Yves Léonard vai publicar uma biografia de Salazar

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O historiador francês Yves Léonard anuncia para os próximos meses várias novidades, nomeadamente uma edição de bolso do livro “Histoire de la Nation Portugaise” (Tallandier), uma edição portuguesa da “Sous les œillets la révolution”, um livro com fotografias inéditas do 25 de abril de 1974 do brasileiro Alécio de Andrade e, finalmente, uma biografia de Salazar.

“Não é uma biografia política” explicou numa entrevista ao LusoJornal. “O momento é de fazer uma história completa do homem”.

Para Yves Léonard “é muito importante conhecer o período do Estado Novo e conhecer o homem. Não é fazer uma história revisionista, obviamente, mas é conhecer o homem, as vidas do homem, o homem político, o homem de Estado, o Ditador do Estado Novo, mas também o homem privado, o jovem Salazar em Coimbra e o pensamento de Salazar, os amores de Salazar…” explica o historiador especialista da história contemporânea de Portugal. “Salazar não é um ‘monge-ditador’, é um homem muito complexo e muito duro, com a arte de saber durar no tempo, durante 40 anos… então é importante fazer uma história completa do ditador”.

Há mais de 10 anos que Yves Léonard trabalha neste projeto. “É muito difícil porque, obviamente a propaganda só faz uma história oficial do homem, com o mito do ‘monge-ditador’, do ‘Tudo pela Nação, nada contra a Nação’. Mas a realidade é diferente, nomeadamente com a imagem do Estado Novo como um regime sem corrupção, ora isso não é verdade, o regime do Estado Novo é um regime com grande corrupção. Salazar não foi corrupto, mas o regime foi corrupto”.

Sem desvendar mais sobre o conteúdo da obra, Yves Léonard confirma ao LusoJornal que é verdade que o ditador teve “uma relação sentimental” com a jornalista francesa Christine Garnier, que escreveu o livro “Vacances avec Salazar”, publicado no verão de 1951. “Estávamos no início da Guerra Fria, e a obra é uma história muito simpática sobre o ditador português. O ditador tinha 60 anos e teve uma relação sentimental com a jornalista francesa que era uma reincarnação do espírito de Paris, da literatura francesa, do espírito francês”.

Yves Léonard descobriu Portugal há cerca de 40 anos, casou com uma Portuguesa do Porto, com quem teve 2 filhos. “Não sei exatamente porquê, mas gosto muito de Portugal, da história de Portugal, da cultura de Portugal, da abertura dos Portugueses, porque eu sou parisiense, mas o meu pai é da Bretagne e talvez haja algumas semelhanças entre Portugal e a Bretagne” disse ao LusoJornal numa entrevista feita em língua portuguesa.

A relação entre Portugal e a França, é uma “relação muito forte”, mesmo se “não se compara com a relação entre Portugal e a Inglaterra”.

“Depois da Revolução dos Cravos, as relações entre os dois países são muito fortes, acho que há uma grande paixão comum entre os dois países, até porque temos uma emigração portuguesa muito forte em França desde os anos 60”. Também a presença dos dois países na União Europeia é considerada “muito importante” para Yves Léonard, que referiu ainda a Temporada Cultural Cruzada França-Portugal em 2022.

Mas mesmo assim, o historiador considera que o conhecimento dos Franceses sobre Portugal “não é suficiente” e o turismo de massa, “com viagens de 3 ou 4 dias a Lisboa ou ao Porto”, não chega para conhecerem a história do país.

“A visão das elites portuguesas sobre o Estado Novo era muito positiva. Mas eu também acho que a visão das elites francesas sobre o Estado Novo era também boa” diz Yves Léonard. “Havia uma simpatia das elites franceses pelo regime de Salazar, nomeadamente durante os anos 30, antes da II Guerra mundial. A imagem de Salazar em França foi muito, muito positiva”.

Mas depois, com as Guerras coloniais, durante os anos 60, “as coisas mudaram” e, segundo o historiador, “a oposição em Portugal e fora de Portugal foi muito importante para ter outra imagem do regime, das prisões, da PIDE,…”.

E um contributo importante foi o da viagem de Simone de Bouvoir a Portugal no fim da II Guerra mundial, “porque o seu livro ‘Les Mandarins’, que foi Prix Goncourt em 1954, é uma descrição do Portugal dos anos da Guerra, uma história muito negativa do regime salazarista e em França muitos intelectuais passaram a opor-se ao regime de Salazar, claro”.

Yves Léonard considera que os Franceses deviam conhecer melhor o 25 de Abril e, por isso, escreveu o livro “Sous les Oeillets de la Révolution” que vai agora ter uma versão portuguesa. “É muito importante conhecer a Revolução dos Cravos. Em França não é considerada uma data muito importante, mas o 25 de Abril é uma data muito importante. Não só para os Portugueses, mas também para os Franceses e para os Europeus. É uma data muito importante para a história do século XX na Europa” considera Yves Léonard.

O historiador escreveu um texto que vai também ilustrar um novo livro que as edições Chandeigne vão editar com 60 fotografias inéditas do 25 de Abril, tiradas pelo fotógrafo brasileiro Alécio de Andrade.

O livro deve ser publicado nas próximas semanas, numa altura em que sai também em França uma versão “de bolso” da “Histoire de la Nation Portugaise”, que também vai ter uma edição em Portugal “ainda antes do fim do ano”.

Depois de ter escrito uma tese de doutoramento sobre «Salazarisme, nationalisme et idée coloniale au Portugal», Yves Leonard é professor em Sciences Po, em Paris, mas também em Poitiers, onde dá um curso sobre a história comparativa de Portugal e da Espanha desde o fim do século 19.

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LusoJornal