Trabalhadores da CGD França em greve a partir de terça-feira

A Assembleia Geral dos trabalhadores da Sucursal de França da Caixa Geral de Depósitos, reunida ontem, quinta-feira 12 de abril, convocou «quase unanimemente» uma greve geral ilimitada a partir da próxima terça-feira, dia 17 de abril.

As Assembleias Gerais de Trabalhadores costumam realizar-se à segunda-feira, dia em que as agências estão fechadas, mas por causa das greves dos transportes, desta vez as Organizações Sindicais da Sucursal apelaram para uma greve de meio-dia, na quinta-feira, para a realização da Assembleia Geral dos Trabalhadores.

Segundo Cristina Semblano, Representante dos Trabalhadores da CGD França, eleita pelo sindicado maioritário, «esta greve teve uma forte adesão, ainda mais forte do que a greve anterior». A Assembleia Geral teve lugar na sede da instituição, em Paris e os Representantes do pessoal dizem que 34 das 48 agências estiveram encerradas.

A Assembleia Geral tinha como objetivo analisar as ações a empreender pelos Trabalhadores e as suas estruturas representativas «no que concerne às Condições de Trabalho cada vez mais degradadas e degradantes do pessoal com grave impacto na saúde física e moral dos trabalhadores» diz um comunicado dos Representantes do pessoal.

«Há un turn-over imenso na empresa, como nunca houve antes, com muita gente a ir embora. Nós já nem conhecemos os nossos colegas. Há muitos casos de burn out, há desorganização na empresa» queixa-se Cristina Semblano.

Em causa está também «a perenidade da Sucursal como parte integrante da Instituição Pública, cuja ‘alienação’ está prevista no Plano de Restruturação negociado entre o Governo Português e Bruxelas, num processo de total opacidade em relação aos Trabalhadores, aos seus Orgãos Representativos e à vasta Comunidade emigrante portuguesa implantada neste país» diz o comunicado enviado às redações.

«Sabemos que foi anunciado pelo próprio Presidente do Banco, Paulo Macedo, que a sucursal de França é para alienar. Ele disse-o em conferência de imprensa, os jornalistas divulgaram-no e sobre isso não há dúvidas» diz Cristina Semblano.

A Porta voz do Sindicato maioritário dos Trabalhadores da Sucursal de França da Caixa Geral de Depósitos queixa-se de nunca ter recebido resposta à Carta Aberta que os Trabalhadores enviaram ao Presidente da Comissão Executiva da CGD, em maio de 2017, a pedir esclarecimentos sobre a alienação da sucursal. «Até agora nunca nos respondeu, guardando opacidade sobre esta questão» lamenta Cristina Semblano.

Cristina Semblano lembra que o Presidente do Banco foi chamado à Assembleia da República, onde disse «eu vou lutar para manter a Sucursal». «Isto só quer dizer que do plano faz mesmo parte a alienação desta Sucursal. Até porque ele acrescentou que para guardar a Sucursal tem de ter capital, senão não pode guardar».

Cristina Semblano denuncia o acordo assinado entre o Governo português e a Comissão europeia. «Este acordo só pode ser ilegal. O Governo não pode estar a assinar a alienação de uma empresa sem consultar primeiro o pessoal. Qualquer tribunal francês anulará esta decisão que se fez com total opacidade».

«Lembro que a CGD acabou de negociar novamente o Offshore de Macau e quer vender a Sucursal mais rentável que tem, que está aqui para servir a maior Comunidade portuguesa residente no estrangeiro. Onde está a lógica?»

O comunicado dos Representantes dos trabalhadores refere-se também «à situação salarial dos trabalhadores e respetiva evolução, congelada desde 2016, não obstante os avultados resultados realizados pela estrutura em França».

Cristina Semblano explica ao LusoJornal que não compreende a situação. «Apesar de todas as dificuldades, a Sucursal de França teve lucros importantes e contribuiu em muito para os resultados do banco». Por isso diz que «não é normal que se privatize uma parte da empresa que é rentável, mas também não é normal que os salários continuem congelados e que não haja distribuição de benefícios pelos Trabalhadores».

No entanto, Cristina Semblano diz ao LusoJornal que «há outra alteração grave» em curso. Segundo a Representante do pessoal, «o banco retirou da Sucursal a atividade de Tesouraria, que é responsável por 50% da nossa atividade». Para além da atividade com a rede, esta Sucursal da CGD tinha também esta atividade relacionada com financiamentos internacionais. «Portugal tirou-nos esta atividade de tesouraria desde janeiro, que é responsável por 50% dos nossos resultados e fê-lo à calada, sem informar os Órgãos representativos dos Trabalhadores, o que em França é ilegal. Isto é a prova que eles querem secar as fontes de rendimento da Sucursal» queixa-se ao LusoJornal.

Outro assunto que foi debatido na Assembleia Geral dos Trabalhadores foi a questão da «profusão de projetos inadaptados que, sob pretexto de modernização da Sucursal, absorvem rios de dinheiro, mas conduzem de facto a repetidos e anormais disfuncionamentos, levando à degradação acelerada das condições de trabalho e do serviço à clientela» diz o comunicado dos Representantes dos Trabalhadores.

Cristina Semblano explica que «efetivamente há projetos em curso, nomeadamente na área informática, que supostamente devem melhorar os serviços, mas que na prática trazem o caos para as agências, provocam disfuncionamentos e os trabalhadores são incapazes de servir os clientes».

«Isto não pode continuar» afirma Cristina Semblano. «O pessoal não consegue trabalhar em boas condições e isso repercuta-se na saúde. Temos muita gente de baixa médica há muito tempo e temos casos graves. Para além do mais não estamos a servir bem os nossos clientes».

A convocação de uma greve foi assunto de debate «houve até Sindicatos que não queriam ir já para a greve» diz Cristina Semblano. «Mas foram os Trabalhadores, em Assembleia Geral, que decidiram a convocação desta greve ilimitada. E a Assembleia Geral é soberana».

Segundo a Representante dos Trabalhadores, a Sucursal da CGD em França emprega cerca de 550 Trabalhadores e neste momento ainda não nos foi possível falar com a Direção da Sucursal em França.

 

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LusoJornal