Nathalia Guimarães, fotógrafa de pessoas felizes

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Fotógrafa artística independente, Nathalia Guimarães, brasileira, mora numa aldeia na Bourgogne há aproximadamente 9 anos. Nathalia Guimarães diz-se «photographe de gens heureux».

No programa “Mulheres de Negócios”, Nathalia Guimarães foi entrevistada por Sylvie das Dores e respondeu a perguntas sobre seu negócio, a sua adaptação a um novo país, e como ela concilia vida profissional e pessoal.

Pode falar um pouco de si?

Eu sou de São Paulo. Vim para França, como podem imaginar, graças ao amor. Conheci o meu marido em França há 11 anos. Ainda estava fazendo meus estudos de fotografia e a gente se conheceu numa oportunidade que eu tive de vir para França com uma amiga. É por isso que hoje eu moro em França, com família, 2 filhos.

Onde é que mora exatamente?

Aterrei em Irancy, uma pequena aldeia de 250 habitantes, no Norte da Bourgogne, a aproximadamente 20 km de Auxerre. É uma pequena localidade no meio das vinhas. Todo o mundo se conhece, é bem pequenininho. A gente veio para essa cidade porque Sebastião, o meu marido, cresceu aqui. E como ele trabalha também nas vinhas, era o lugar propício para o trabalho, e ele já conhecia várias pessoas. Eu cheguei sem conhecer nada, conhecia apenas de ter vindo passar férias algumas vezes, mas não sabia realmente o que estava para me esperar. A gente no começo acha que vai ser fácil se adaptar, mas foi bem difícil, principalmente pelo fato de não falar a língua correntemente.

A adaptação a um novo país e uma nova língua foi um dos maiores desafios que teve que enfrentar?

No princípio, quando eu cheguei a França, não falava muito bem francês, na verdade eu não falava praticamente nada. Foi um pouco mais esse aspeto que eu tive que tentar tirar como bloqueio. Não vou falar que foi simples nem rápido me adaptar. Acho que demorou no mínimo três, quatro anos, para dizer que eu realmente estava adaptada na vida em França. Até então, eu achava que tinha mais obstáculos do que benefícios, e principalmente na prática do meu trabalho. Um dos maiores desafios foi a adaptação no novo país, na nova cultura. Uma cidade do interior não é Paris, as pessoas são da campanha. Foi um processo de se adaptar e aprender também que o supermercado fecha às seis da tarde, que os restaurantes estão fechados ao meio-dia. Eu saí de uma cidade grande, São Paulo, para um desconhecido.

Qual é o curso que tirou no Brasil?

Eu fiz um bacharelado de fotografia no Senac, uma escola conhecida no Brasil. Mas antes de fazer o bacharelado de fotografia eu já trabalhava com uma fotógrafa super conhecida em São Paulo, foi praticamente com ela que eu aprendi a fazer a fotografia no estilo que eu faço hoje. Quando parti do Brasil, eu tinha acabado de terminar a faculdade, então eu já trabalhava um pouco, sendo independente profissionalmente. Só que eu ainda não tinha empresa. Foi um processo de partir do Brasil, de uma metrópole, e chegar a uma cidade pequena, tudo desconhecido, uma língua desconhecida, nova cultura, sem ter realmente uma empresa. Ainda não tinha conhecimento nenhum de que seria uma vida de empreendedora, porque o trabalho de fotógrafo é um trabalho independente. Então eu parti do zero. Tenho uma amiga que me diz “por não saber que era impossível, vai lá e faz”. Eu sempre tive esse pensamento de visualizar as coisas, que é melhor não pensar nos empecilhos, que é melhor ir errado do que não ir e se arrepender.

Qual foi o impulso para começar a empreender? Quando criou o seu negócio?

Quando eu cheguei aqui em França, eu já trabalhava com fotografia desde quase 8/9 anos, no Brasil. Eu já sabia que era a fotografia a profissão que eu gostaria de exercer. Eu pensei: “porque não tentar fazer ela em França?” É um trabalho que eu posso exercer não importa onde no mundo. Mas demorou 4/5 anos para entender como funcionava o sistema francês de empresa, que não tem nada a ver com as coisas que eu era acostumada no Brasil. Tudo é bem quadradinho, bem certinho, você cria uma empresa, paga suas taxas, paga altas taxas… Foi uma surpresa, mas depois você vê também os benefícios, quando você precisa de qualquer tipo de coisa, se você precisa de ajuda do Governo, se você precisa de remédios… Obviamente não vamos falar do sistema francês, mas é muito superior as ajudas no Brasil. Eu acho que não tem como comparar, são dois países diferentes.

No início teve apoio para iniciar o seu negócio?

