Pelo terceiro ano consecutivo, um grupo de portugueses fez alheiras transmontanas… em Lyon

No sábado passado, dia 11 de janeiro, várias famílias portuguesas oriundas da região de Trás-os-Montes e residentes em Lyon desde os anos 60, reuniram-se para preparar, seguindo a receita ancestral, as famosas alheiras transmontanas.

“Somos perto de trinta pessoas, de várias famílias, mas quase todos desta região de Trás-os-Montes. E este já é o terceiro ano em que nos reunimos para confecionarmos as nossas próprias alheiras. Este ano, o número de alheiras chegou perto das seis centenas, que depois partilhamos entre as famílias” disse Lurdes Birra, a anfitriã do encontro, que acolheu na sua própria casa este grupo insólito de fabricantes de alheiras transmontanas.

Foi um dia de trabalho para todos, primeiro a cortar as carnes e depois a cozer em grandes panelas, à lareira, como manda a tradição, e depois ainda a encher as tripas. Tudo foi respeitado a rigor, como se fazia antigamente e ainda se faz por terras Transmontanas.

As várias fases foram respeitadas, desde o preparar das diferentes carnes, o cozer e desfazer as mesmas em grandes alguidares, com os devidos temperos. Finalmente chegou o momento de “encher” as tripas naturais preparadas antecipadamente. Tudo isto foi preparado minuciosamente pelas mulheres deste grupo. Alguns homens tinham a seu cargo a preparação das lenhas para alimentarem as fogueiras.

“Respeitámos tudo, os ingredientes e o saber fazer. As tripas vieram de Portugal, mas são naturais, assim como todos os temperos e também os métodos e o tempo da preparação” contou Maria Batista ao LusoJornal. “Mas também o facto de pormos o fumeiro ao fumo, com ramos de loureiro a arder, para ficar o cheiro e o sabor”.

A senhora Julieta, oriunda da Beira Alta, mais propriamente de Vilares, perto de Trancoso, assistiu à preparação e comentou: “Nós também fazemos da mesma maneira, só os condimentos é que diferem, e também fazemos só com carne de galinha, misturando apenas um pouco de carne de porco”.

“Esta tradição é muito antiga. Já vem do tempo em que pelas nossas terras havia muitos Judeus” concluiu Julieta. “É nesta época do ano que se fazem as alheiras, depois da matança do porco, em geral no mês de janeiro, que é quando está mais frio e tudo se conserva melhor”.

Em Lyon também se vivem certas tradições portuguesas, como aqui os enchidos, e em particular as Alheiras à moda de Trás-os-Montes, sobretudo nas famílias que emigraram para estas terras nos anos sessenta, e desejam hoje perpetuar estes modos de vida simples, mas cheios de valores humanos e de sabores inesquecíveis, transmitindo-os aos filhos.