TV: Curta-metragem de Joel Cartaxo Anjos sobre os seus avós estreia esta noite na France 3


O realizador português Joel Cartaxo Anjos, a residir em França há mais de 10 anos, partilha a história dos seus avós separados pela doença de Alzheimer, na curta-metragem “As nossas primaveras passadas não voltam mais”, com 14 minutos, que tem estreia marcada para esta noite de 16 para 17 de julho, às 00h30, no canal de televisão France 3.

A curta-metragem, filmada em Alverangel, uma aldeia em Tomar e lançada em 2022, relata a altura, em plena pandemia de Covid-19, quando os avós do realizador – Maria Conceição Morgado e António Cartaxos – se separam após 60 anos de casamento, com a entrada da avó num lar devido ao agravamento da sua doença de Alzheimer e como o avô, de 90 anos, tenta recuperar a memória da mulher todos os dias.

“Eu comecei a filmar para mim, quando comecei a ver as imagens, quando vi a minha avó atrás do vidro, que é a cena de entrada do filme, quando vejo o olhar dela atrás do vidro, senti que havia qualquer coisa de muito mais universal do que a minha história, do que a história dos meus avós”, disse à Lusa Joel Cartaxo Anjos, que se mudou para Paris aos 19 anos para estudar Cinema, mas que continua a passar todos os verões em Portugal.

“A minha irmã já estava em Paris e por isso foi mais fácil para mim vir estudar em França” explica Joel Cartaxo Anjos ao LusoJornal.

“Naquele ano, eu tive a sensação que, ou filmava ali ou não filmaria nunca”, afirmou o realizador, acrescentando que com este trabalho queria “contar como é que se vê a pessoa que se ama e com quem se partilhou a vida inteira a desaparecer e como é que se tenta resguardar o tempo”.

Para o cineasta português, esta é uma “história de partilha que é a história deles, dos seus avós, do amor deles”, já que é difícil não ficar comovido ao ver o avô sozinho “à frente de toda aquela horta, como se tivesse à frente dele toda a história deles, que estava a desaparecer”.

Apesar de ter nascido em Genebra, na Suíça, em 1994, o jovem realizador explica que “eu cresci grande parte da minha infância com os meus avós numa aldeia perto de Tomar e são imagens que são muito marcantes da minha infância: o meu avô a trabalhar no campo, a minha avó a cortar couves para as galinhas, são imagens que são muito fortes para mim e eu queria filmar os meus avós porque queria ter uma imagem para poder guardar como forma de arquivo”.

Em declarações ao LusoJornal, Joel Cartaxo Anjos explicou que numa primeira fase começou a filmar de longe, para passar despercebido. Eram imagens para o meu arquivo pessoal. Quando comecei a pensar que isto ia dar um filme, comecei a aproximar-me mais. Depois o meu avô foi entrando no jogo”.

Este “filme feito com nada”, apenas a câmara de Joel Cartaxo Anjos e a sua equipa. “Quando cheguei com a equipa, uma boa parte do filme estava filmado” conta ao LusoJornal.

O projeto foi “um dos três premiados em França no concurso Le Grec, uma produtora que todos os anos seleciona três candidaturas entre 600 ou 700 para financiar e produzir”.

Este ano, o filme foi nomeado na categoria de curta-metragem documental dos Prémios Sophia da Academia Portuguesa de cinema. “Os Prémios Sophia surpreenderam-me, fiquei muito feliz com a nomeação, sobretudo porque o filme não esteve em muitos festivais”, afirmou o realizador.

“As nossas primaveras passadas não voltam mais” participou no NYC Independent Film Festival (2023), no Short Film Corner / Cannes (2023), no Festival La première fois (2023), no My First Doc – Festival Premier Film Documentaire (2022), nos Etats Généraux du film documentaire (Lussas) (2022) e no Côté Court en Seine Saint Denis – Pantin (2022).

Em 2022, “As nossas primaveras passadas não voltam mais” esteve presente em festivais como Paris Côté court – Festival de curtas-metragens de Pantin em Paris e États généraux du film documentaire em Lussas, sendo posteriormente comprado pela France Television para ser transmitido na France 3, canal que “seleciona e compra à volta de 40 filmes por ano” nacionais e internacionais.

“É extraordinário, chegar a um público muito mais vasto do que aquele que podemos encontrar num festival de cinema, por exemplo, o programa de curtas-metragens no qual está integrada “As nossas primaveras passadas não voltam mais” é visto por cerca de 200 a 400 mil pessoas”, disse Joel Cartaxo Anjos, acrescentando que “chegar a este nível de audiência, é tentar chegar onde outros cineastas chegaram”.

Em declarações ao LusoJornal, Joel Cartaxo Anjos disse que mostrou o filme ao avô. “Foi o primeiro filme que o meu avô viu em toda a vida dele” ri. “E gostou, gostou de se ver”. Não mostrou o filme à avó. “O estado dela agravou-se muito” conta.

Há 11 anos a viver em Paris, e depois de um Master Profissional do Cinema na Université de Paris 1 Panthéon-Sorbonne, atualmente Joel Cartaxo Anjos está a trabalhar num projeto com o fotógrafo esloveno cego Evgen Bavcar e continua a trabalhar com a Marina Gulbahari, atriz afegã refugiada em França após ter sido ameaçada de morte pelos talibãs no Afeganistão, com quem produziu em 2019 a curta-metragem “Tão longe de Cabul”, também já divulgada pela France Télévision e que pode vir a dar uma longa metragem, na qual o realizador trabalha atualmente.

Quando não faz filmes, Joel Cartaxo Anjos é assiste de realização e trabalha com realizadores portugueses e franceses.

O filme vai ser difundido esta noite em versão original, com legendas em francês e fica durante uma semana na plataforma da France Télévision para quem não puder ver em direto.