Patrícia Melo e Lídia Jorge na primeira seleção do Prix Femina 2023

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São trinta e três os romances que constam na lista da primeira seleção do Prix Femina 2023, dezassete dos quais de autores estrangeiros publicados em França, sendo que a língua portuguesa marca presença graças a “Celles qu’on tue” da autoria da escritora paulista Patrícia Melo (Assis, 1962) e “Misericordia” da escritora algarvia Lídia Jorge (Boliqueime, 1946).

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Autora de romances policiais, Patrícia Melo estreou-se, em 1994, com “Acqua Toffana” (que inicialmente surgiu como argumento para uma série de televisão), seguido, um ano depois, do romance “O Matador: le tueur” (Prémio Deux Océans, 1996). A violência é um tema recorrente na sua obra, nomeadamente “Inferno” (2000), um relato realista da ascensão e queda de um chefe do tráfico numa favela do Rio de Janeiro.

Editado pela Buchet-Chastel e traduzido por Élodi Dupau, “Celles qu’on tue” (publicado no Brasil com o título “Mulheres empilhadas”) trata uma das violências mais antigas da História da humanidade: o feminicídio.

Uma jovem advogada paulistana viaja para uma região coberta pela floresta amazónica para acompanhar o julgamento dos assassinos de uma mulher indígena. Uma dupla violência, na verdade: à milenar violência contra as mulheres, junta-se o longo e lento genocídio que vai exterminando os povos ameríndios da Amazónia há quinhentos anos. No norte do Brasil, a advogada descobre a beleza hipnótica da selva, mas também o seu lado mais sombrio: as injustiças e tragédias vividas diariamente pelas populações locais.

Iniciada aos rituais dos povos indígenas da Amazónia, e em particular no ayahuasca, um poderoso alucinogénio, a advogada embarca na busca de justiça, para as mulheres à sua volta e para si própria.

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O outro romance lusófono na lista do Prix Femina foi traduzido por Elisabeth Monteiro Rodrigues e publicado há menos de um mês pela Métailié. Este “Misericordia”, da multipremiada autora portuguesa Lídia Jorge, que se estreou, em 1980, com “O Dia dos Prodígios”, um romance típico do período pós-revolucionário, foi lançado em Portugal no ano passado, garantindo à escritora o Grande Prémio de Romance e Novela da APE.

Em “Misericordia”, Maria Alberta Nunes Amado, uma dos setenta residentes no Hotel Paraíso, um lar de terceira idade, onde é conhecida por Dona Alberti, decide registar, num pequeno gravador, um Olympus Note Corder DP-20, o diário de um ano da sua vida nessa instituição. A sua filha, a escritora Lídia Jorge, transcreve os textos e dá-lhes força literária, seguindo os passos desta personagem que, apesar da idade avançada, manteve a memória intacta. Vivendo num local onde a morte é banal, Maria Alberta e os outros utentes rapidamente esquecem aqueles que “partiram”, sendo estes logo substituídos por outros. Uma dialética entre morte e esquecimento que torna este romance uma leitura impactante.

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LusoJornal