Lusa | António Pedro Santos

Opinião: Álvaro Siza e Paula Rego no Porto

De 28 de outubro a 3 de novembro. Numa semana de continuações e não de inaugurações, novas estreias, apresentações ou eventos significativos (não esquecer porém a presença de Salvador Sobral nas Bouffes du Nord dia 29!) e tendo tido oportunidade de ver, na cidade do Porto, exposições de dois mais reconhecidos criadores portugueses, sendo que um (ou uma) é mesmo artista emigrada e tendo visto tudo isto no internacionalmente mais reconhecido museu português de arte contemporânea, o Museu de Serralves, achei pertinente falar-vos disso.

Se melhor pretexto não houvesse podia ainda acrescentar que, da pintora Paula Rego e do arquiteto Álvaro Siza – pois é deles que vos falo – tivemos mais ou menos recentemente notícias a dar a partir de Paris. Assim, no início deste mês, o arquiteto esteve “sous la Coupole”, no Institut de France, para receber o Prémio de Carreira Charles Abella proferindo uma lição magistral e, no ano passado, o Museu de L’Orangerie apresentou uma exposição de Paula Rego, a primeira individual de um artista vivo naquele Museu, que é, como sabemos, central aos circuitos parisienses.

In/disciplina, separando o prefixo de negação da palavra disciplina e deixando assim indecisa a sua predominância sobre a ordem, valorizando a desobediência interior que Siza a si mesmo impõe, é o título de uma exposição vasta, ilustrada por dezenas de maquetas, desenhos de esboço, projetos, fotografias de trabalhos e fotografias pessoais, que nos revelam a originalidade, insubmissão e erudição da sua obra, que nos trazem dos seus anos de formação na Universidade até aos seus 85 anos atuais, que nos fazem viajar de Matosinhos (cidade mãe) e Porto a Lisboa, do Oriente a Nova Iorque, de casas individuais a Igrejas, de Museus (Serralves, sabemo-lo é de sua autoria) a bairros de habitação social.

Especialmente sedutora a possibilidade de podermos consultar (folheando os originais!) numerosos dos seus cadernos de trabalho onde lança ideias de arquitetura ou registos de viagens no mundo inteiro ou onde se liberta uma vez mais da disciplina desenhando livremente figuras humanas e animais. É uma exposição itinerante que gostaríamos de poder ver em França onde tem apenas uma obra (uma capela perto de Rennes).

De figuras humanas e animais, de indisciplina e insubmissão se faz também a obra de Paula Rego. Com idade próxima da de Siza Vieira, emigrada em Londres desde os anos de 1950 e artista de reconhecimento já universal. O que seguimos (expostas nos dois andares da Casa de Serralves) são as numerosas obras (pinturas e desenhos) que constituem o acervo de Serralves, sejam de coleção própria, sejam depósitos de particulares. A irrupção do inconsciente e da violência física e psicológica, a apresentação da condição individual, o questionamento dos estatutos humanos e animais, masculinos e femininos, são regidos por um delírio de incontida imaginação criativa (a exposição intitula-se, aliás, O Grito da Imaginação).

Aqui estão dois excelentes pretextos (se não houvesse tantos outros) para regressarem ao Porto até fevereiro de 2020 e visitarem o Museu, a Casa e os jardins de Serralves.

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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