José da Silva: o último guarda do Cemitério militar português de Richebourg

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Por ocasião dos 103 anos do início da Batalha de La Lys, o LusoJornal entrevistou o último soldado guarda do Cemitério militar português de Richebourg, no norte da França, José da Silva, colecionador e promotor de exposições relacionadas com a participação portuguesa na I Guerra mundial.

Desde a criação do Cemitério de Richebourg, houve apenas 3 guardas: o primeiro terá guardado o cemitério até 1964, Francisco Duarte ocupou o posto entre 1964 e 1994 e José da Silva esteve em funções entre janeiro de 1996 e dezembro de 2000.

Do primeiro guarda, Eduardo, sabemos que participou na Guerra, que foi gazeado durante o combate, que ficou por França no fim do conflito e casou cá, ocupando o cargo de guarda de 1926 a 1964, data do seu falecimento. Desempenhou tarefa importante na transladação dos corpos entre outros cemitérios e o de Richebourg.

Francisco Duarte, furriel miliciano, depois de ter feito serviço militar na Índia, veio para Richebourg de 1964 a 1994, altura em que se reformou, tendo ficado por França mais um ano, esperando ser substituído.

José da Silva iniciou a sua carreira militar em Santa Margarida, depois de ter percorrido diversos quartéis, passando também pelo Cemitério de Richebourg, acabou por se aposentar em 2005.

Ser guarda do Cemitério militar português de Richebourg é ter um estatuto único. Era necessário estar em fim de carreira, conhecer a língua francesa e conhecer a história de Portugal.

“Senti-me honrado por ter sido nomeado, para além de ter que agradecer a um camarada de curso que tinha sido indigitado para o lugar de guarda do Cemitério de Richebourg, contudo conhecendo o problema de saúde da minha esposa, propôs-me a mim para o substituir” disse ao LusoJornal. “Foi para mim uma honra poder prestar homenagem aos 1.831 soldados portugueses que repousam em Richebourg”.

José da Silva conta que “fazia de guarda, contudo eu próprio tomei a iniciativa de zelar pelo cemitério, zelar para que as cerimónias do 9 de abril se passassem da melhor maneira. Entrei em funções em janeiro de 1996 e em abril estava tudo pronto para as cerimónias, mas degradado estava! Ainda hoje, nas exposições que faço, apresento a bandeira que lá encontrei quando lá cheguei. Enquanto lá estive, vinha gente de todos os horizontes, cheguei a ir buscar gente a La Bassée e andar com eles por Richebourg, La Couture, Neuve Chapelle… e mesmo Antuérpia e Ambleteuse. Para poder melhor indicar as campas a quem visitasse o cemitério, uma das minhas primeiras tarefas foi a de fazer o levantamento do nome de todos os soldados que ali estavam sepultados”.

Interrogado sobre as obras realizadas durante a sua passagem por França, José da Silva conta que “as obras que fizemos, foi a limpeza geral dos muros e as suas pinturas. Sei que os muros eram, noutros tempos, mais altos, acho que o dinheiro teria sido melhor empregue nas campas do que em baixarem os muros. Um dos outros trabalhos que fazia regularmente era o de pulverizar as campas com um produto, em dias de orvalho, a fim de as limpar. Campas houve que, ao caírem, eu colocava de pé, enterrando um ferro no chão para as segurar, material que era adquirido pelos meus próprios fundos. Foram campas que colocámos de pé, com o nosso sangue, suor e lágrimas, porque doía um bocadinho”.

Ser enviado para Portugal depois de 4 anos de serviço em Franca foi, para José da Silva, uma “autêntica surpresa”. “Sempre pensei que a minha estadia em França terminasse na data da minha reforma. Começámos por ver tirar dois Oficiais da Embaixada, onde estavam representadas as três Armas, ficou apenas uma” contou ao LusoJornal, numa entrevista vídeo realizada no dia 9 de abril. “Ao ser-me anunciado que devia regressar a Portugal, disseram-me que Portugal não tinha dinheiro para manter um soldado no estrangeiro, contudo fiz requerimento para ficar mais dois anos, até à data não recebi resposta a esse meu pedido. Saí de França com o sentimento do dever cumprido, mas estava preparado para cumprir outra missão em Richebourg”.

O antigo guarda do cemitério confessa que ficou com “o sentimento de abandono do cemitério pelas nossas autoridades” e pergunta: “O que foi feito do material que lá deixei? Isto revolta-me porque tanto lutei para termos lá o que tínhamos, aliás algum material saiu-me do meu próprio suor, material que deixei na arrecadação ao fundo do cemitério, do lado esquerdo, lá estavam igualmente, no mínimo, 8 lápides de soldados dados como mortos, mas que não se sabia onde, campas que nunca chegaram a ser colocadas no devido local”.

Durante a estadia em França, José da Silva começou a colecionar material relacionado com a I Guerra mundial, tendo continuado a adquirir pelas feiras em Portugal. Possui, nomeadamente, o capacete do Capitão Azenhas Mendes e um diário de um Tenente-coronel francês que faleceu em 1917.

José da Silva possui material que lhe permite realizar exposições, tanto em interiores como em exteriores, tendo o sonho de poder expor todo o material num museu dedicado ao tema. Até lá, vai continuar a visitar escolas “para explicar a nossa participação na I Guerra mundial, enquanto as forças me permitam”.

 

Os trabalhos de José da Silva podem ser seguidas nas redes sociais, na página “A Casa do Guarda” que anima e que pode ser consultada AQUI.

 

Ver a entrevista AQUI.

 

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