Jorge Campos: “José Luís Carneiro pode reconstruir o Partido Socialista”

Jorge Campos é um dos rostos históricos da Secção do Partido Socialista português em Lyon. Secretário-Coordenador há vários anos, ele testemunhou a evolução (e erosão) da militância socialista na cidade francesa, onde a Comunidade portuguesa esteve em tempos fortemente mobilizada. Entre desilusões políticas, fidelidade aos valores socialistas e esperança renovada em José Luís Carneiro, Jorge Campos faz um retrato lúcido da situação do Partido Socialista.

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Qual é o papel da Secção do Partido Socialista português em Lyon?

Sou o Secretário-Coordenador da Secção de Lyon há muitos anos. Quando o antigo Secretário-Coordenador se demitiu, sendo eu o número dois da lista, assumi o cargo. Desde então, os anos passaram, o panorama político foi mudando, mas eu continuei. Hoje, fazemos parte de um pequeno núcleo de 10 a 12 pessoas que permanecem fiéis aos valores e princípios do socialismo. Durante muito tempo, procurámos dinamizar a vida política local: organizámos campanhas, jantares, almoços de confraternização e discutíamos os temas dos congressos. Tínhamos cerca de 80 militantes. Infelizmente, hoje somos poucos. O desencanto com a política e algumas decisões de líderes socialistas contribuíram para esse afastamento.

Como vê a evolução do PS em Portugal nos últimos anos?

Infelizmente, o que se passou em Portugal teve um impacto direto na nossa Secção e em muitas outras que conheço. Houve comportamentos pouco honestos, decisões que mancharam a imagem do partido. O caso José Sócrates deixou um rasto difícil de apagar. António Costa, por quem muitos tinham esperança, acabou por nos desiludir ao deixar o Governo por conveniência própria. E Pedro Nuno Santos, que podia trazer uma nova energia, também acabou por deixar um rasto pouco positivo, sobretudo com a polémica da TAP. Eu não deixo de ser socialista. Sempre serei. Mas esses episódios fizeram com que muitas pessoas nos virem as costas. Hoje, quando falamos do PS, ouvimos frequentemente: “É isso ser socialista? Então não vale a pena”. É difícil continuar a mobilizar com este cenário.

O Chega tem crescido muito entre os Portugueses, também em França. Como vê essa ascensão?

Vejo esse crescimento com preocupação. O Chega tem um discurso que seduz muitos jovens entre os 30 e os 40 anos. Falam de forma violenta, egoísta, centrada apenas nos próprios interesses. E isso, infelizmente, atrai. Há um grande desinteresse político entre os jovens portugueses no estrangeiro. Não conhecem a política, não se interessam, e quando o fazem, é pelos discursos mais radicais. Na nossa Secção, não temos jovens. A maioria tem entre 55 e 70 anos. E apesar de tudo, mantemos viva a chama socialista, mesmo num contexto difícil.

Acredita que o PS pode voltar a ser a principal força política em Portugal?

Não será fácil. As memórias ainda estão muito vivas. Para o PS voltar a ser visto como uma alternativa credível, seria necessário que a AD e o Chega protagonizassem políticas realmente desastrosas. Mas acredito no nosso camarada José Luís Carneiro. É um homem ponderado, com valores sólidos, próximo das pessoas. A Secção de Lyon deu-lhe o nosso apoio para Secretário-Geral e confiamos que ele possa reconstruir o partido nos próximos cinco anos. É a nossa esperança.