Poemas para um dois de novembro

Neste dia em que festejamos os que nos deixaram, publicamos dois poemas de amigos que me confiaram seus dizeres em poesia.

O primeiro poema é de José Sabino, amigo que nos deixou há dois anos e com o qual gravei entrevista que um dia servirá para contar um pouco da sua vida e da acção que teve na criação da primeira associação portuguesa do Norte de França. É um dos “históricos” da vida associativa. Antes de partir provoquei encontro com outro “histórico”, o Belmiro Ramos, que tem hoje 97 anos. Gravei igualmente conversa de dois fundadores, mas que na altura, já há uns trinta anos que não se viam.

O segundo poema é de outro amigo, o José Grenha. Atualmente a viver na região de Paris. Fez parte da Associação dos Antigos Combatentes, desenvolveu comércio entre França e Portugal, um amante da poesia que muito ajuda nas lutas da sua vida.

Dois amigos, dois pensares em poesia…

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Já findou a dinastia

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Teminou o meu reinado

Já findou a dinastia

Acabaram-se os cuidados

Na luta do dia a dia.

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Chegou o último dia

Da vida que eu venci

Como não fui eu que a escolhi

Peço a Deus de ser meu guia

Para a minha nova estadia

Meu coração está parado

Afeição não pode dar

Os meus órgãos estão gelados

Na terra se vão esconder

Tranquilo posso jazer

Para purgar meus pecados

Perante os Poderes Sagrados

Sempre Deus foi o meu guia

Lutando com valentia

A morte foi quem vingou

Como o Criador me chamou

Já findou a dinastia.

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A minha vida passou-se

Com amor e com paixões

Mas à força de ilusões

A minha alma apagou-se

A minha voz calou-se

Nunca mais dança mais brado

Os carinhos estão esgotados

Mais ninguém posso chamar

Nada mais tenho a pensar

Acabaram-se os carinhos.

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Desapareço para sempre

Mais ninguém me torna a ver

Terminou o meu viver

Vou descansar eternamente

Vou-me juntar a outra gente

E a quem me fez companhia

Sou lançado à terra fria

Depois de ter adormecido

Eu não mais quebro o sentido

Na luta do dia a dia.

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Poema 79

José Sabino

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A morte

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Quando a morte vier

esperá-la-ei tranquilo

Já nada me mete medo

mas enquanto cá estiver

lutarei contra quem vier

mesmo que seja à sorte.

Serei contra tudo e todos

mesmo contra a morte.

A morte: a morte é por assim dizer

uma vida que acaba

e outra a renascer.

A morte é por vezes

um vivificador

que vai atenuar

toda uma dor.

A morte é o dizer não

é o acabar com uma vida de solidão

é o dizer sim

é o dizer não

a um mundo podre, sem compaixão

A morte é um acabar de amar

é o estar só

é o deixar de sonhar

Quando ela vier

esperá-la-ei de pé

lutarei até à exaustão

antes de cair de joelhos

no chão.

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José Couto Alves Grenha

31/12/1997

 

LusoJornal