Lusa | Miguel A. Lopes

Euro’24: Félix ‘treme’ e Portugal despede-se com medo da própria sombra


Portugal caiu ontem nos penáltis (5-3) nos quartos de final do Euro’24 de futebol perante a França, após novo ‘nulo’, com João Félix a vestir o papel de ‘vilão’ e Portugal a ter ‘medo’ do seu próprio potencial.

Em Hamburgo, numa partida que foi muitas vezes ‘aborrecida’ tal o receio das duas equipas em arriscar, a Seleção portuguesa mostrou que tem talento e qualidade em ‘excesso’ e, no Volksparkstadion, chegou em certas alturas a ser superior ao seu adversário, mas faltou ambição e confiança no seu jogo para ir mais longe.

Tal como já tinha acontecido com a Eslovénia, Portugal deixou a decisão seguir para penáltis e, desta vez, Diogo Costa foi impotente para parar os remates gauleses, enquanto João Félix acertou no poste direito, na única grande penalidade falhada pela formação de Roberto Martínez.

Antes da falta de pontaria (ou excesso dela) de Félix, a seleção lusa até criou algumas oportunidades e podia ter mesmo marcado, a mais sonante no último lance do prolongamento, com Nuno Mendes a ter todas as condições para impedir os penáltis.

O Selecionador nacional prometeu uma equipa preparada e na máxima força, e assim cumpriu, mas Portugal despede-se do torneio com um sabor bem amargo, já que fica a ideia que, com mais ambição, mais confiança nas suas capacidades e menos receio de arriscar, a equipa das ‘quinas’ tinha todas as condições para ir mais longe.

Mesmo caindo perante a poderosa França, atual vice-campeã mundial, uma presença nos ‘quartos’ acaba por saber a pouco, num torneio em que perdeu com a Geórgia, naquela que foi a sua pior derrota de sempre em fases finais de Europeus, e em que não foi capaz de eliminar a Eslovénia de uma forma mais dominadora, tal a diferença de valores entre as duas nações.

Sem surpresa, Roberto Martínez apresentou o mesmo ‘onze’ que defrontou a Eslovénia, novamente com Pepe no centro da defesa, apesar do desgaste físico do central de 41 anos no jogo dos ‘oitavos’, e novamente com uma linha de quatro.

Cedo se percebeu que o plano do selecionador nacional, num jogo que se esperava muito tático e assim o foi, era apostar nas arrancadas de Rafael Leão na esquerda, quando houvesse espaço, com o extremo sempre na frente e sem ordens para recuar.

A verdade é que a história da primeira parte foi curta e sem muito para contar para resumos futuros, com dois remates de Bruno Fernandes, ambos falhar o alvo, a preencher o nível ofensivo luso, e Diogo Costa a defender um remate potente de Theo Hernandez do lado gaulês.

Mesmo assim, se calhar, foi muito para duas equipas que praticamente pareciam ter feito ‘tréguas’ e em que era quase proibido arriscar.

A segunda parte ganhou velocidade e mais emoção nos primeiros minutos, com Bruno Fernandes e Vitinha a terem os dois oportunidades claras para dar a vantagem a Portugal, em lances com boas intervenções do guarda-redes Maignan, seguindo de lances galeses também com perigo, com Camavinga e Kolo Muani a falharem por muito pouco o alvo.

O nulo foi-se mantendo e a ‘paz’ regressou ao Volksparkstadion, com as duas equipas novamente a preferirem trocas de bola lentas e sem consequência nos respetivos meios campos.

Dembele foi lançado na França e veio complicar a vida a Nuno Mendes, um dos melhores em campo e em todo o torneio, com Martínez a responder com as entradas de Semedo e Francisco Conceição para os lugares de Cancelo e Bruno Fernandes, este último a acontecer com muita surpresa, tal o peso e a importância que o médio do Manchester United tem tido na seleção nacional.

O prolongamento arrancou com remate de Ronaldo, já dentro da área, por cima, naquele que foi praticamente o único lance que o avançado, grande parte das vezes completamente ausente da partida, teve em todo o jogo para finalizar.

A primeira parte do prolongamento foi quase toda de Portugal, acontecendo o mesmo na segunda, naquela foi talvez o momento chave do jogo.

Mbappé já não estava em campo, Portugal estava a ser claramente superior, mas faltou audácia e ambição para chegar ao golo e fugir aos penáltis.

Félix, que rendeu Rafael Leão, ainda acertou nas malhas laterais e Nuno Mendes, completamente solto à entrada da área, nos últimos segundos desta fase, atirou fraco, com o seu pior pé, o direito, à figura de Maignan.

Seguiram-se os penáltis e desta vez a França falou mais alto, com João Félix a ficar para a história como jogador que falhou o penálti que afastou Portugal do Euro2024.

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Luís Garoupa e António João Oliveira, Lusa

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