Opinião: Os trabalhos (quase) secretos de um conselheiro cultural

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O que faz um ‘Attaché culturel’ nos tempos que passam? Ou, melhor, nos tempos que, agora, não passam? O seu papel é, por natureza, discreto. É um facilitador das iniciativas que lhe são apresentadas pelos agentes culturais interessados na cultura do seu país e um promotor de algumas iniciativas próprias, enquadrando tudo num programa anual e temático que o orçamento dispensado lhe permite alcançar.

Se o país que representa não tiver uma sede onde faça representar a sua cultura – é o caso de Portugal – essa discrição torna-se obrigatória e até conveniente.

Mas nos dias de hoje, mesmo os mais fortes Centros culturais de Paris (alemães, ingleses, italianos, espanhóis, canadianos, checos, húngaros…) se fecham sobre si, anulam iniciativas, vivem online. Uma das forças dos Centros culturais é saírem da esfera evidentemente mais restrita dos eventos das suas Embaixadas e oferecerem-se aos públicos da cidade em iniciativas conjuntas. Para os pequenos Centros é essa mesmo a única hipótese de visibilidade.

Duas redes se cruzam e beneficiam o Camões – Centro cultural português em Paris: a EUNIC, que reúne os Centros culturais dos países da União europeia e o FICEP, que reúne estes e os Centros de todos os outros países – uma federação tão inclusiva que tem representantes de Taiwan e da República Popular da China, da Catalunha e de Espanha, Curdos e Turcos.

Em maio de 2020, anulámos a Noite da Literatura em “presentiel” para a organizarmos online (Portugal apresentou a última tradução de Mia Couto), anulámos totalmente a Semana das culturas estrangeiras, que marcava a “rentrée”, e voltámos a usar a transmissão online para o festival Jazzycolors que era sempre um momento de intensa partilha entre os públicos (apresentámos um concerto do grupo Jardim Jazz homenageando Amália no seu centenário). Este ano, anulámos já a Semana dos Cinemas estrangeiros, vamos repetir online a Noite da Literatura (dia 29 de maio) e, pessimistas, preparamo-nos para ter que pensar todas a outras iniciativas do ano nos mesmos esquemas distanciais.

A EUNIC pôde manter, o ano passado e este também, a sua exposição “Visages d’Europe” apenas porque é concebida, desde 2019, como uma apresentação exterior, nas grades da Tour Saint Jacques, perto do Hôtel de Ville. Mas teve que anular as “Promenades européennes”, o cinema e alguns eventos musicais, todos promovidos em torno do Dia da Europa, em maio.

Vejam que é muita matéria para se sentir um Conselheiro cultural deprimido e impotente… Felizmente, no caso português, as nossas aulas de ensino e certificação da língua para adultos puderam continuar e o apoio aos leitorados espalhados por várias universidades francesas também. Mas foi a intensa preparação da “Temporada Portugal-França 2022” que ocupou quase todos os espaços e tempos deixados vazios por esta pandemia: um trabalho quase secreto de diplomacia cultural e científica, exercido nos dois países, que passou a mobilizar conjuntamente, na Embaixada, o Turismo e a AICEP e, em Portugal, desde final de 2020, numerosos departamentos e organismos oficiais.

Eu disse quase porque, paralelamente, a PPUE criou condições para podermos realizar na Embaixada de Portugal em Paris uma Exposição de Escultura Contemporânea. Dela vos falarei em breve com a promessa de que o Embaixador encontrou solução que essa exposição não fique como mostra secreta para os privilegiados Embaixadores europeus, Ministros e Secretários de Estado franceses e portugueses que por ali passam, intensamente, em trabalho.

Boas escolhas culturais e até para a semana

 

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão às 02h30, 05h45, 06h45, 10h30, 13h15, 16h15 e 20h00.

 

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