Home Comunidade Em 1957, a Mairie de La Couture recusou enviar o “Cristo mutilado” para PortugalAntónio Marrucho·17 Abril, 2021Comunidade [pro_ad_display_adzone id=”46664″] A 7 de fevereiro de 1957, o Maire de La Couture informou o Conselho municipal, a pedido de Louis Lantoine, Cônsul de Portugal, que, “em nome da Nação portuguesa”, deseja que a esta seja oferecido o Cristo mutilado, sobrevivente do Cemitério de La Couture, em memória da heroica resistência dos soldados portugueses durante a ofensiva da Flandres em 1918. A Mairie recusou atender a este pedido, considerando que este Cristo “tem um valor inestimável aos olhos da população” e que não pode ser deslocado sem incorrer na reprovação dos Lacouturois. O Conselho municipal deliberou ainda que, se Portugal quiser, pode fazer uma cópia e o município dá o seu consentimento. Não houve seguimento a esta proposta. Mas afinal, qual é o verdadeiro Cristo das Trincheiras? O que nos parece, mais provável, é que terá havido diversas imagens do Cristo mutilado pelos bombardeamentos na guerra 1914-1918 no setor português, às quais poderemos chamar Cristo das Trincheiras. Já conhecíamos duas versões sobre o Cristo da Trincheiras. Ao realizarmos reportagem para o LusoJornal, no dia 9 de abril de 2021, ficamos a saber, talvez, de uma terceira versão, que se apoia na deliberação da Mairie de La Couture, de 7 de fevereiro de 1957 e que foi corroborada pelas imagens e comentários que Jean Marc Vincent fez durante a dita reportagem. Junto à Mairie de La Couture, no alinhamento da igreja, há uma fotografia, por transparência, e Jean Marc Vincent mostra ao LusoJornal as tropas portuguesas em debandada em direção à dita igreja, praticamente completamente destruída. No lado esquerdo da fotografia está uma cruz com o Cristo. Por coincidência é no local ocupado pela dita cruz, na altura, que está materializado desde 1928 o Monumento ao soldado português. Reza a história de La Couture que este Cristo (1) que estava na dita cruz, bastante danificado pelos bombardeamentos, foi solicitado por Portugal à autarquia de La Couture, a fim de ser colocado na sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha. Como o Conselho municipal recusou que o imagem seguisse para Portugal, o Cristo mutilado de La Couture foi pousado, no interior da igreja reconstruída, por um habitante da localidade, Philippe Embel, vítima civil durante a II Guerra Mundial. Foi no seguimento da recusa da localidade de La Couture, que o governo de Salazar solicitou à localidade vizinha de Neuve Chapelle, para lhe ser enviado uma outra imagem do Cristo mutilado ao qual foi dado o nome de Cristo das Trincheiras. As outras duas versões do Cristo das Trincheiras Um bombardeamento inglês de 1915 danificou o Cristo na Cruz que estava localizado num calvário em Neuve-Chapelle. Chegado a 1917, os militares portugueses recuperaram a imagem do Cristo, que estava parcialmente danificada. Apesar dos combates por vezes violentos, os soldados portugueses guardaram-na nas trincheiras e zelaram religiosamente por esta imagem, transportando-a de trincheira em trincheira quando deviam movimentar-se. Após a terrível Batalha de 9 de abril de 1918, o “Cristo das Trincheiras” permanecerá abandonado no campo de batalha. A localidade de Neuve-Chapelle só foi conquistada aos Alemães em setembro de 1918. Louis Brocquart encontrou a estátua, recuperou-a e colocou-a no seu local de origem. Após o fim da guerra, o Calvário foi reconstruído e o Cristo das Trincheiras foi colocado ao pé da nova Cruz, no cruzamento da rue Jacquet e da rue du Bois (estrada departamental 171). Ourra versão diz que no setor português da Flandres, que ficava entre as aldeias de Neuve-Chapelle e de La Couture, existia um Calvário com um Cristo pregado numa cruz de madeira que dominava a paisagem das planícies circundantes. Em 9 de abril de 1918, devido ao bombardeamento alemão, a aldeia de Neuve-Chapelle quase desapareceu do mapa. No final da batalha, Cristo ainda estava de pé, mas também estava mutilado. A batalha cortou-lhe as pernas, braço direito e uma bala atravessou-lhe o peito, mas no meio do caos, foi carregado pelos soldados que conseguiram reagrupar-se e retornar às linhas Aliadas. Nota (1) No livro de Michel Corbeille sobre La Couture podemos ler: “A 7 de fevereiro de 1957, o Maiare de La Couture informa o Conselho municipal, do pedido do Sr. Louis Lantoine, Cônsul de Portugal, que, em nome da Nação portuguesa, deseja que a esta seja oferecido o Cristo mutilado, sobrevivente do cemitério de La Couture, em memória da heroica resistência dos soldados portugueses durante a ofensiva de Flandres em 1918. A Mairie recusou-se a atender a este pedido, considerando que este Cristo tem um valor inestimável aos olhos da população e que não pode ser deslocado sem incorrer na reprovação dos Lacouturois. Se, no entanto, Portugal quisesse fazer uma cópia, o município daria o seu consentimento. Não houve seguimento para esta proposta”. [pro_ad_display_adzone id=”37510″]