Tive o apoio do meu marido. No início ele vinha comigo às sessões de fotos, ele era o meu assistente, o meu braço direito. Até o dia em que ele passou a ver que eu adquiri confiança suficiente para poder me virar sozinha, até o dia em que eu também falei para ele “agora está bom, eu posso ir sozinha”. Fui a primeira vez, e depois as próximas vezes falei “tá bom, agora as pessoas me entendem, a gente consegue interagir, consigo fazer as fotografias do jeito que eu queria, então agora você já pode ficar com um pouco de tempo livre”. Isso foi antes de ter as crianças também, agora ele fica com as crianças enquanto eu trabalho nos fins de semana.

Você é mãe de dois filhos, como consegue conciliar o trabalho e a vida pessoal?

Não consigo conciliar, é uma bagunça, mas a gente tenta. Eles ainda são muito pequenos, e a gente tem sempre imprevistos, a criança fica doente ou tem um feriado na escola ou às mil férias que eles têm durante o ano. Eu preciso também me adaptar, justamente porque o período quando trabalho é o período quando as pessoas estão disponíveis, e se eles estão disponíveis quer dizer que as minhas crianças são também disponíveis em casa. Essa é uma das partes que a gente tem mais “sofrido”, tentar se organizar e adaptar os dois: a vida de trabalho a as crianças em casa, a vida familiar. Eu tenho a vantagem de poder gerir os meus horários. Quando eu idealizava morar em França, numa casa no campo, eu também idealizava a vida familiar e queria investir realmente nela. Quando a gente decidiu ter filhos, eu gostaria de estar presente na educação deles, e participar do crescimento deles. Uma das prioridades até hoje foi realmente de adaptar o meu tempo para poder estar com eles. Agora estão crescendo, já dá para poder me focar um pouco mais no trabalho.

Suas fotografias são lindíssimas, coloridas, e no meio da natureza…

Faço fotografias de família, de casamento, tudo o que é em torno do retrato. Em França comecei a fazer também despedidas de solteira. As sessões de foto que eu mais gosto de fazer é quando a gente ri bastante, as fotografias de família… Aqui eu tenho o privilégio de não precisar de um estúdio. Eu tenho um estúdio ao lado da casa, então raramente vocês vão ver minhas fotos dentro do interior do estúdio. Normalmente, graças às paisagens que eu tenho ao redor de casa, tenho todas as possibilidades possíveis para a criação. Isso é maravilhoso.

Na sua opinião, o que é necessário para ser bem sucedida profissionalmente?

Meu trabalho é praticamente a idealização que eu sempre tive de um trabalho. Eu imaginava que poderia ter uma troca mútua entre o ser humano. Eu sempre pensei que não gostaria de estar atrás de um escritório ou num lugar onde você precisa se vestir todo dia super arrumado, e fazer jornadas de stress. Eu sempre pensei que gostaria de ter um trabalho leve e criativo, sempre gostei de fazer essa troca com as pessoas. É realmente isso que eu buscava, de poder olhar para as fotografias e sorrir atrás do computador, ou da câmara. Eu acho que consegui um momento super feliz, e depois envio as fotos para os clientes, e respondem “muito obrigada, vai ser uma memória que eu vou guardar para a vida toda”. Eu acho que isso é uma das coisas que me dá uma autossatisfação.

Conseguimos ver isso muito bem através do seu trabalho, das fotografias. Captura essas emoções, essa alegria, esses momentos felizes da vida humana. Acaba por ser o fundamental da vida, não é?

Para mim, uma das coisas importantes, são essas memórias. Se eu posso colaborar e trazer uma memória bonita ou uma lembrança que realmente vai ficar marcada na casa da pessoa, onde ela vai expor isso, ou que ela vai pegar aquele álbum de família e relembrar dos momentos, penso que é um trabalho gratificante. Eu sempre falo, eu tenho muita sorte de poder exercer a minha profissão que eu amo de paixão. Eu gostaria de poder realmente me investir, ter mais tempo. Mas é cada coisa no seu tempo.

Isso é uma das qualidades da empreendedora? Trabalhar com paixão.

Todo mundo fala: “você não cansa de ficar na frente do computador o dia inteiro?” Eu não canso, vejo e trato mais de mil imagens por dia, e não me canso de fazer isso, de fotografar e de fazer essa troca com as pessoas. É um trabalho também que exige presença física, de corpo inteiro. Todo mundo fala: “seu trabalho é muito fácil, muito simples”. Não é nada simples, é um relacionamento humano, é uma entrega realmente. Quando eu chego para fotografar, eu sou a melhor amiga da pessoa que está ali comigo, estou ali para escutar, aprender, ouvir e fazer essa troca de emoções. Eu gosto da frase de Fernando Pessoa “para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Põe tudo que és no mínimo que fazes”. Eu penso que para ser grande tem que ser inteiro. Se você hoje em dia fala que quando você vê minhas fotos você sente realmente que as pessoas passaram por um momento feliz, que te dá um sentimento de felicidade… Eu acho que é isso o sentimento de ser grande.

Ver a entrevista AQUI.

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LusoJornal