Home Ensino Universidade acolhe mais de 300 estudantes: Estudos portugueses e brasileiros em ClermontMarco Martins·19 Junho, 2019Ensino Daniel Rodrigues, de 43 anos, chegou a França em 2004 para fazer um doutoramento em Paris, na capital francesa, e acabou por ficar em território gaulês. Após os estudos, e concursos, acabou por chegar ao cargo de Diretor do departamento de Estudos portugueses e brasileiros na Universidade Clermont Auvergne, em Clermont-Ferrand. O Diretor, nascido no Brasil, fez-nos descobrir a sua secção e as oportunidades que podem ter os alunos que decidem apostar na língua portuguesa. O que a Universidade de Clermont propõe em termos de estudos em língua portuguesa? No departamento de Estudos portugueses e brasileiros temos duas formações: a formação LLCER – Langues, Littératures, et Civilisations Étrangères et Régionales, e a formação LEA Português/Inglês. Temos licenciatura e mestrado nas duas formações, no entanto no Mestrado na vertente LLCER, há dois percursos. O primeiro é o percurso normal para os concursos (Ensino e Pesquisa), e o segundo é de Mídia e Mediação cultural. O departamento também tem uma cátedra do Instituto Camões, a cátedra Sá de Miranda, um acordo para estimular a pesquisa nos estudos lusófonos. O que escolhem mais os estudantes no Mestrado? Há mais estudantes que escolhem a via ‘Mídia e Mediação cultural’, do que a via dos concursos porque há poucas vagas. Aliás a própria licenciatura tem uma ‘coloração’ à volta dos meios de comunicação. Temos cursos de análise dos meios de comunicação, temos cursos de rádio, de podcast, de infografia… São vertentes já trabalhadas desde a licenciatura. Que oportunidades de trabalho podem ter os estudantes? Para esse percurso, pensamos que há oportunidades nos cargos de interface cultural, quer dizer organismos culturais, organismos de tradução, onde já temos vários alunos a trabalhar nessa área por exemplo. Temos ainda alunos que trabalham em organismos franceses no Brasil. São essas as vias possíveis, quer dizer todas as interfaces entre francês e português. Quanto alunos tem o departamento? O departamento toca cerca de 320 alunos entre os especialistas e os não-especialistas. Há 80 alunos especialistas. Especialistas quer dizer que fazem uma licenciatura ou mestrado de LLCER ou LEA, enquanto os não-especialistas são aqueles que têm opção de português, nos cursos de turismo, de ciências da linguagem, estudos franco-espanhóis, artes do espetáculo, e área da edição. Como tem evoluído esse número de alunos? O total mantém-se, há uma estabilidade e a variação entre cada ano é de mais ou menos 5%. Mas se olharmos apenas para os especialistas, há um grande aumento no mestrado, enquanto na licenciatura mantém-se. A reforma da língua portuguesa em França vai ter impacto na Universidade? Temos quase a certeza que vai afetar, sobretudo na vertente LLCER, porque esses alunos já deveriam ser especialistas, terem um nível bom de português, com uma bagagem do mundo lusófono, mas com a reforma não vão ter essa bagagem e não se vão interessar pela formação LLCER. Acreditamos que vamos ter um impacto grande nessa especialidade. Como foi o seu percurso até chegar a Diretor do Departamento? Cheguei em Clermont Ferrand em 2015 e desde 2017 sou o Diretor do departamento. Posso dizer que não tive nenhuma dificuldade desde que cheguei aqui. Agora para chegar até Clermont Ferrand, foi complicado. O meu percurso é o seguinte, fiz o meu doutoramento em Paris 3, fui ATER (Attaché temporaire d’enseignement et recherche) e fiz a minha tese em Paris 3 (Tese na Sorbonne Nouvelle sobre o poeta português Herberto Helder), depois fui leitor na Universidade de Poitiers no último ano da tese. Por fim fiz um concurso e cheguei a ‘Maître de Conférence’ em Clermont-Ferrand. Foi um percurso por quase toda a França. O que podemos dizer da Universidade em Clermont-Ferrand? As condições são boas? Temos uma Universidade que fusionou. Havia Clermont 1 e Clermont 2, fusionaram e a universidade agora é Universidade Clermont Auvergne, que é uma universidade média com 35 mil estudantes, e dentro da Universidade, temos um verdadeiro poder, somos visíveis. Temos o apoio da Universidade e podemos fazer projetos interessantes. Temos de batalhar sempre porque somos ‘portugueses’, e temos sempre de lutar ao contrário de línguas como o alemão ou italiano, e isto apesar de termos mais alunos que essas línguas. O Português ensinado é o do Brasil ou o de Portugal? Os nossos alunos aprendem o português de Portugal e o português do Brasil. Por exemplo vão ter seis meses em português de Portugal e seis meses em português do Brasil. Queremos que eles sejam especialistas em língua portuguesa. Eles podem escrever na norma que querem, mas as aulas são nas duas normas. [pro_ad_display_adzone id=”25427″]