Home Opinião Opinião: Os Portugueses e as eleições locais francesasPaulo Pisco·12 Fevereiro, 2020Opinião Nas próximas eleições locais em França, marcadas para 15 de março, haverá alguns milhares de candidatos portugueses ou de origem portuguesa e muitos candidatos franceses que farão tudo para captar o voto dos Portugueses. Estas eleições representam, assim, não apenas um momento muito significativo para pôr em evidência a importância da cidadania europeia criada com o Tratado de Maastricht em 1993, mas também um acontecimento maior para a afirmação dos Portugueses e lusodescendentes, sejam eles candidatos ou eleitores. Por si só, o direito criado com o Tratado de Maastricht de ser eleito e de poder votar tem um grande poder de transformação da situação dos cidadãos portugueses residentes em França. Em primeiro lugar, porque são chamados a dar uma opinião sobre a organização e prioridades políticas para a sua cidade; depois, porque a sua participação como eleitores ou como candidatos serve de referência para as Comunidades e ainda, porque são os próprios partidos políticos que estão interessados em ter nas suas listas representantes das Comunidades mais importantes, como é o caso da portuguesa. Mas há também outras razões relevantes, porque a repercussão da eleição dos portugueses para as Mairies, vai muito para além do exemplo de cidadania inerente às candidaturas. A eleição de Portugueses e lusodescendentes dá um poderoso contributo para reforçar os laços entre Portugal e a França e para valorizar a presença portuguesa. Deve-se assinalar, por exemplo, o extraordinário contributo que dão os eleitos portugueses ou lusodescendentes para a celebração dos nossos momentos históricos mais importantes, como o 25 de abril ou o 10 de junho, para a realização de homenagens ou de debates em torno de temas relacionados com Portugal ou a Lusofonia. Além disso, quando existem eleitos portugueses há mais possibilidades de se realizarem geminações, intercâmbios em termos económicos e culturais, promoção do turismo, reforço dos laços institucionais entre Câmaras e outras instituições em Portugal. Daí que seja igualmente importante o contributo para mudar a perceção sobre Portugal e os Portugueses e para ajudar a eliminar preconceitos. Conhecemo-nos melhor e respeitamo-nos mais. Há, assim, inúmeras razões para que cada um dê o seu maior contributo para promover o mais possível a participação nas próximas eleições municipais de 15 de março. Claro que, em França, os Portugueses suscitam um grande interesse dos candidatos dos vários partidos e formações políticas, porque constituem em muitos municípios Comunidades que podem ser decisivas nos resultados eleitorais, razão pela qual é tão importante que correspondam a esta expetativa para evitar a desilusão de sermos muitos e participarmos pouco. Com efeito, se os direitos existem devem ser utilizados, para que não se diga que os Portugueses não se interessam pela política, o que, obviamente, é negativo, porque passa uma imagem de uma Comunidade indiferente às coisas que lhes dizem respeito, como a organização de escolas e creches, emprego e formação, segurança pública, lazer e cultura, lares, urbanismo, desporto, saneamento e tantos outros assuntos. A participação política tem essa grande vantagem de permitir discutir os assuntos de interesse comum em pé de igualdade com os cidadãos dos países de acolhimento, gerando-se assim mais igualdade, o que esbate as diferenças que existem em função da origem. O facto de os Portugueses poderem votar e de participar nas listas candidatas dos partidos a nível municipal, devia levar naturalmente a uma grande mobilização da nossa Comunidade. Como se pode compreender que existam nas listas candidatos portugueses ou lusodescendentes e os próprios Portugueses não lhes darem apoio? É verdade que a França é um oásis em termos de participação, visto que nas últimas eleições municipais foram eleitos perto de 4 mil Portugueses ou lusodescendentes, num universo de cerca de 10.000 candidatos, segundo números da associação Cívica. Mas apesar destes números impressivos, o número de inscritos mononacionais ainda é insatisfatório em comparação com o número de Portugueses existentes em toda a França, mesmo que os binacionais sejam eventualmente tão ativos como os de qualquer outra Comunidade. É preciso, portanto, que os nossos compatriotas compreendam que a sua participação, além de ser fundamental para a forma como são vistos e considerados, constitui igualmente um grande benefício para toda a nossa Comunidade e ainda para o fortalecimento dos laços que ligam a França e os Franceses a Portugal e vice-versa.