Viseu: Grupo julgado por burla e sequestro de cidadãos franceses

O Tribunal de Viseu iniciou na semana passada o julgamento de quatro arguidos acusados de sequestro e burla qualificada a cidadãos franceses, atraídos para Portugal com a promessa de cuidados e acompanhamento.

Fernanda Costa, de 44 anos e detida desde outubro de 2017, é a única arguida em prisão preventiva no processo, em que também são arguidos o filho de 23 anos, Rúben Lopes, o marido, François Lopes, com 49, e um amigo de 64 anos, Etcheberry Claude. O marido e o amigo estão sujeitos a apresentações periódicas às autoridades.

Segundo a acusação, a mulher seduziria as vítimas, do sexo masculino e já com alguma idade, que acabavam por viajar até Viseu. Recebi-as na sua moradia, juntamente com o marido, o filho e o amigo, um francês reformado da construção civil.

A arguida está acusada dos crimes de associação criminosa, abuso de confiança agravado, burla qualificada, falsificação de documento agravado, violação de correspondência, furto e furto qualificado, burla informática, ofensa à integridade física, sequestro agravado, acesso ilegítimo, abuso de confiança e detenção de arma proibida.

O filho é acusado dos mesmos tipos de crime e está detido com pulseira eletrónica em prisão domiciliária no âmbito de outro processo.

O processo agora julgado refere-se a factos ocorridos em 2016 e 2017.

 

“Ela despiu-se por duas vezes à frente dele”

Na sessão da semana passada, foi ouvida uma testemunha que ajudou duas das vítimas, um cidadão francês e a mulher, que estava em cadeira de rodas.

À chegada a Portugal, o casal ficou na moradia da arguida e depois mudou-se para um apartamento “de onde desapareceram muitas coisas, como ouro e o computador portátil”.

A testemunha contou que este casal foi atraído para este alegado esquema através de um ‘site’ – Camélia -, que anunciava tratamento a pessoas idosas.

“Segundo me contou o senhor Daniel, que tinha 82 ou 84 anos, a dona Fernanda pediu-lhe um cartão e o código e ele deu, de forma voluntária, para pagar contas, com a promessa de devolver o cartão, mas nunca lho deu”, contou Manuel Fernandes em tribunal.

Esta testemunha lembrou que Daniel Lascourreges “estava sem documentos de identificação e sem cartões e cheques e não saía de casa com temor, porque tinha muito medo das ameaças que recebia, apesar de não dizer de quem, e das consequências que poderia ter se saísse ou pedisse os documentos”.

Manuel Fernandes, missionário, contou que conheceu o homem através da filha, que trabalhava para Fernanda Costa e ia ao apartamento levar alimentos. Nesse contexto, percebeu que “a situação do casal se estava a degradar nos últimos meses, com a escassez de alimentos básicos e até de água”.

“Como falo francês, a minha filha telefonou-me e pôs-me em contacto com o senhor Daniel, que me confessou que tinha vindo porque sentiu atração física pela dona Fernanda e que ela o tinha tentado seduzir, despindo-se por duas vezes à frente dele para conseguir alguns benefícios económicos”, relatou.

Segundo a testemunha, a vítima terá perdido cerca de 700 mil euros, entre o dinheiro que lhe foi pedido e levantado da sua conta, inclusive com cheques que diz nunca ter assinado.

Manuel Fernandes esclareceu que foi ele quem levou o casal para fora do apartamento e, mais tarde, de volta a França, para junto da família. De lá trouxe uma procuração para pagar as dívidas deixadas em Portugal, “mas só as relativas ao apartamento, como as rendas em atraso, a água e o gás”.

Na próxima sessão, marcada para dia 03 de abril, vão ser ouvidos Daniel Lascourreges e outras vítimas.

 

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LusoJornal