Home Cultura Poemas para um dois de novembroAntónio Marrucho·2 Novembro, 2018Cultura Neste dia em que festejamos os que nos deixaram, publicamos dois poemas de amigos que me confiaram seus dizeres em poesia. O primeiro poema é de José Sabino, amigo que nos deixou há dois anos e com o qual gravei entrevista que um dia servirá para contar um pouco da sua vida e da acção que teve na criação da primeira associação portuguesa do Norte de França. É um dos “históricos” da vida associativa. Antes de partir provoquei encontro com outro “histórico”, o Belmiro Ramos, que tem hoje 97 anos. Gravei igualmente conversa de dois fundadores, mas que na altura, já há uns trinta anos que não se viam. O segundo poema é de outro amigo, o José Grenha. Atualmente a viver na região de Paris. Fez parte da Associação dos Antigos Combatentes, desenvolveu comércio entre França e Portugal, um amante da poesia que muito ajuda nas lutas da sua vida. Dois amigos, dois pensares em poesia… . Já findou a dinastia . Teminou o meu reinado Já findou a dinastia Acabaram-se os cuidados Na luta do dia a dia. . Chegou o último dia Da vida que eu venci Como não fui eu que a escolhi Peço a Deus de ser meu guia Para a minha nova estadia Meu coração está parado Afeição não pode dar Os meus órgãos estão gelados Na terra se vão esconder Tranquilo posso jazer Para purgar meus pecados Perante os Poderes Sagrados Sempre Deus foi o meu guia Lutando com valentia A morte foi quem vingou Como o Criador me chamou Já findou a dinastia. . A minha vida passou-se Com amor e com paixões Mas à força de ilusões A minha alma apagou-se A minha voz calou-se Nunca mais dança mais brado Os carinhos estão esgotados Mais ninguém posso chamar Nada mais tenho a pensar Acabaram-se os carinhos. . Desapareço para sempre Mais ninguém me torna a ver Terminou o meu viver Vou descansar eternamente Vou-me juntar a outra gente E a quem me fez companhia Sou lançado à terra fria Depois de ter adormecido Eu não mais quebro o sentido Na luta do dia a dia. . Poema 79 José Sabino . — . A morte . Quando a morte vier esperá-la-ei tranquilo Já nada me mete medo mas enquanto cá estiver lutarei contra quem vier mesmo que seja à sorte. Serei contra tudo e todos mesmo contra a morte. A morte: a morte é por assim dizer uma vida que acaba e outra a renascer. A morte é por vezes um vivificador que vai atenuar toda uma dor. A morte é o dizer não é o acabar com uma vida de solidão é o dizer sim é o dizer não a um mundo podre, sem compaixão A morte é um acabar de amar é o estar só é o deixar de sonhar Quando ela vier esperá-la-ei de pé lutarei até à exaustão antes de cair de joelhos no chão. . José Couto Alves Grenha 31/12/1997