“Coffret” editado em Paris marca o centenário do nascimento de Clarice Lispector

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]

A 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia, nascia aquela que se tornaria uma das grandes escritoras brasileiras: Clarice Lispector. É então com o intuito de celebrar o centenário do nascimento da escritora (desaparecida em 1977) que a Éditions des Femmes fez chegar às livrarias um ‘coffret’ comemorativo incluindo duas das grandes obras da autora: “A Paixão segundo G.H.” (1964) e “A Hora da Estrela” (1977).

Chaya Pinkhasovna Lispector veio ao mundo na pequena cidade de Chechelnyk, que fica, hoje, perto da fronteira entre a Ucrânia e a Moldávia, numa época de grande instabilidade política e que nunca conheceu aquilo a que os europeus ocidentais chamam “período de entre guerras”.

Por esses anos, a Ucrânia, termo que significa “terra de fronteira”, viu-se, como ainda se vê hoje, entalada entre a esfera de influência da Europa Central e da Rússia, sendo apanhada na duríssima frente oriental da I Guerra Mundial, precariedade que se estendeu até ao fim da Guerra Civil russa.

Oriunda de uma família judaica e burguesa, a pequena Chaya Pinkhasovna abandonou a Ucrânia ao colo dos pais fugidos da guerra e do antissemitismo endémico. Existe a lenda negra, nunca confirmada, que Maria, a sua mãe, terá sido violada por um bando de soldados. Então, em 1922, após um périplo por grande parte da Europa de Leste, os Lispector chegaram a Hamburgo e embarcaram no navio Cuyabá. Uma viagem difícil que os levou até Maceió onde os esperavam alguns membros da família que haviam emigrado para o Brasil anos antes.

Longe dos anos de chumbo europeus e escapando ao futuro holocausto que teria certamente exterminado toda a família, os Lispector aportuguesaram os seus nomes e Chaya tornou-se Clarice.

Os primórdios brasileiros foram difíceis, mas com a mudança para a próspera cidade de Recife, a vida melhorou e Clarice nunca guardou qualquer memória desses tempos conturbados, tornando-se tão brasileira como uma outra brasileira qualquer. Estudou Direito no Rio de Janeiro e, aos poucos, foi penetrando no mundo da literatura, acabando por se tornar uma das figuras de proa do Modernismo no Brasil, esmiuçando nos seus livros, por entre muitas outras coisas, as complexidades do “ser brasileiro”.

Na edição original de a “Paixão segundo G.H.”, Clarice Lispector diz sobre esse romance que “ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada”. E, de facto, não é fácil lê-lo se não se preencher esse requisito.

G.H., uma artista saída da burguesia carioca a viver em Copacabana, entra no quarto da empregada que acaba de despedir e mata uma barata. Ora esse episódio, aparentemente banal, vai levar a uma espécie de perda de individualidade da protagonista, a uma crise existencial, que a conduzirá a uma deambulação imóvel através de uma constante demanda filosófica.

Já “A Hora da Estrela” narra a história de Macabéa, uma datilografa que troca a sua Alagoas natal pelo Rio de Janeiro. Mulher sem nada de especial, sem charme ou carisma, tem o sonho de se tornar uma celebridade, embora tudo o que a vida lhe dá seja amargura. Enfim, ela lá conhecerá o belo homem loiro que lhe está destinado, se bem que não da maneira sonhada.

Considerada uma pioneira da Literatura Feminista, Clarice Lispector mergulha na intimidade mais profunda das personagens e ofereceu à língua portuguesa e às suas literaturas uma pequena revolução.

 

[pro_ad_display_adzone id=”37509″]