Carina Branco Home Comunidade Emigrantes lesados do BES de novo em protesto em Paris «não se vão calar»Carina Branco, Lusa·18 Março, 2018Comunidade Os Emigrantes lesados do ex-Banco Espírito Santo (BES) voltaram a manifestar-se, ontem, junto à Embaixada de Portugal em Paris, e dizem que «não se vão calar». A manifestação foi organizada pelo grupo Emigrantes Lesados Unidos para denunciar a falta de proposta comercial para os clientes que subscreveram os produtos financeiros EG Premium e EuroAforro 10 e para reclamar ao Fundo de Resolução 31,7% do capital investido, depois de um acordo com o Novo Banco que lhes vai dar acesso a 75% do dinheiro nos próximos anos. Figura habitual nos protestos dos emigrantes lesados do BES, em Paris, Manuel José Ferreira voltou a manifestar-se e levou consigo a «forquilha do diabo» que o acompanhou a todas as manifestações na capital francesa. «Desde 2014 que a trago comigo. Isto é o símbolo do diabo e este banco não foi o diabo para nós, foi o inferno. Muitas pessoas estão doentes – que eu conheço – paralisadas até, outras já se suicidaram. A gente está à espera do dinheiro porque precisa do dinheiro. Agora mandaram 60% para o banco, mas está bloqueado cinco anos», afirmou. O Português de 63 anos, há 47 a viver em França, contou que a própria esposa está com uma depressão e referiu que ele próprio vai continuar a lutar para reaver a totalidade do capital que depositou no banco e «em solidariedade» para com os que ainda não têm qualquer proposta comercial. «Eu penso que a uma certa altura vão ter vergonha porque as pessoas não se vão calar. Isto são pessoas de uma certa idade que não têm nada a perder», afirmou o emigrante que assinou, em agosto do ano passado, a proposta comercial do Novo Banco para recuperar 75% do dinheiro investido numa conta a prazo por cinco anos. Com um cartaz onde se lia «EG Premium igual a zero», José Azevedo, de 72 anos, quer continuar a manifestar porque quer recuperar os cem mil euros, as poupanças previstas para «o fim da vida», que tinha no produto EG Premium, que lhe garantiram ser uma conta a prazo. «Isso é mesmo o que se chama roubar descaradamente. Todos a prometer coisas e é ver aquele que mais mente. O poder político sabe, toda a gente em Portugal sabe que houve um assalto aos emigrantes que foi programado. Vieram de Portugal incentivar pessoas a mudar dinheiro para estas contas dizendo que era seguro e, no fundo, lixaram-nos e elas ficaram sem nada», explicou o português que vive em França há 46 anos. Também Graça Cruxinho detinha as suas poupanças numa conta que diz que foi «batizada como EG Premium» e agora está «a viver uma grande depressão», depois de ter emigrado para França com 26 anos e estar «sem nada» aos 61. «Tenho as minhas poupanças lá há mais de 20 anos, fiz confiança num banco que me traiu (…). O dinheiro que tenho está-me a fazer muita falta. Estou com a idade de parar de trabalhar e não posso parar», contou a portuguesa, sublinhando que «é uma coisa injusta que estão a fazer» depois de «se trabalhar uma vida inteira». Um dos organizadores do protesto, Carlos Costa dos Santos, destacou que «há quem não tenha assinado proposta nenhuma» e esteja «sem nada», pelo que as manifestações vão continuar até ser encontrada uma solução para todos. «É novamente um novo protesto contra o Banco de Portugal porque é responsável da nossa situação. Estamos aqui para reclamar o resto do nosso dinheiro. Há aqui pessoas que assinaram a última proposta, há pessoas que não assinaram e há outras pessoas que têm produtos sem solução», explicou. Com 82 anos, Manuel Nunes é um dos que não assinou nem a primeira nem a segunda propostas comerciais do Novo Banco porque não queria «bloquear o dinheiro» tendo em conta a sua idade. «Na minha idade não vou bloquear mais dinheiro. Não sei se tenho mais dois dias ou mais dois anos a viver e vivo sozinho. Vou bloquear o dinheiro porquê? Já lá está há 10 anos bloqueado», contou o português de Pombal que reside em França há 53 anos. Amélia Reis, que organizou o primeiro protesto dos emigrantes lesados do ex-BES, em 30 de maio de 2015, em frente à sede do Novo Banco em Paris, assinou a última proposta comercial do Novo Banco, mas vai continuar a manifestar-se porque «há que ser solidários». Presente ainda na manifestação esteva Adriano do Vale Salgueiro, membro do Secretariado do Bloco de Esquerda (BE) França e Europa, que assegurou que o Partido vai continuar a participar nos protestos. «Já lá vão quase quatro anos desde que a solução do BES interveio, houve avanços com este Governo mas o acordo é de 75% do dinheiro e após um depósito a prazo a cinco anos. É uma loucura e há gente que não tem solução para dois produtos. Dar 100% do depósito que era um depósito que devia ser seguro é o mínimo que se pode fazer a estas pessoas», concluiu. A Associação Movimento Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP) – cujos dirigentes não estiveram presentes no protesto de ontem – anunciou, a 09 de março, «avanços significativos» nas negociações para encontrar uma solução para os clientes dos produtos EG Premium e EuroAforro 10, sem se comprometer com uma data para a sua conclusão. [pro_ad_display_adzone id=”906″]