“Kô & Kô”: um património intemporal da literatura infantil luso-francesa

Imaginado há quase 90 anos, em 1933, pela célebre pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) e pelo escritor francês Pierre Guéguen (1889-1965), “Kô & Kô: Les deux esquimaux” acaba de ser reeditado pelas Éditions Chandeigne.

Esta saga surrealista de dois esquimós, bem ao estilo do período de entre guerras, conduz o pequeno leitor desde as paisagens glaciais do Grande Norte às terras quentes de Port-Méridional. Uma epopeia intemporal materializada em ilustrações e texto de qualidade dificilmente igualável. Enquanto objeto, o próprio livro não lhe fica atrás e é enriquecido por um CD (para quem já desmaterializou os seus hábitos de escuta existe a possibilidade de ouvir a história online). Nesse CD encontraremos a narração da história pela atriz Maria de Medeiros, acompanhada pela música composta por Sérgio Azevedo. Um conto musical de grande qualidade, ao nível da obra literária original. É então ao som do piano de Bruno Belthoise, do clarinete de Jean-Christophe Murer e do violino de Léo Belthoise que as crianças poderão folhear o livro ao ritmo das ilustrações de Vieira da Silva e das palavras interpretadas por Maria de Medeiros.

Kô e Kô, os dois pequenos esquimós, acordam um dia no seu iglu e decidem aventurar-se pelas planícies geladas em busca do Sol. Eles encontram pinguins, ursos, focas e um pássaro de grande envergadura que, mediante um pagamento de cinquenta cêntimos, os aceita como passageiros. Sentados nas costas do pássaro, os dois aventureiros veem do alto as paisagens do norte, as suas extensões de neve sem fim, as montanhas tocando as nuvens e atingem enfim a uma região mais a Sul. Despedem-se do grande pássaro e continuam a viajem a pé – aproveitando, pelo caminho, graças à ajuda de um papagaio de papel, para salvar uma menina cativa num castelo – até chegarem ao mar que atravessam a bordo do barco Norte-Sul, desembarcando por fim em Porto-Meridional.

Na cidade cheia de cor, aproveitam para visitar o circo. Mesmo depois de adormecerem, já avançada vai a noite, Kô e Kô continuam a sua viagem, onírica desta vez. Eles agarram-se a uma estrela e, como se ela fosse um elevador, sobem até ao céu… de onde nunca regressaram.

Bem surrealista, claro, esta viagem de descoberta de mundos exóticos ficará, como já acontece há três gerações, bem gravada na memória das crianças do nosso tempo. Um livro a não perder.

 

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LusoJornal