de visitar, não tiveram essa mesma oportunidade. Por isso, para além da dimensão pessoal, porque não posso dissociar a minha presença aqui da memória do meu avô, não deixa de ter também um simbolismo cívico, no sentido de ser importante, e até dada a atualidade, lembrar-nos todos os dias que a paz, a liberdade, não são valores adquiridos, devemos pensar neles sempre como um processo em curso e em construção”.

Eduardo Pinheiro esteve em Richebourg e em La Courure acompanhado por Mário Artur Lopes, Presidente da Câmara Municipal de Murça, o concelho onde nasceu o Soldado Milhões, e que tem estabelecido contactos de amizade com as duas localidades francesas.

Aliás, por iniciativa do Cônsul Honorário de Portugal em Lille, Bruno Cavaco, foi projetado, na Igreja de Richebourg, e pela primeira vez em França, o filme “Soldado Milhões” (2018) de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa.

 

Inaugurado um Jardim Português da Paz em Richebourg

A grande novidade das cerimónias deste ano da Batalha de La Lys, foi a inauguração oficial de um Jardim Português da Paz, em Richebourg.

O projeto foi pilotado pela associação Arts et Jardins, que tenciona realizar 35 Jardins da Paz no norte da França.

O jardim “português” foi concebido pelo arquiteto Ricardo Gomes da KWY.Studios, conjuntamente com a paisagista Baldios. “Existe um cemitério, existe um memorial, e o que nós pretendemos fazer com este Jardim, é criar um lugar, mais apontado ao futuro, onde a memória da Guerra possa, de alguma forma, dizer que se pretende a paz”.

Trata-se de uma “mesa” circular, onde as pessoas podem sentar-se “para conversar, dialogar, refletir”, explica Ricardo Gomes ao LusoJornal.

À volta da mesa vão ser plantadas cerca de mil árvores. “O que irá tornar a mesa como um espaço mais protegido. No futuro, o caminho será feito pela floresta e só quando se chega junto à mesa é que se vê o céu, é que se vê luz sobre esse espaço”. Só daqui por uns 10 anos é que o efeito pretendido será atingido.

Para já, os convidados plantaram simbolicamente uma das árvores.

A placa de apresentação do Jardim Português da Paz tem a particularidade de ser escrita em francês e em inglês… sem tradução em português! E diz que “mais de 7.000 soldados portugueses morreram na Batalha de La Lys”, o que, evidentemente, é falso! No total da I Guerra mundial, teriam morrido pouco mais de 2.600 soldados do Corpo Expedicionário Português, cujos nomes estão aliás escritos no Anneau de la Mémoire, em Notre-Dame-de-Lorette, a poucos quilómetros de Richebourg.

 

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]

 

LusoJornal