Comunidade portuguesa também reclama justiça para Maëlys

Largas dezenas de pessoas marcharam ontem, em Pont-de-Beauvoisin, no centro-leste de França, em memória de Maëlys de Araújo e pediram justiça no caso do alegado homicídio da menina lusodescendente, que desapareceu há precisamente um ano.

Vestidas com t-shirts brancas com fotografias impressas da lusodescendente e a segurar imagens da menina com a legenda “Justiça para a Maëlys”, cerca de 250 pessoas largaram balões brancos em frente ao local de onde desapareceu, como foi o caso de Manuel Cardia Lima, Conselheiro das comunidades portuguesas eleito pelas áreas consulares de Lyon e de Marseille. “Decidi vir a esta marcha porque tenho netos da mesma idade e hoje era o dia para estar ao lado dos pais, para dar apoio e para partilhar a dor com eles. Em segundo, para representar a Comunidade visto que o pai é de origem portuguesa. Estou aqui para dar força aos pais e pedir justiça para a menina”, contou à Lusa Manuel Cardia Lima.

O Português, que já tinha assistido ao funeral da lusodescendente de oito anos, em junho, falou, ontem, com Joachim de Araújo, pai de Maëlys, e disse-lhe que “a Comunidade portuguesa estava ao lado dele”.

Manuel Cardia Lima descreveu um ambiente “de muito silêncio” com as pessoas “muito recolhidas e com muita pena”, algumas sem conseguirem conter as lágrimas.

Entre a multidão, estava também Joana Ferreira, fisioterapeuta em Le-Pont-de-Beauvoisin, que decidiu participar na marcha para reclamar “a verdade”.

“Faz um ano hoje e achei que fazia sentido. Pelo menos, que o senhor que está preso – para não lhe chamar nomes – se dignifique a dizer a verdade para os pais poderem estar em paz”, comentou a portuguesa de 28 anos.

Oriunda de Aveiro e a viver em Le-Pont-de-Beauvoisin há três anos, Joana Ferreira assistiu, de perto, ao período que se seguiu ao desaparecimento de Maëlys. “Foi um choque para toda a gente. Ninguém acreditava que uma coisa deste género pudesse acontecer. Isto sempre foi uma vila muito pacata, nunca podia imaginar que uma coisa deste género pudesse acontecer aqui”, continuou, acrescentando que “desde o início há faixas espalhadas por todo o lado, as pessoas têm nos carros a fotografia a pedir justiça para a Maëlys, nos semáforos, por todo o lado”.

Ontem, na sua conta Facebook, a mãe de Maëlys escreveu que há um ano as suas “vidas se desmoronaram, num dia que era de festa e que se transformou em pesadelo”.

“Tínhamos ainda tanta coisa a viver, nós os quatro, mas o teu assassino decidiu de outra forma. Porquê, como uma tal crueldade: perguntas sem respostas há 12 meses”, pode ler-se na mensagem.

As cerimónias fúnebres de Maëlys aconteceram a 02 de junho, na localidade de La Tour-du-Pin, no centro-leste de França, nove meses depois do desaparecimento.

A procuradoria de Grenoble indicou, no sábado, que a justiça francesa prolongou por mais seis meses a detenção provisória de Nordahl Lelandais, formalmente acusado em três casos, incluindo na morte de Maëlys.

O antigo treinador de cães do exército, de 35 anos, está detido na prisão de Saint Quentin-Fallavier desde 10 de julho, depois de ter passado cinco meses numa unidade psiquiátrica, após a confissão do assassínio, em fevereiro.

Foi há um ano, na noite de 27 de agosto, que Maëlys de Araújo, desapareceu numa festa de casamento, em Pont-de-Beauvoisin, e, a 31 de agosto, Nordahl Lelandais foi detido para interrogatório. A 03 de setembro, o francês foi formalmente acusado de sequestro, na sequência da descoberta de restos de ADN da menina no seu carro e, em novembro, foi acusado de assassínio, devido a imagens de vigilância dessa noite que mostravam a menina no carro e, pouco depois, o mesmo carro já sem Maëlys.

A 14 de fevereiro, após a descoberta de um rasto de sangue da criança no seu carro, Nordahl Lelandais confessou que a matou “involuntariamente” e levou a polícia até ao local montanhoso onde enterrou os seus restos mortais.

A 19 de março, na audição pelos juízes de instrução do tribunal de Grenoble, Nordahl Lelandais indicou que a menina entrou no seu carro para ir ver os seus cães e atribuiu a sua morte a uma bofetada que lhe deu quando ela entrou em pânico dentro da viatura.

Apesar de quase todos os restos mortais da criança terem sido encontrados em fevereiro, as causas exatas da morte ainda estão por determinar.

Entretanto, a 29 de março, Nordahl Lelandais admitiu ter matado um militar, dado como desaparecido, em abril de 2017 e conduziu os investigadores ao local onde foram descobertos os ossos do cabo Arthur Noyer, de 23 anos.

Em julho, Nordahl Lelandais começou a ser investigado também por agressão sexual a uma prima de seis anos, que teria acontecido apenas uma semana antes da festa de casamento em que Maëlys desapareceu.

 

 

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