Saúde : Os riscos da rinoplastia no estrangeiro


A principal razão que leva cada vez mais portugueses a fazer rinoplastia no estrangeiro, deve-se à busca por um custo mais baixo, ao mesmo tempo que pode ser apelativa a possibilidade de experimentar o turismo médico, ou seja, numa perspetiva muito otimista, aproveitar o período do procedimento para conhecer outro país. Note-se que estão disponíveis, em plataformas on-line, “pacotes” de diferentes níveis (básico ou premium, por exemplo) que incluem, para além dos procedimentos específicos do processo cirúrgico, alojamento e transfer, entre outros, o que contribui para uma dimensão turística da deslocação. Muito importante será referir que o preço estabelecido varia não só com a qualidade do alojamento, mas também com a formação e a experiência do cirurgião.

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Principais riscos

Há vários riscos potenciais. Como se sabe, qualquer procedimento cirúrgico não está isento de complicações. Há a considerar principalmente o correto processo de avaliação do doente no período pré-operatório, o que, na rinoplastia, pode integrar e vertente funcional, tornando-a numa intervenção mais complexa. O risco de infeções destaca-se quando falamos em segurança, quer pela possibilidade de contrair doenças infeciosas em países cuja prática de controlo de infeções não se pauta pelos critérios que observamos em Portugal, nomeadamente se houver necessidade de uma transfusão de sangue, quer pelos processos de esterilização do material cirúrgico, para o qual existem, entre nós, determinações relevantes, aos níveis de métodos e recursos. O risco aumentado de formação de coágulos nas viagens aéreas, feitas antes da data recomendada, deve também ser tido em conta. A viabilidade de acompanhamento pré e pós cirúrgico adequado, por uma equipa qualificada, numa instituição com meios, sobretudo em caso de complicações, é, provavelmente, a questão mais sensível.

É frequente, nos casos em que sou procurado para rinoplastias de revisão realizadas no estrangeiro, perceber o notório desconhecimento que o paciente tinha das condições em que iria realizar o procedimento.

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Cuidados antes de viajar

Em primeiro lugar, é importante fazer uma consulta prévia com o médico assistente, para verificar a regular situação clínica e poder ter consigo registos. Poderá até ser necessário aconselhamento sobre vacinação, para certos países.

É muito importante fazer um seguro que cubra a evacuação médica e a cobertura do tratamento de possíveis complicações pós-cirúrgicas. Podem ocorrer complicações que não tenham a ver especificamente com a área operada, mas necessitem de apoio especializado e urgente que não esteja coberto no contrato realizado com o cirurgião ou a instituição. A falta desta cobertura pode significar uma grande imprudência, de acordo com relatos de pacientes e informação veiculada por serviços consulares.

É muito importante saber as condições e o apoio médico no local onde os pacientes irão permanecer no período de recuperação e identificar inequivocamente quem vai ser responsável pelos cuidados prestados. Não menos importante é a língua em que se vai comunicar. É possível que esta questão seja sensível, nomeadamente, no caso de complicações.

É imprescindível verificar as qualificações do cirurgião e as credenciais da instituição onde vai ser realizada a cirurgia.

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Os critérios

Em primeiro lugar, deverá o paciente assegurar-se da acreditação nacional e/ou internacional das clínicas que, potencialmente, estão no seu espectro de escolha, com a tónica nos padrões de segurança e no equipamento existente. É importante, e porque muitas das instituições funcionam como agências de turismo de saúde, oferecendo “pacotes” inclusivos, que o cirurgião seja passível de ser identificado, para que se perceba a sua formação, especialização na área em causa e experiência profissional. De grande relevância é identificar os serviços disponíveis, os equipamentos existentes e o nível de cuidados pós-operatórios disponibilizados. Trata-se de um processo cirúrgico e não de um procedimento restrito ao bloco operatório.

Porque o turismo médico também se situa em países longínquos, é prudente refletir sobre a duração do voo e o que a mesma implica, quer em termos de potenciais complicações, quer no que se relaciona com custos associados para o paciente e quem o acompanha.

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Dr. Filipe Magalhães Ramos

Otorrinolaringologista

Diretor da clínica FMR, Lisboa e Porto