Neste dia em que festejamos os que nos deixaram, publicamos dois poemas de amigos que me confiaram seus dizeres em poesia.
O primeiro poema é de José Sabino, amigo que nos deixou há dois anos e com o qual gravei entrevista que um dia servirá para contar um pouco da sua vida e da acção que teve na criação da primeira associação portuguesa do Norte de França. É um dos “históricos” da vida associativa. Antes de partir provoquei encontro com outro “histórico”, o Belmiro Ramos, que tem hoje 97 anos. Gravei igualmente conversa de dois fundadores, mas que na altura, já há uns trinta anos que não se viam.
O segundo poema é de outro amigo, o José Grenha. Atualmente a viver na região de Paris. Fez parte da Associação dos Antigos Combatentes, desenvolveu comércio entre França e Portugal, um amante da poesia que muito ajuda nas lutas da sua vida.
Dois amigos, dois pensares em poesia…
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Já findou a dinastia
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Teminou o meu reinado
Já findou a dinastia
Acabaram-se os cuidados
Na luta do dia a dia.
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Chegou o último dia
Da vida que eu venci
Como não fui eu que a escolhi
Peço a Deus de ser meu guia
Para a minha nova estadia
Meu coração está parado
Afeição não pode dar
Os meus órgãos estão gelados
Na terra se vão esconder
Tranquilo posso jazer
Para purgar meus pecados
Perante os Poderes Sagrados
Sempre Deus foi o meu guia
Lutando com valentia
A morte foi quem vingou
Como o Criador me chamou
Já findou a dinastia.
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A minha vida passou-se
Com amor e com paixões
Mas à força de ilusões
A minha alma apagou-se
A minha voz calou-se
Nunca mais dança mais brado
Os carinhos estão esgotados
Mais ninguém posso chamar
Nada mais tenho a pensar
Acabaram-se os carinhos.
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Desapareço para sempre
Mais ninguém me torna a ver
Terminou o meu viver
Vou descansar eternamente
Vou-me juntar a outra gente
E a quem me fez companhia
Sou lançado à terra fria
Depois de ter adormecido
Eu não mais quebro o sentido
Na luta do dia a dia.
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Poema 79
José Sabino
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A morte
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Quando a morte vier
esperá-la-ei tranquilo
Já nada me mete medo
mas enquanto cá estiver
lutarei contra quem vier
mesmo que seja à sorte.
Serei contra tudo e todos
mesmo contra a morte.
A morte: a morte é por assim dizer
uma vida que acaba
e outra a renascer.
A morte é por vezes
um vivificador
que vai atenuar
toda uma dor.
A morte é o dizer não
é o acabar com uma vida de solidão
é o dizer sim
é o dizer não
a um mundo podre, sem compaixão
A morte é um acabar de amar
é o estar só
é o deixar de sonhar
Quando ela vier
esperá-la-ei de pé
lutarei até à exaustão
antes de cair de joelhos
no chão.
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José Couto Alves Grenha
31/12/1997