“Guide pratique antimachiste”, de Ruth Manus, um manual para desconstruir o machismoNuno Gomes Garcia·Cultura·24 Maio, 2023 [pro_ad_display_adzone id=”37509″] Ruth Manus vive, desde 2014, entre o Brasil e Portugal, e chega agora a França graças a um dos seus livros. “Guide pratique antimachiste”, editado pela Anacoana Éditions, uma editora francesa especializada em literatura brasileira, é um livro curto, prático e aplicável, que pretende ser uma introdução ao debate sobre uma das temáticas mais importantes do nosso tempo: a luta contra a opressão da mulher. Publicado em Portugal e no Brasil no ano passado pela Editora Cultura e pela Editora Sextante, respetivamente, com o título “Guia Prático antimachista”, este livro de 130 páginas, de capítulos curtos, é, segundo a editora francesa, dedicado aos homens (mas não é um livro contra os homens: “Este livro não pretende culpar ninguém”, diz a autora) mas também pode e deve ser lido pelas mulheres. É, no fundo, uma leitura orientada para quem deseja compreender melhor os tempos em que vivemos e deseja contribuir ativamente para uma sociedade mais justa. Advogava, doutorada em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e especialista em Direito do Trabalho, com enfâse no trabalho feminino, Ruth Manus é colunista no jornal português ‘Observador’ e é autora de outros oito livros, entre os quais se encontra, em coautoria com Jamil Chade, “10 histórias para tentar entender um mundo caótico”, que foi finalista do prémio Jabuti em 2021. A autora fala de “desconstrução” e de “patriarcado”, lutando contra uma certa relação de incompreensão que uma boa parte da população mantém em relação a estas temáticas e mesmo em relação a estas palavras, considerando-as ferramentas de um “discurso radicalizado” quando, na verdade, são meros utensílios científicos que visam analisar a história e as causas da discriminação da mulher que, ninguém o pode negar, é um facto evidente, um dado adquirido. Numa linguagem simples, Ruth Manus, explica que “desconstrução” significa que “precisamos remover essas peças de machismo que estão dentro da gente”. Ou seja, que todos nós, mulheres incluídas, somos vítimas, danos colaterais de um sistema que é, há milénios, dominado pelo masculino. A autora não poupa nos exemplos: “Quando vimos nossa mãe tirar a mesa enquanto nosso pai permanecia sentado, quando normalizamos o fato de quase todos os Presidentes e Primeiros-Ministros do mundo serem homens, quando vimos o jornal falando sobre a roupa da vítima de um estupro ou sobre quanto álcool ela havia consumido, quando vimos filmes em que princesas precisam ser salvas por príncipes”. Em relação ao “patriarcado”, ela salienta que o facto de vivermos numa sociedade patriarcal não é uma opinião, é, sim, um facto. “Estudos afirmam que já havia registos do patriarcado cerca de 3 mil anos antes de Cristo – e que o facto de essa estrutura já existir há tanto tempo faz com que muitas mulheres acabem cooperando com a manutenção desse sistema, já que nem questionam o lugar que devem ocupar, por serem diariamente convencidas da sua posição de inferioridade. Ou seja, ninguém “inventou” essa história de sociedade patriarcal agora.” Ruth Manus critica igualmente o chavão que se ouve frequentemente nos debates sobre feminismo: “as coisas estão melhorando”. A autora brasileira diz-se assustada quando ouve essa frase. “Esse meu medo se deve a duas coisas: a primeira é uma minimização do tamanho do problema que ainda existe e a segunda é a ideia de que as coisas melhoraram por si mesmas, naturalmente. Porque isso não é verdade”. Estamos então perante um livro simples, sem pretensões filosóficas, mas que tem nesse facto a sua principal valia. Um guia ao alcance de todas e todos e que poderá desencadear nos “não convertidos” ou naqueles que, paradoxalmente, se dizem “antifeministas” (o feminismo, diz-nos o dicionário, é a mera “luta pela igualdade entre homens e mulheres”… existe alguém que seja contra este direito universal?) a vontade de percorrer um novo caminho de autoanálise e de compreensão da mais antiga, e ainda vigente, opressão da história da humanidade. [pro_ad_display_adzone id=”46664″]