As faturas do CEP em Enquin les Mines e o Bom Humor no Corpo Expedicionário Português

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Os artigos constroem-se a partir de pesquisas, de descobertas, de surpresas que por vezes se manifestam bem mais tarde que o início da procura, procura de quê?

Vem isto a propósito de um conjunto de circunstâncias que passamos a descrever:

A partir de pesquisas efetuadas nos arquivos distritais do departamento do Pas de Calais tivemos acesso a faturas pagas pelo Corpo Expedicionário Português a estadias na aldeia de Enquin-Les-Mines (ler AQUI).

Enquin-les-Mines possuía 1.300 habitantes durante a I Guerra mundial. Perto da comuna de Saint-Omer, Enquin-les-Mines está situada na estrada que conduz a Etaples et Le Touquet.

Dezenas de membros do Corpo Expedicionário Português (CEP), oficiais, ali pernoitaram vários períodos, dezenas de faturas atestam isso mesmo, nos ditos arquivos.

Oficiais ali davam instruções antes dos soldados irem ocupar posição na primeira linha.

Numa das fotografias da altura, podemos ler como legenda: «Enquin-les-Mines, maio 1917: nos arredores da aldeia, o antigo Ministro português da guerra, na frente, seguido pelo Comandante do CEP passando em revista um Batalhão».

Muito foi dito, muito foi escrito, por soldados, mas sobretudo por oficiais do CEP, que participaram na Flandres, na I Guerra mundial. Destacamos aqui, um livro, talvez único, pelo conteúdo e pelo tema abordado: «O bom humor no CEP» escrito pelo Major Mário Afonso de Carvalho.

A I Guerra mundial foi um momento extremamente difícil, com milhões de vítimas, contudo, momentos houve, vividos essencialmente pelos oficiais, de camaradagem, de boas refeições, vivências por vezes longe da primeira linha, momentos a que o LusoJornal fez referência ao publicar artigo sobre as memórias do médico português Raul Carvalho: «Quando Raul foi à guerra» (ler AQUI). Aqui se fala sobretudo desses episódios.

O Major Mário Afonso de Carvalho, na página 53 da primeira edição do livro «O bom humor no CEP» intitula: «Rapsódia chez Mr le Maire» em Enquin-Les-Mines no dia 7 de março de 1917.

Monsieur le Maire André Prouvot ocupou o posto entre outubro de 1909 e novembro de 1919.

Da nossa pesquisa nos arquivos departamentais do Pas-de-Calais, recuperámos uma fatura na qual é feita referência a um pagamento de estadia na própria casa de André Prouvot entre os dias 7 e 13, de 24 francos, fatura provável da estadia do Major Mário Afonso de Carvalho.

Podemos ler: «Apresentados todos ao Maire e aos restantes membros da família, entreguei à Lucienne, o programa do sarau». Houve prosa, poemas, piano, fado, executado por diversos membros do CEP, convidados para o sarau. «No final do sarau seria servida uma ótima ceia, oferecida pelo Provisor do B de que constará: batatas fritas e vinho carrascao… disse-me depois o Alferes Mota, que o copo deste vinho que bebera, lhe estragara os bofes. O Maire ficou assim a ser alcunhado de ‘Miguel Estragabófe’».

O vinho não terá sido do agrado, contudo, «feitas as despedidas, saíram todos de casa do Maire, encantados com este serão improvisado, é certo, mas que nos tinha proporcionado uns momentos de agradável convívio com algumas damas da elite de Enquin-Les-Mines».

No capítulo que se segue no livro, é referido ao «espírito de André Brun», escritor talentoso que também participou na I Guerra mundial (ler AQUI) tendo convivido com o Major Mário Afonso de Carvalho.

Em 1958 o Cristo das Trincheiras ou um dos Cristos das Trincheiras (ler AQUI e AQUI) parte de Neuve Chapelle com destino ao Mosteiro da Batalha, aí está exposto e guardado na sala do Capítulo.

A 6 de março de 1918, o Major Mário Afonso de Carvalho escreve: «passavam constantemente grandes camiões conduzindo mortos e feridos que vinham das linhas. Atravesso Neuve-Chapelle. Vejo o Cristo na sua grande cruz intacta dominando o montão de ruínas da que antes da guerra fora uma pacífica e ridente povoação…».

Bem mais à frente, na página 84, o Major escreve com humor, que, a alguns pode chocar «Cristo preso: Diálogo entre dois soldados, que passavam em frente do Cristo de Neuve Chapelle: -Olha lá ó 27, porque raio está o Nosso Senhor Jesus Cristo preso na cruz? – Ora porque havia de ser? Foi-se queixar que só davam um pão para oito e prenderam-no».

Muito haveria a dizer sobre o livro do Major que teve várias edições, a segunda já bem mais completa e aumentada, em relação à primeira.

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LusoJornal