Opinião: Camões em Paris e Portugueses na Paris Art Fair

Na semana em que, devido à continuação das restrições de reuniões sociais comemoramos por todo o mundo (e naturalmente em França) o Dia 10 de Junho, dia de Camões, de Portugal e das Comunidades portuguesas, da forma mais discreta possível haverá, ainda assim, em Paris, a deposição de uma coroa de flores no busto do Poeta, escultura pública situada na avenida que leva o seu nome e se situa no XVIème.

A tradição desta cerimónia foi retomada pelo Embaixador Torres Pereira o ano passado. Não teremos agora a alegria da presença da banda de metais e percussão que nos tocou o Hino Nacional mas, Victor de Oliveira, nascido moçambicano, crescido em Portugal e instalado em França como ator e encenador, lerá, em português e francês, alguns versos do poeta. Foi também ele que leu, na recente Nuit de la Litterature (on line), dia 30 de maio, algumas páginas do mais recente livro de Mia Couto traduzido em francês.

Estes tempos foram, aliás, de retoma da presença cultural portuguesa e lusófona, embora, em parte, isso tenha acontecido na esfera virtual: entre 28 e 31 de maio, teve lugar a Paris Art Fair. Deveria ter-se-realizado em início de abril, no Grand Palais, e este ano destacava a Península Ibérica procurando os polos criativos do Porto e Lisboa ou de Madrid e Barcelona.

“Estrelas do Sul” era o título ambicioso de uma mostra que teria sempre que partir do interesse e da adesão de galerias dos países convidados. A mobilização do lado espanhol não encontrou eco do lado português que apresentou apenas três galerias de Lisboa e uma do Porto. E quando tudo ficou mais barato pela opção on line desta edição era já tarde de mais…

Esta gritante ausência de todas as grandes galerias (as que fazem feiras internacionais) portuguesas dá a medida da fragilidade da feira francesa ou do desinteresse por um mercado onde os artistas portugueses penetram com dificuldade mas, também, nos dá a medida da fragilidade do mercado português, incapaz de suportar os preços elevados dos algures de espaços, alojamentos e transportes que uma presença no estrangeiro implica.

Felizmente, algumas dessas falhas foram preenchidas com obras apresentadas por galerias internacionais (especialmente francesas) que trabalham com portugueses, mas o panorama ficou frágil e incompleto até porque, mesmo no meio francês, faltaram galerias de artistas tão importantes com Helena Almeida, Paulo Nozolino, Francisco Tropa, Jorge Molder, José Pedro Croft, Julião Sarmento, José Loureiro, etc. Restaram as presenças de jovens como Manuel Tainha e Inês Zenha (Galeria Foco), dois históricos e dois jovens, Nadir Afonso e Manuel Cargaleiro, mais Susana Chasse e Nélio Saltão (Galeria S. Mamede).

As galerias francesas e internacionais apresentaram Júlio Pomar (Galerie Trigano), Joana Vasconcelos (La Patinoire Royale – galerie Valèrie Bach e Growen Contemporary), Rui Toscano e Jorge Queiroz (Galerie MPA), este último apresentado também na Galerie Obadia. Só a Galerie Jeanne Bucher/Jeagger mostrou uma representação forte e exclusiva de artistas portugueses, radicados em Portugal ou de origem portuguesa: Miguel Branco e Rui Moreira (que tem exposição individual simultânea na galeria), Michael Biberstein ou Vieira da Silva (esta, representada também noutras galerias, como as galerias A&R Feury, Bert, Berès ou Marc Domènech).

Para não nos ficarmos nas dificuldades do presente da arte portuguesa falemos da curiosidade histórica de uma peça de uma coleção portuguesa atualmente exibida em França. O Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, possuiu uma pequena e quase desconhecida joia da pintura francesa, da autoria de Géricault, um retrato de homem (Busto de Negro) que cumpre agora a sua segunda etapa em exposições francesas. Depois de ter estado, até janeiro, numa exposição que, no Museu Girodet, em Montargis, confrontava este pintor neoclássico com o romantismo de Gericault, está agora (até julho) numa exposição dedicada apenas a Gericault no Museu Denon, em Chalon-sur-Saone (exatamente ao lado de uma outra pintura da mesma dimensão e modelo) pertencente ao museu francês. É uma etapa importante no necessário diálogo entre entidades museológicas dos dois países que interessa aprofundar e alargar.

Ancorada numa lógica de mais fácil crescimento e reconhecimento que a da arte, a divulgação do cinema português, sempre tão celebrado em França, alcança, esta semana, uma importante etapa ao vermos ser exibido na arte.tv (nos 3 episódios da adaptação televisiva) o premiado filme, “A Herdade”, de Tiago Guedes.

Boas escolhas culturais e até para a semana.

 

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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